Syngenta limita rede de varejo própria no Brasil

André Savino, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil
Foto: Rogerio Vieira/Valor

Por Isadora Camargo

A divisão agrícola da Syngenta, uma das maiores fabricantes e distribuidoras de insumos do mundo, decidiu enxugar suas operações diante da crise acentuada no segmento no Brasil. Nos últimos meses, a companhia começou a conceder a terceiros a administração de algumas lojas existentes e decidiu parar de fazer novas compras de revendas.

A estratégia mais defensiva, adotada já no ano passado, continuará em 2025, e nenhuma nova loja deve ser comprada neste ano. Porém, isso não significa reduzir investimentos no Brasil, maior mercado da empresa no mundo, diz André Savino, presidente de Proteção de Cultivos da Syngenta no Brasil.

Em entrevista ao Valor, ele afirma que, mesmo com um quadro macroeconômico “complexo”, de juros altos e dinheiro mais caro, a companhia continuará investindo no país, mas atenta à gestão de custos operacionais.

No início deste ano, a empresa anunciou o repasse de lojas próprias no Sul do Brasil para terceiros. Duas parcerias comerciais foram firmadas: a primeira em fevereiro, no Rio Grande do Sul, onde 18 unidades próprias passaram a ser administradas pelo grupo gaúcho Olfar Agro.

Em abril, outra transferência de unidades foi assinada, desta vez com a Lar Cooperativa Agroindustrial, de Medianeira (PR). O acordo ainda aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e prevê que a gestão de 19 lojas espalhadas no Paraná e em Santa Catarina passe à Lar.

Esse modelo não deve ser replicado em nenhuma das outras lojas próprias, assegura Savino. Para ele, a Syngenta acertou no plano de gestão no Brasil, mantendo lojas próprias no Centro-Oeste e no Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que são regiões-alvo para a empresa.

Em 2017, a Syngenta comprou a primeira rede de lojas próprias, em um movimento que foi acelerado nos anos seguintes para ampliar sua participação no varejo de insumos. Em 2023, a companhia fez sua última aquisição, chegando à sexta rede de varejo.

“Nossa estratégia nunca foi de consolidação, mas de defesa (…) Como uma empresa que compra cinco, seis lojas poderia consolidar, enquanto concorrentes compravam centenas?”, observa.

Mas a fome da Syngenta por novas aquisições parou naquele ano, quando começava a assistir ao aperto das margens de lucro de empresas de insumos que investiram na formação de estoques e em movimentos de consolidação.

Em 2025, não apenas não está nos planos da empresa seguir com essa estratégia de aquisições, como a ideia é pôr em marcha um plano de “defesa estratégica”, que Savino define como redução de custos operacionais e concentração em determinadas regiões.

Agora, enquanto algumas companhias, como o Agrogalaxy, que está em recuperação judicial, sofrem as consequências da maré de preços altos das matérias-primas — com custos elevados de importação, de estoque e dificuldades nas vendas antecipadas ao produtor —, a Syngenta prefere fechar “acordos mercantis” nas localidades em que não conseguiria estruturar uma operação de recebimento de grãos, explica Savino.

Ele explica que as lojas do Sul foram escolhidas a dedo para concretizar esse tipo de “arrendamento” de varejo, porque os negócios da região vêm sendo afetados pelos apertos econômicos deflagrados pelas alterações climáticas.

Para comprar insumos, o produtor sulista prefere, muitas vezes, entregar grãos — modelo que a Syngenta não teria como estruturar sem realizar novos investimentos. Assim, a decisão que cabia era transferir a administração, conta Savino.

Para não perder participação de mercado, os acordos mercantis estabelecem algumas prerrogativas, como a presença de 80% dos produtos da marca suíça nas prateleiras, e os outros 20% ficam livres para a administradora montar o portfólio de vendas. “Nosso objetivo não é gerar valor pela venda, mas assegurar, por meio da nossa plataforma Synap, que a Olfar leve as nossas tecnologias para os agricultores onde a gente não tem distribuidor ou onde podemos ter o risco de perder esse sistema de distribuição”, detalha.

A multinacional continua sendo a dona da loja, mas o trato mercantil tem um prazo maior para que isso não gere custos à Syngenta no período. Com isso, a empresa não se desfaz do patrimônio que construiu nos últimos oito anos.

Savino assegura que a plataforma de distribuição da multinacional suíça, a Synap, continuará sendo uma “holding de distribuição da Syngenta”, mas com menor número de lojas.

Hoje, a companhia tem uma rede de distribuidores mais enxuta que concorrentes como Bayer e Basf. São 150 distribuidoras, enquanto as concorrentes têm cerca de 700. Pelo risco de não acessar o mercado dada a alta concorrência, vender as lojas não está nos planos.

Fonte: Globo Rural