Por Fernando Heredia
A indústria açucareira argentina está começando a seguir o modelo brasileiro, com o objetivo de se tornar uma das economias mais importantes do país, baseada na diversificação produtiva no setor energético. No final de setembro, os produtores esperavam o anúncio de uma nova variedade de cana-de-açúcar transgênica que vem sendo desenvolvida há cerca de 10 anos. Esta nova variedade permitiria o cultivo em regiões com menos chuvas.
“Estamos a um passo disso. Acreditamos que em até um mês ou 60 dias já teremos essa variedade. Ela é resistente ao glifosato e à seca, e também assinamos acordos com o Brasil para ter uma cana resistente à geada e à praga Diatraea”, afirma Jorge Rocchia Ferro, presidente da Companhia Açucareira Los Balcanes, uma das maiores do setor.
O empresário acredita que, com essa nova tecnologia, a área agrícola pode ser mais que dobrada, trazendo um aporte de cerca de US$ 2 bilhões (R$ 11 bilhões na cotação atual) para Tucumán, onde está a sede da Los Balcanes. “O Brasil planejou essas questões e hoje são os maiores produtores do mundo. Precisamos buscar esse modelo. Do ano passado para cá, incorporamos 20 mil hectares e podemos adicionar mais 10 mil por ano.”
Outro pilar desse plano é ampliar a diversificação dos usos da cana-de-açúcar, de modo a reduzir a dependência do consumo alimentício, que muitas vezes pressiona os preços para baixo em função da oferta excessiva do produto. Um dos principais focos dessa estratégia é a produção de bioetanol, que é misturado à gasolina em uma proporção de 6% para o bioetanol de cana e 6% para o de milho.
Embora esse biocombustível esteja presente no mercado argentino há muitos anos, a última década foi marcada por diversas crises causadas pelas mudanças constantes nas regras estabelecidas pelos diferentes governos. “Hoje, temos uma lei que define uma fórmula polinômica que não está sendo cumprida. Pagam-nos cerca de 657 pesos por litro, quando deveria ser mais de 900 pesos”, afirma o principal produtor de cana do país.
De acordo com o setor, esses preços não cobrem os custos mínimos, e por isso, eles pedem um aumento para, no mínimo, 720 pesos por litro, o que seria o valor de paridade de importação. Esse número, conforme destaca o setor, seria o resultado do projeto de Lei de Biocombustíveis que está sendo discutido pelas províncias produtoras e que se espera aprovar no Congresso ainda este ano.
A nova legislação reduziria o poder da Secretaria de Energia para definir preços, que passariam a ser determinados por licitações entre os atores da cadeia produtiva. Além disso, aumentaria progressivamente o percentual de mistura de bioetanol e permitiria a entrada de novos atores, como as petrolíferas, quando os preços atingissem determinado valor. “Esperamos chegar a um consenso sobre essa nova lei, para trazer equilíbrio às províncias produtoras. Queremos regras claras e que todos possam competir de maneira justa”, disse o governador de Tucumán, Osvaldo Jaldo, em entrevista à Forbes.
Além da produção de açúcar branco destinada ao mercado interno, e do açúcar bruto exportado, a indústria açucareira argentina está desenvolvendo novas atividades, como o uso de resíduos do processo produtivo para gerar energia elétrica renovável. Recentemente, foi inaugurado o quarto projeto de cogeração com biomassa a partir do bagaço da cana-de-açúcar no país. Após a extração do suco da cana, a fibra seca é moída, triturada e transportada para caldeiras, onde é incinerada.
O calor gerado produz vapor que alimenta dois turbogeradores, responsáveis por gerar cerca de 20 MW de energia elétrica. Essa quantidade é suficiente para abastecer a planta industrial e o excedente é injetado no sistema interligado nacional, equivalente ao consumo de 17 mil famílias. “Tudo o que fizermos para gerar mais receita será rapidamente copiado pelo setor. A Ledesma já está com um projeto semelhante, e Tabacal e Concepción também”, diz o presidente da Los Balcanes.
Fonte: Forbes Agro