USDA: O Brasil produz, a Índia consume

Foto: Freepik

Por Arnaldo Luiz Corrêa*

A semana foi relativamente calma em razão dos feriados americano na segunda-feira e brasileiro na quinta. Ainda assim, com volume diário médio de 100,000 contratos negociados (a média do ano é de 134,000 contratos) o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento jul-24 cotado a 18.32 centavos de dólar por libra-peso, 13 pontos abaixo do fechamento da semana passada, representando uma retração de 3 dólares por tonelada. Os demais meses de vencimento fecharam com baixa média de 10 pontos equivalentes a um desconto de 2.50 dólares por tonelada.

Os fundos reduziram a posição vendida para 81,479 lotes, recomprando 3,321 lotes. Semana curta, sem sobressaltos.

O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou seu relatório de oferta e demanda mundial. A agência estima uma produção global para safra 24/25 de 186 milhões de toneladas, superior em 2.5 milhões de toneladas ao período anterior. Na liderança da produção está o Brasil com 44 milhões de toneladas, seguido da Índia com 34.5 milhões de toneladas (número que 99 entre 100 indianos vão contestar). A União Europeia vem em seguida com produção estimada de 15 milhões, Tailândia com 10.2 milhões de toneladas, um acréscimo de 1.4 milhão de toneladas em relação à safra anterior, mas muito longe do seu recorde de 14.7 milhões de toneladas na safra 2017/18. China, EUA e Austrália praticamente produzem o mesmo volume há cinco anos, 10, 8.5 e 4.2 milhões de toneladas, respectivamente. Sem surpresas por ali.

Em termos de produção global de açúcar, Brasil, Índia e Tailândia respondem por 50% nesse quesito, mas, quando olhamos as exportações de açúcar para o mercado livre os três países abocanham uma fatia de 75%. O mundo depende desses três produtores.

A produção mundial tem acelerado seu crescimento. Olhando o período de 10 anos, que vai da 15/16 até a 24/25, a produção cresceu 0.45% ao ano; no entanto, apenas nos últimos cinco anos, esse desempenho foi de 0.88% ao ano. Em números absolutos, a variação na produção de açúcar nesse período foi de 7.9 milhões de toneladas, das quais 5.7 milhões de toneladas são do Brasil.

O consumo mundial, ainda segundo o USDA, deve atingir 178.8 milhões de toneladas de açúcar, pouco menos de 500 mil toneladas por dia. A Índia é o grande consumidor com 32 milhões de toneladas seguida de longe pela União Europeia com estagnados 16.8 milhões de toneladas há oito safras, China com 15.7 milhões de toneladas, Estados Unidos nos mesmos 11.2 milhões de toneladas há seis safras e Brasil, cujo consumo per capita continua despencando, com 9.5 milhões de toneladas.

No período de 10 anos, o consumo mundial cresceu 0.62% ao ano (pouco acima da produção); no entanto, nos últimos cinco anos, o consumo cresceu de 0.84% ao ano, em linha com o crescimento da produção. Em números absolutos, a variação no consumo de açúcar nesse período de cinco anos foi de 7 milhões de toneladas, das quais 5 milhões de toneladas são do Índia. O resumo desses cinco anos poderia ser definido numa frase: o Brasil produz e a Índia consome.

A diferença entre produção e consumo de açúcar nos últimos cinco anos mostra um superávit que já bateu 9 milhões de toneladas na 21/22 e agora, ainda segundo o relatório do USDA, está acima dos 4 milhões de toneladas. Numa análise simplista, os números apontam para uma certa dificuldade de preços mais altos. Mas, vamos ver adiante alguns fatores que podem mudar essa visão.

É surpreendente o aumento do consumo de açúcar per capita nos últimos 10 anos. Esse levantamento toma como base os números de consumo publicados pela agência americana cruzado com a população estimada pelo Banco Mundial. Em 10 anos o consumo per capita de açúcar na Indonésia cresceu 6.07 quilos, o Paquistão 4.95 quilos enquanto a Índia cresceu 1.9 quilos no mesmo período.

É interessante observar que esses consumidores importantes acima citados ainda consomem abaixo da média mundial, que hoje está em 22 quilos per capita. Índia está praticamente nesse nível, China 12 quilos, Indonésia e Paquistão 27 quilos, acima da média mundial e o resto do mundo com 20 quilos. Ou seja, tem muito espaço para o crescimento desse consumo, em especial com a melhoria nas economias asiáticas. Um exemplo: o crescimento do consumo per capita na Indonésia 607 gramas por ano equivale a uma latinha de refrigerante a cada três semanas. Ainda está longe desses países alcançarem o consumo europeu ou americano, 37 e 33 quilos, respectivamente.

O futuro do açúcar é construtivo por esse motivo. Crescimento populacional nos países asiáticos acima da média mundial, assim como o consumo per capita. Essa combinação virtuosa nos leva a estimar que daqui a cinco anos o mundo vai consumir – conservadoramente – 10.7 milhões de toneladas de açúcar a mais. Se o Brasil participar como fornecedor de 60% desse volume, vamos precisar moer um adicional de 48 milhões de toneladas de cana. Caso o País participe com 75%, que foi o caso nos últimos cinco anos, então essa necessidade pula para 60 milhões de toneladas.

Na parte técnica, nosso colaborador Marcelo Moreira, observa que os vencimentos jul-24 e out-24 voltaram a testar as mínimas do ano com ambos os vencimentos negociando a 18.03 centavos de dólar por libra-peso. Rompendo os 18 centavos, o mercado continua com objetivo de buscar os 16. Novas expectativas em possível desaceleração da economia chinesa e americana continuaram pesando nas cotações do petróleo – e refletindo diretamente nas cotações do açúcar. Na semana o contrato do petróleo tipo WTI encerrou a 77.16 dólares por barril e o tipo Brent a 81.30 dólares por barril. Importantes suportes continuam sendo os pisos das Bandas de Bollinger dos 50 dias (tanto no vencimento julho-24 quanto no out-24) que encerraram respectivamente a 17.27 e 17.34 centavos de dólar por libra-peso. Próximas resistências no julho-24 estão a 18.38/18.91/19.24 centavos de dólar por libra-peso e no outubro-24 a 18.41/19.40/19.86/20.88 centavos de dólar por libra-peso.

*Gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting.

Fonte: Archer Consulting