Por Camila Souza Ramos
O prolongamento da seca no Centro-Sul deve afetar a colheita e a moagem de cana, mas não tende a abalar a hegemonia do Brasil no mercado internacional de açúcar. Nas estimativas das consultorias, o país deve exportar nesta temporada 2024/25 um volume próximo ao da safra passada, já que outros países exportadores devem permanecer com baixa participação.
Na projeção da Datagro, o Brasil deve exportar nesta safra 34,28 milhões de toneladas de açúcar, uma redução de cerca de 1 milhão de toneladas em relação à temporada passada, quando os embarques chegaram a 35,25 milhões de toneladas. Apesar da diminuição, deve ser o segundo maior volume de exportação da história.
“Acreditamos que o Brasil, em açúcar bruto, está com a responsabilidade de abastecer o mercado mundial no momento”, diz Plinio Nastari, presidente da Datagro.
Seus principais competidores — Índia e Tailândia — não devem ter grande participação no mercado. A Índia não terá exportações líquidas, acredita. Para ele, as usinas vão seguir o plano do governo local de elevar a fatia do etanol na gasolina para até 20%. Agora, o preço do etanol na Índia remunera mais que o açúcar para exportação.
A Tailândia, por sua vez, está passando por uma recuperação da colheita de cana, mas ainda distante de seus patamares históricos. Embora os prêmios para exportação de açúcar estejam remuneradores, com 200 pontos sobre os contratos de açúcar demerara na bolsa de Nova York, a Datagro estima que o país deve elevar suas exportações nesta safra em 2 milhões de toneladas, para 7,2 milhões de toneladas — distante do Brasil.
No México, uma seca afetou a safra de cana. Isso retirou o país do mercado internacional, e parte do atendimento da cota americana de importação que seria fornecida pelo México será coberta por outros mercados, inclusive o Brasil.
Mauricio Muruci, analista da Safras&Mercado, observa que a maior parte das exportações brasileiras deste ano já está contratada, já que boa parte teve os preços travados no ano passado. “Para este ano, 85% a 90% das usinas travaram [os preços de exportação] entre o 3º e o 4º trimestres [de 2023]. Já 15% das usinas que faltaram travaram em janeiro e fevereiro”, diz.
A consultoria estima, para o ano civil 2024, que as exportações brasileiras vão até crescer em relação a 2023, para 33 milhões de toneladas, ante 32,5 milhões de toneladas no ano passado.
No segundo semestre do ano passado, os preços do açúcar estavam mais elevados, entre 24 centavos de dólar a 26 centavos de dólar a libra-peso. Neste ano, os preços caíram, e atualmente os contratos futuros estão na faixa dos 19 centavos de dólar a libra-peso.
A parcela não travada de açúcar vai, portanto, ser exportada por preços menores, mas parcialmente compensados por prêmios elevados e um câmbio mais favorável. Segundo a Datagro, os prêmios sobre a exportação de açúcar bruto posto no porto de Santos estão em 25 pontos a 35 pontos sobre os valores dos contratos em Nova York. Nastari observa que, nesta época do ano, os embarques imediatos de açúcar costumam ter desconto devido à alta oferta local, e não prêmio.
O que sustenta o movimento é a demanda global firme. Nesta semana, a Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês) elevou sua estimativa de déficit de oferta no ciclo 2023/24 (iniciado em outubro) de pouco menos de 700 mil toneladas para 2,9 milhões de toneladas.
Fonte: Globo Rural