Yara vai quadruplicar fertilizantes de baixo carbono em 2026 e ampliar oferta para novas culturas

Foto: Canva

A Yara definiu para 2026 uma meta ambiciosa do seu portfólio climático no Brasil: quadruplicar o volume de fertilizantes de baixo carbono em relação a 2025.

A decisão vem após os primeiros pilotos mostrarem desempenho técnico e comercial acima do esperado, especialmente no café.

O presidente da empresa no Brasil, Marcelo Altieri, confirmou que a estratégia já está em execução, durante evento em São Paulo nesta segunda-feira (1º).

“Os pilotos ainda são pilotos, mas já vai crescer quatro vezes”, afirmou Altieri, reforçando que a empresa está desenvolvendo “modelos de negócios melhores onde se compartilham mais o valor com o agricultor e que o agricultor seja recompensado pelas boas práticas agrícolas que ele faz”.

A empresa, porém, não divulgou o volume atual nem o esperado após a expansão

Segundo ele, o avanço vem acompanhado da construção de um novo modelo de negócios, no qual parte do valor gerado pela descarbonização volta diretamente para o produtor.

“Queremos que o agricultor seja recompensado pelas boas práticas agrícolas que ele faz”, revela.

Novas culturas entram no radar: citros, cacau, batata, cevada e milho

A expansão do portfólio incluirá citros, cacau, batata, cevada e milho, além da cana-de-açúcar — que ganhará tração com a atualização da RenovaCalc, ferramenta que deve passar a reconhecer a origem do fertilizante no cálculo da pegada de carbono.

Além do café, com parceria com Cooxupé, Cocacer e JDE Peet’s, dois projetos já avançam de forma consistente:

Batata, em parceria com a PepsiCo, com redução entre 40% e 66% da pegada de carbono;
Cacau, com a Barry Callebaut, combinando aumento de produtividade com menor emissão.
O vice-presidente de Agronomia e Marketing, Guilherme Schmitz, reforçou a importância da mudança regulatória.

“A versão atual da Renovacalc não diferencia o fertilizante pela origem. Um quilo de nitrogênio produzido na China emite 10 kg de CO₂eq, na Rússia 7,5 kg. Um Yarabela ou Yaramila emite 3,5 kg de CO₂eq.”

A expectativa é que a nova versão entre em vigor em 2026, ampliando a geração de CBIOs pelas usinas que utilizam fertilizantes de menor intensidade de carbono.

Projeto piloto do café vira vitrine global da descarbonização

No café, a Yara consolidou o primeiro grande piloto de descarbonização. Em parceria com Cooxupé e Cocacer, a empresa reduziu em 40% a pegada de carbono da produção, com ganhos de qualidade e rastreabilidade.

“Implementamos projetos com três empresas de alimento neste ano. O café tem muito potencial e a tendência é ampliar esse trabalho”, disse Schmitz, descrevendo o potencial da cultura.

A demanda internacional, especialmente de Europa e Japão, também pressiona a cadeia por produtos de menor pegada climática, reforçando o apelo comercial do projeto.

Mercado aquecido após super safra reforça demanda por nutrientes

A supersafra brasileira continua sendo um vetor decisivo para o mercado de fertilizantes. Altieri destacou o impacto do volume recorde:

“O Brasil produz 338 milhões de toneladas de grãos. Isso gera muita extração de nutrientes no solo e requer uma reposição pelo que foi feito.”

O consumo cresceu entre 3% e 4% na comparação com 2024.

Além do aumento natural da reposição de nitrogênio após a safra recorde, o mercado também desacelerou ao longo do ano devido à postergação de compras, à redução das aplicações em regiões afetadas pelo clima — especialmente no Sul — e à rentabilidade mais apertada para os produtores de grãos.

Para 2026, a companhia projeta um mercado entre 48 e 48,5 milhões de toneladas, com avanço puxado por café, hortifrútis e cana-de-açúcar, enquanto o segmento de grãos deve seguir estável.

O executivo afirmou que o crescimento virá do aumento de produtividade. “A tendência é se manter através de não crescer mais área, mas sim crescer mais produtividade.”

Ele também citou o avanço dos bioinsumos. “Nos últimos dez anos cresceram 60%. Nos últimos anos, o crescimento tem sido de dois dígitos, trazendo mais resultado, mais rendimento e mais qualidade para os agricultores.”

Modelos de negócio querem devolver valor ao produtor

Além de tecnologia, a empresa aposta em mecanismos que retornem valor ao agricultor. Altieri citou a necessidade de reconhecimento econômico.

“Queremos que o agricultor seja recompensado pelas boas práticas agrícolas que ele faz.”

Schmitz reforçou que as tecnologias trazem retornos significativos. “Temos produtos que conseguem trazer 100% de retorno de investimento, 200% em alguns casos. Temos rentabilidades da ordem de 10%, 20%, 30% em algumas culturas.”

Segundo Altieri a consolidação da nova lógica de remuneração exige tempo. “Desenvolver esses modelos toma tempo, mas acreditamos que é o caminho certo.”

Brasil deve representar mais de 50% da margem global de biológicos até 2030

O Brasil deve assumir o papel central na estratégia global de bioinsumos da empresa. Altieri afirmou que o país tende a representar mais de 50% da margem global de biológicos até 2030.

“Estamos concluindo um investimento na Inglaterra de 200 milhões de dólares. No Brasil, nos últimos três anos investimos 21 milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento e na nossa fábrica de Sumaré”, afirmou.

O portfólio segue em expansão. “Já temos 10 produtos e 30 produtos mais que vêm em caminho.”

Investimentos em fábricas e energia renovável avançam

A companhia segue ajustando suas unidades para operar com menor impacto ambiental.

“Já fizemos investimentos e as fábricas estão preparadas para receber energia renovável. Em Cubatão, a fábrica está pronta para receber biometano”, destacou Altieri.

A planta de Sumaré cresceu 60% em seis anos, e a unidade de Rio Grande atingiu 2,7 milhões de toneladas entre produção e importação.

No exterior, a empresa participa do projeto Northern Lights, que transporta CO₂ liquefeito da Holanda para armazenamento permanente na Noruega, reduzindo emissões da produção de amônia. Parceria com Petrobras mira redução da dependência de importados

Altieri classificou como positiva a parceria com a Petrobras para reforçar a produção nacional de fertilizantes:

“85% dos fertilizantes hoje são importados no Brasil. Conseguir produzir aqui é uma notícia muito boa.”

O objetivo é substituir parte das importações por produção local e reduzir vulnerabilidades do país.

Agricultura regenerativa como estratégia de país

A Yara aposta na agricultura regenerativa como caminho para ganhos ambientais e econômicos.

“Regenerar é deixar os sistemas melhores”, resume Altieri.

Segundo ele, isso inclui melhorias na saúde do solo, na biodiversidade, na atividade microbiana e na estrutura física e química.

O executivo destacou o papel do agricultor no processo. “Quem cuida do solo é o agricultor. É uma das profissões menos reconhecidas e que deveria ser mais referenciada.”

O que a COP mostrou e por que o agro virou protagonista climático

A empresa avalia que a última COP reforçou o protagonismo do agro na agenda climática.

“Ter uma COP com uma justificação muito forte ao agro ajudou a trazer o papel de protagonismo do setor”, apontou Schmitz.

Segundo ele, “a agenda da COP traz que o agro pode contribuir para a descarbonização.” “Ele tem um papel forte na descarbonização dos produtos agrícolas.”

Mensagem da Yara ao produtor: conhecimento é o caminho da resiliência

O recado final foi direto. “Os altos e baixos vão acontecer. O ponto é como ele está resiliente a isso — e isso se dá com conhecimento. Conhecimento de gestão financeira, de gestão agronômica e de uso de tecnologias. No conhecimento está o retorno financeiro”, ”, reiterou Schmitz.

Os executivos reconheceram que o cenário segue desafiador.

“É um ano com desafios: crédito mais restrito, recuperações judiciais expressivas, taxa de juros mais elevada. O custo de financiamento para arroubar uma hectare de terra para soja e milho é praticamente o mesmo de rentar uma terra de soja e milho”, concluiu Guilherme Schmitz.

Segundo Marcelo Altieri, o clima também pesa.

“O Rio Grande do Sul foi super afetado nas últimas quatro safras: três de seca, uma de enchente. Agora, com um fenômeno da La Niña implementado, não nos avizinha algo muito bom.”

Apesar disso, o presidente mantém otimismo:

“Somos positivos com o desenvolvimento e com a contribuição da agricultura para mitigar a mudança climática.”

Fonte: AgroFy