Por Gabriel Chiappini
Regiões do interior de São Paulo, Mato Grosso do Sul e algumas áreas do Paraná com forte presença da cadeia produtiva de biocombustíveis coincidem com as áreas com maior potencial para captura e armazenamento de carbono (CCS) em reservatórios salinos no país, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A EPE publicou, nesta terça (25/6), um fact sheet com informações sobre os reservatórios salinos e o potencial para o CCS no Brasil.
“O grande potencial que temos nas áreas onde vemos crescimento de biocombustíveis é justamente o potencial de estocagem associado aos reservatórios salinos”, afirma Heloisa Borges, diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE.
Heloisa observa que é preciso avançar nos estudos de locais para estocar o CO2, destacando que o mundo precisa capturar 435 milhões de toneladas até 2030 e mais de 1 gigatonelada por ano até 2050, para alcançar as metas do Acordo de Paris.
Em abril, a EPE apresentou estudo demonstrando que o Brasil poderia receber investimentos anuais da ordem de R$ 2 bilhões até 2050, em projetos de captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS).
Uma das principais fronteiras para a tecnologia climática, na visão da diretora da EPE, é a captura do carbono biogênico, conhecido como BECCS (bioenergia com CCS), associada à produção de biocombustíveis.
“Quando capturamos o CO2 gerado no processo da produção de biocombustíveis e bioenergia, temos um resultado negativo em termos de emissões, e esse debate é importante para a estratégia brasileira de contar não só com a captura de carbono, mas com a captura e estocagem de carbono associada à bioenergia”.
O Brasil tem alto potencial para implantação de BECCS na produção de etanol a partir de cana-de-açúcar e milho, pois esses processos geram fluxos de CO2 de alta pureza.
Por aqui, a produtora de etanol de milho FS está investindo R$ 350 milhões em um sistema para capturar, comprimir e transportar o CO2 emitido pela fábrica de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, até um local de armazenamento subterrâneo, na Bacia dos Parecis.
Parecis é destacada no documento da EPE como um dos casos mais avançados de análise para o armazenamento de CO2 em reservatórios salinos.
Esta bacia engloba uma área de 500 mil km² nos estados de Rondônia e Mato Grosso e está sendo investigada para a implementação de sistemas BECCS, com dois projetos em estudo.
Falta informação
Para Nathalia Weber, fundadora da CCS Brasil, os desafios na implementação de CCS em reservatórios salinos estão muito mais associados ao conhecimento do subsolo e é possível superá-los.
“Os desafios são razoáveis e vencíveis. Não é uma novidade brasileira. Os desafios técnicos para CCS em reservatórios salinos não são impossíveis e não tão distantes de vencermos. Estão muito relacionados à nossa capacidade de conhecimento do nosso subsolo”, diz.
Ela aponta que hoje, o maior conhecimento sobre o potencial de CCS está em reservatórios de óleo e gás depletados. Já os reservatórios salinos, distantes geograficamente desses campos de petróleo, se apresentam como estratégicos para o Brasil explorar oportunidades no interior do seu território, unindo bioenergia e captura de carbono.
Outra área indicada como potencial armazenadora de carbono é a Bacia do Paraná, que abrange boa parte do Sul e Centro-Oeste do Brasil.
Oderson de Souza Filho, pesquisador do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), explica que as informações obtidas do subsolo da região são majoritariamente provenientes da exploração de óleo e gás, mas que as pesquisas foram deslocadas para as áreas offshore. Isso fez com que reservatórios salinos tenham seu potencial ainda desconhecido.
Caso norueguês
O maior empreendimento de CCS em desenvolvimento no mundo utiliza exclusivamente reservatórios salinos, conta Raquel Filgueiras, representante da Norway Innovation. Na Noruega, o projeto Northern Lights pretende bombear o carbono capturado por dutos para armazenagem sob o Mar do Norte.
É parte do compromisso da Noruega com a redução de emissões para cumprir a meta do Acordo de Paris e envolve também uma série de empresas privadas grande poluidoras.
“O que estamos vendo em termos de Northern Lights e próximas licenças são reservatórios salinos”, afirma Raquel.
Nathália de Castro, analista de pesquisa na EPE, complementa observando que os reservatórios salinos têm abrangência global, podendo ser identificados em muito mais regiões do que apenas nas bacias sedimentares com potencial para hidrocarbonetos.
Mas, por enquanto, os investimentos ainda estão concentrados na Europa e a América do Norte, com destaque para os Estados Unidos, onde, até 2023, estavam mais de 75% dos projetos em armazenamento geológico de carbono em reservatórios salinos.
Fonte: EPBR