
que aceita gasolina e etanol foi lançado em 2003
Foto 04/05/1975/ Agência O Globo
Maurilio Biagi Filho*
Em 2025, o Brasil celebra os 50 anos do Proálcool, o maior e mais duradouro programa de energia renovável do mundo, que deu protagonismo ao etanol, produto ainda essencial e promissor.
Mas para entender melhor a sua importância é fundamental conhecer o contexto em que foi criado e porque energia, diferentemente do que traz o dicionário, é sinônimo de poder. Ao contrário do que se pensa, o programa teve origem não no setor sucroalcooleiro, mas sim no segmento de petróleo.
Em 1973, a Associgás (Associação das Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo), liderada pelo engenheiro Lamartine Navarro, realizou estudos sobre fontes alternativas de energia a pedido do governo da época já que os preços do petróleo haviam estourado e o combustível faltava no mercado mundial, em uma das maiores crises petrolíferas já existentes, conhecida como primeiro oil Shock (choque do petróleo).
Essa crise teve início quando os membros da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP), que compreende os membros árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), além de Egito e Síria, proclamaram um embargo petrolífero a vários países do mundo, ocasionando racionamento de combustível.
Depois de diversas altas menores no início da década, o preço do petróleo subiu de 3 dólares por barril para até 12 dólares no mercado mundial em 1973.
Esse fato contribuiu de forma significativa para o fortalecimento da OPEP e o enriquecimento dos árabes, que fizeram a grande virada deles contra o domínio das chamadas sete irmãs (maiores petroleiras do mundo) e a exploração do setor, fazendo com que o eixo econômico do mundo se deslocasse para o Oriente Médio.
Foi nesse cenário que o trabalho da Associgás foi concluído e resultou no relatório “Fotossíntese como Fonte de Energia”, entregue ao presidente Geisel em 1974, que serviu de base para o lançamento oficial do Proálcool em 1975, uma solução brasileira para a crise mundial.
O Contexto da Criação do Proálcool
Acompanhei de perto esse processo todo porque meu pai, Maurílio Biagi, era um dos integrantes de um grupo de usineiros e fabricantes de equipamentos, responsável por contribuir com esses estudos e por entregá-lo ao Governo.
Posso dizer, de cátedra, que o sucesso inicial do programa teve diversos fatores impulsionadores, mas dois foram fundamentais e merecem destaque. Uma iniciativa que garantiu a paridade do valor econômico dos preços do açúcar e do álcool (de forma que produzir um litro de álcool ou de um quilo de açúcar dava na mesma), viabilizando a questão econômica do Proálcool e fazendo com que o biocombustível deixasse de ser subproduto.
Outro, em 1978, o lançamento, pela Fiat, do primeiro carro movido exclusivamente a álcool, fortalecendo ainda mais a iniciativa. Lembrando que, nessa época, a CBT de São Carlos também passou a montar tratores com motores movidos a álcool produzidos pela Chrysler, que, por coincidência, já fabricava os mesmos motores que equipavam caminhões movidos a este mesmo combustível.
No início do Proálcool, o Brasil produzia 555,6 milhões de litros de álcool e até final da década de 1970, a produção já alcançava quase 4 bilhões de litros, ajudando o Brasil a mitigar os impactos da crise do petróleo.
Desde o início, me voluntariei com muitos outros no fortalecimento desse programa. Fizemos uma verdadeira cruzada pelo Brasil para mostrar suas vantagens. Pela primeira vez presenciei neste país uma união em torno de um propósito, com um sentimento de patriotismo e brasilidade surpreendentes.
Os agricultores foram aderindo ao programa, montando destilarias e investindo na produção. Até 1989, mesmo com a precariedade dos motores movidos à álcool, eles representavam 98,6% dos veículos vendidos no Brasil, tamanho sentimento de pertencimento e envolvimento a essa causa criado entre os brasileiros.
*Empresário do setor sucroenergético brasileiro.
Fonte: Jornal Cana