Em uma perspectiva de futuro a médio e longo prazos, o hidrogênio verde, o etanol de milho e o SAF, usado na aviação, são alguns exemplos de energia renovável que levarão o Brasil em via segura para a transição energética.
Nesta segunda-feira, 19/02, especialistas do setor, bem como autoridades do cenário político, participaram do seminário “Energia limpa: a transição energética no Brasil”, organizado pela Folha de S. Paulo. O evento, que teve apoio da montadora BYD, faz parte das comemorações de 103 anos do jornal.
Maurício Tolmasquim, diretor de transição energética e sustentabilidade da Petrobras, que participou do evento, entende que as fontes de energia renováveis para gerar eletricidade são o caminho para a descarbonização do planeta. “Alguns setores, como petroquímico, de refino, siderúrgico e de fertilizantes, precisarão de outra fonte de energia, o hidrogênio, por ser mais viável”. Talmasquim ressaltou que, no curto prazo, a multinacional brasileira aposta em energia eólica e solar onshore [em terra]. “Incluo os biocombustíveis, como o diesel renovável, porque são tecnologias que já estão maduras e têm infraestrutura. Mas o que mais me parece promissor, em médio prazo, é o hidrogênio verde”.
A ex-senadora Kátia Abreu, outra participante do painel, destacou a importância do etanol obtido a partir do milho. “A cultura do milho como matéria prima é perene, não só no período das chuvas. Outro benefício é que os resíduos, após a extração do etanol, podem ser transformados em alimentação do gado, graças a seus nutrientes”.
Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners e ex-secretária de desenvolvimento econômico de São Paulo complementou, apontando o etanol do milho, SAF (combustível sustentável de aviação) e hidrogênio verde como fontes de energia e biocombustíveis que podem ajudar o país a agregar valor ao seu PIB.
“Nós estamos exportando produtos de baixo valor agregado e teríamos uma chance de estar adicionando renda à população.”. Segundo Ellen, o Brasil tem a oportunidade de liderar a pauta da transição energética e passar a crescer mais do que a média do PIB (Produto Interno Bruto) mundial.
Sandoval Neto, diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), chamou a atenção também para a tarifa da energia elétrica hoje praticada pelo setor, afirmando a premência em rediscutir os subsídios oferecidos ao setor elétrico, repassados para a conta do consumidor. Para Sandoval Neto, o custo da tarifa de energia é um dos fatores que desestimularam a indústria no país.
A ANEEL tem uma medição para esses subsídios, denominada “subsidiômetro”. “A quantidade de subsídio no setor de energia elétrica em 2023 já ultrapassou a marca dos R$ 37,4 bilhões, e só cresce, comparado aos últimos anos”.
Jerson Kelman, ex-presidente de empresas como Light e Sabesp, disse que o setor elétrico enfrenta hoje problemas de governança. Segundo ele, o Congresso Nacional toma decisões por interesses de alguns setores.
“Nós temos visto o Congresso atuando em função de ‘lobbies’ que defendem essa ou aquela tecnologia sem uma visão integrada. Nós temos que retomar a liderança do setor elétrico, porque corremos grave risco”, disse. Nesse sentido, Kelman aponta os subsídios como políticas públicas que foram perpetuados por lobby. “É necessário que o Congresso Nacional volte a ter a visão de política com ‘P’ maiúsculo e deixe de ficar aceitando o ‘toma lá dá cá’ de políticas centralizadas.”
Fonte: Folha de S.Paulo