Transferir metas do RenovaBio para as refinarias prejudica competição, afirma CNI

Por Lorena Marcelino

Projeto que transfere obrigação de compra de Créditos de Descarbonização (CBIOs) dos distribuidores para os produtores de combustíveis derivados de petróleo aumenta possibilidade de condutas anticompetitivas, afirmou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), na 30ª edição da Agenda Legislativa da Indústria (.pdf), lançada nesta terça-feira (25/3), na Câmara dos Deputados.

A matéria é o PL 2798/2024, do senador Eduardo Gomes (PL/TO), que tramita na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal e aguarda relatório de Jaques Wagner (PT/BA). A medida faria com que a Petrobras seja a principal parte obrigada na produção de CBIOs no Brasil, companhia que hoje não está autorizada a fazer a emissão dos créditos de RenovaBio, mas também implicaria nas atividades de refinarias privadas, como a Refinaria de Mataripe, na Bahia, da Acelen, e a Refinaria de Manaus, do grupo Atem.

De acordo com a CNI, a transferência da obrigação de compra dos créditos dos 140 distribuidores autorizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para as 19 refinarias autorizadas concentraria a demanda, o que poderia fazer os preços deixarem de ser regidos pelo mercado e aumentar as chances de condutas anticompetitivas.

“Portanto, a medida contraria os objetivos do RenovaBio, que visa incentivar a produção de biocombustíveis no Brasil como uma estratégia para a descarbonização do setor de transportes. Para que essa meta seja alcançada, é essencial criar condições que favoreçam a competitividade e a sustentabilidade dos produtores dos biocombustíveis.”, afirma a confederação no documento.

A organização tem outros três projetos do setor de energia na agenda. Um deles é o PL 1923/2024, do deputado Julio Lopes (PP/RJ), que cria o Operador Nacional do Sistema de Combustíveis (ONSC). O órgão monitoraria o mercado de combustíveis para apontar fraudes no setor.

A CNI reconhece a importância de um monitoramento do setor, mas considera que, o ONSC sendo uma pessoa jurídica de direito privado, poderia aumentar o risco de exposição de informações sensíveis. A organização sugere a criação do Observatório Nacional do Sistema de Combustíveis, iniciativa que monitoraria o setor a partir da cooperação institucional, sem uma subordinação hierárquica.

O projeto tramita na Comissão de Minas e Energia (CME) da Câmara dos Deputados e aguarda parecer do relator, o deputado Júnior Ferrari (PSD/PA). Já o PL 4663/2016, do deputado Beto Rosado (PP/RN), é defendido pela CNI . O projeto propõe a redução na alíquota de royalties para 1% sobre a produção de campos marginais para incentivar a entrada de empresas nas atividades desses campos. O texto está na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara e tem relatório favorável à aprovação do deputado Felipe Francischini (União/PR).

A organização também defende o PL 414/2024, do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB/PB), que propõe a reestruturação da regulação do setor elétrico, incluindo, entre outras coisas, a redução gradual dos requisitos de carga e tensão para acesso ao mercado livre.

“O projeto garante a segurança necessária à expansão do mercado livre de energia elétrica, proporcionando ganhos de eficiência na gestão do suprimento, contratos adaptados às características do negócio e a possibilidade de modicidade de preços, sem que os consumidores que optem por permanecer no mercado regulado subsidiem aqueles que migrarem para o mercado livre”, argumenta a confederação. O projeto aguarda criação de comissão temporária na Câmara.

Licenciamento ambiental

A organização se interessa, ainda, por três matérias sobre licenciamento ambiental. Uma delas é o PL 4386/2024, do deputado Fernando Mineiro (PT/RN), que prevê salvaguardas para a instalação de usinas eólicas e solares, com o objetivo de resguardar as populações afetadas e o meio ambiente. Ela aguarda designação de relator na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara.

A CNI afirma que esse projeto pode criar dificuldades normativas para o licenciamento ambiental de empreendimentos de geração de energia eólica e fotovoltaica. “É de duvidosa constitucionalidade, uma vez que possui vício de iniciativa ao impor novas obrigações à Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica], e interferir diretamente nos contratos de arrendamento rural para implantação de projetos de energia, sendo uma interferência direta do Estado na livre iniciativa”, critica a confederação.

A organização também tem ressalva ao PL 2159/2021, do deputado Luciano Zica (PT/SP), que cria o Marco Legal do Licenciamento Ambiental e aguarda relatório do senador Confúcio Moura (MDB/RO) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). A CNI aponta que parte do setor da mineração foi excluído do escopo da lei, o que o deixa sob insegurança jurídica.

A confederação também critica o PL 10678/2018, da deputada Erika Kokay (PT/DF), que torna obrigatório o consentimento de comunidades indígenas e quilombolas para o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que os afetem.

“Essa obrigação confere poder desproporcional a esses grupos que terão a faculdade de vetar empreendimentos de interesse público e impor demandas que independem dos impactos do projeto”, diz a CNI. A matéria aguarda designação de relator na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais (Cpovos) da Câmara.

Infraestrutura

No setor de infraestrutura, a CNI tem na agenda o novo marco legal das parcerias público-privadas, o PL 7063/2017 do ex-senador Antonio Valadares (PSB/SE). O texto amplia o escopo de licitações, flexibiliza prazos contratuais e define regras para a descontinuidade do serviço em emergências.

A confederação sugere o aprimoramento de pontos como definição das concessões comum e em parceria, regras para conter possíveis abusos de preço, e regras de prestação temporária de serviço público. A matéria aguarda relatório de Arnaldo Jardim (Cidadania/SP) no Plenário da Câmara.

Taxonomia

A CNI acompanha também o projeto da Taxonomia Sustentável Brasileira (PL 5209/2023), metodologia para orientar investimentos sustentáveis com objetivos alinhados à preservação ambiental. A organização afirma que a Taxonomia pode trazer benefícios, como a ampliação da transparência de resultados ambientais e sociais dos empreendimentos. Entretanto, ela diz que tem trechos que dão um “caráter punitivista”, como a possibilidade da extinção de linhas de financiamentos para certos setores econômicos, e propõe, no lugar, a inclusão de mecanismos de incentivo para boas práticas socioambientais. A matéria do senador Jader Barbalho (MDB/PA) tramita na Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado e aguarda relatório de Jaques Wagner (PT/BA).

Fonte: Eixos