Luiz Henrique Mendes
A Simpar, holding da família Simões que controla companhias listadas como Vamos, Movida e JSL, acaba de anunciar uma reorganização societária que vai criar a maior rede de concessionárias de carros e máquinas agrícolas do País, uma gigante de R$ 12,7 bilhões de faturamento que já nascerá listada na B3.
A nova empesa será criada a partida da cisão do negócio de concessionárias de máquinas e equipamentos da Vamos, uma operação que fatura R$ 3,2 bilhões e detém a maior rede de concessionárias das marcas Fendt e Valtra — da AGCO —, além da marca francesa (de empilhadeiras e plataformas) e de maior operação de concessionárias de caminhões e ônibus Volkswagem.
Com a transação, a Vamos vai se concentrar exclusivamente no aluguel de caminhões, máquinas e equipamentos, deixando de atuar nas vendas no varejo.
O foco na operação de aluguel é uma forma de atender aos investidores, que vinham provocando o grupo para uma simplificação do gênero, concentrando a atuação negócio mais rentável da companhia — o aluguel é responsável por mais de 90% da geração de caixa da Vamos.
Os dados da Vamos, aliás, não deixam mentir. A margem do negócio de concessionárias é apertada pelas características do varejo, da ordem de 3,5%, enquanto a operação de aluguel de caminhões e equipamentos faz uma margem Ebitda parruda, de 72%.
Os passos da transação
Na primeira etapa, os acionistas da Vamos e da companhia que ficará com as concessionárias serão os mesmos, sem qualquer diluição. A segunda etapa ocorrerá com a aquisição da Automob, rede de concessionárias de carros que pertence à Simpar, pela Vamos Concessionárias.
A Vamos Concessionárias vai fazer a aquisição da Automob pagando parte em dinheiro e parte em ações. A Simpar vai receber cerca de R$ 1 bilhão por 35,49% da Automob, o que vai ajudar a holding em seu processo de redução do endividamento. A Vamos Concessionárias já conta com o firme de um banco brasileiro para financiar a M&A.
Ao fim do processo, a nova companhia permanecerá sob o controle da Simpar (64,12%). Os acionistas minoritários da Vamos terão 21,39% e os minoritários da Automob, 14,49%. A rede de concessionárias nascerá com uma alavancagem de 3,9 vezes, considerando a dívida líquida e o financiamento de R$ 1 bilhão.
Pela relevância do negócio de automóveis na composição do novo negócio, a Vamos Concessionárias passará a se chamar Automob, reunindo debaixo de si os ativos de concessionárias de carros, máquinas agrícolas, caminhões e equipamentos. O ticker na B3 ainda não está definido, mas AUTO3 viria bem a calhar…
A Automob será comandada por Antônio Barreto, executivo que ajudou a construir a rede de concessionárias dentro da Simpar, liderando a área de M&A. Desde 2021, a Automab fez pelo menos sete aquisições, ampliando o número de lojas de 14 para 120 e o faturamento de apenas R$ 700 milhões para R$ 9,5 bilhões. A margem Ebitda é da ordem de 3,5%.
Nesse processo, a Automob mostrou as concessionárias adquiridas se beneficiaram do ecossistema, com um custo de capital mais baixo que permite crescer nas vendas de automóveis usados. Sob o controle da Simpar, as concessionárias vendem, em média, 1,3 carro usado para cada novo comercializado. Antes disso, o índice era de apenas 0,25.
No mercado agrícola, a Automob também pode ser um veículo para o processo de consolidação de concessionárias, um movimento que está apenas no início e que, em temos de vendas mais fracas como os atuais, pode se fortalecer.
Listada na B3, a nova companhia terá as próprias ações como uma moeda para fazer aquisições, além do acesso a instrumentos de dívida do mercado de capitais — companhia de concessionárias de máquinas agrícolas podem emitir CRAs, como mostra uma transação recente da SLC Máquinas.
A Simpar foi pioneira na tese de consolidação de concessionárias no Brasil, montando um grupo que pode se beneficiar da escala e melhor custo de dívida, ganhando sinergias em áreas como a venda de peças e os serviços de manutenção.
A criação de um player gigante de concessionárias no Brasil guarda inspiração nos Estados Unidos, com Carmax e Carvana. Listadas na bolsa de Nova York, as companhias estão avaliadas em R$ 11,9 bilhões e US$ 35,8 bilhões, respectivamente.
A expectativa é que a transação que vai levar a Automob à B3 seja concluída até o fim de novembro. O Morgan Stanley é o assessor financeiro da Simpar na transação. A Vamos trabalha com o BTG Pactual. Listada na B3, a Simpar está avaliada em R$ 4,6 bilhões e a Vamos em R$ 7,2 bilhões.
Fonte: The AgriBiz