
Por Arnaldo Luiz Corrêa*
O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento julho/25, que expira na próxima segunda-feira, encerrou a semana cotado a 15.88 centavos de dólar por libra-peso — queda de 22 pontos na semana, o equivalente a aproximadamente 5 dólares por tonelada. Durante a semana, chegou a negociar na mínima de 15.58 centavos, representando uma retração de 52 pontos (ou mais de 11 dólares por tonelada).
O destaque do período foi o expressivo alargamento do spread entre os vencimentos julho/25 e outubro/25, que fechou em 81 pontos. Isso equivale a um carregamento financeiro de 21.84% ao ano. Em tese, esse diferencial deveria estimular o recebimento de açúcar em julho, com estocagem e revenda em outubro. Mas o mercado especula que o motivo por trás desse comportamento atípico está na qualidade do açúcar disponível para entrega em julho: VHP de baixa qualidade, possivelmente originado da Argentina. Incapaz de encontrar destino comercial para esse tipo de produto, o comprador preferiu “vomitar” a posição, pressionando o spread. Pelo menos é essa narrativa ouvida.
O contrato outubro/25, que assume como mês de referência a partir de terça-feira, subiu 12 pontos na semana, encerrando a 16.69 centavos de dólar por libra-peso (alta de 2.65 dólares por tonelada). Os demais vencimentos também reagiram positivamente: março/26 subiu 18 pontos; contratos entre maio/26 e março/27 subiram, em média, 30 pontos (6.50 dólares por tonelada); e os vencimentos de maio/27 a março/28 registraram alta média de 34 pontos (7.50 dólares por tonelada). Dissemos aqui por várias vezes que os preços baixos vistos nas telas que replicam a 26/27 e 27/28 do Centro-Sul, eram excelentes oportunidades de compra para os consumidores industriais.
Há crescente preocupação quanto a uma possível migração do mix para o etanol nas usinas de Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que respondem por cerca de 30% da produção do Centro-Sul. Uma mudança de apenas 5 pontos percentuais nesse mix pode representar uma redução de até 1.2 milhão de toneladas de açúcar — ou 1.5% do mix do Centro-Sul.
O custo de produção de açúcar no Centro-Sul está hoje estimado em R$ 2,100 por tonelada FOB Santos (equivalente a 16 centavos de dólar por libra-peso), reflexo direto do menor TCH e da menor ATR até aqui. Estimamos o custo médio no Centro-Sul de 13.93 centavos de dólar por libra-peso posto Usina.
Poucos países conseguem competir com essa eficiência: os custos estimados em outras origens são 16.38 centavos de dólar por libra-peso (Nordeste do Brasil), 17.07 (Austrália), 18.00 (América Central), 21.25 (Índia), 21.64 (Tailândia) e 23.50 centavos de dólar por libra-peso (Paquistão).
Ainda assim, o mercado continua pressionado por uma combinação de fatores: A moagem no Centro-Sul surpreendeu positivamente, apesar de ainda estar abaixo da safra passada; a safra tailandesa veio melhor do que o esperado; o mercado de energia desabou, enfraquecendo o preço do etanol. E os fundos seguem vendidos, dificultando qualquer tentativa de recuperação nas cotações.
Aliás, o número publicado nesta sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada, mostra que os fundos estão vendidos 112,987 lotes (equivalentes a 5.74 milhões de toneladas de açúcar)
Para alcançar a marca de 605 milhões de toneladas de cana estimada por parte do mercado, seria necessário moer 481 milhões de toneladas até o fim da safra — algo que só aconteceu três vezes nas últimas 13 safras. Nossa estimativa segue mantida em 581 milhões de toneladas de cana e uma produção de 38.72 milhões de toneladas de açúcar no Centro-Sul.
Em termos reais, ao ajustar os preços de julho pelo IPCA desde 2015, o açúcar atual está em torno de R$ 2.000 por tonelada — valor inferior à média histórica. Desde 2015, em 65% do tempo, os preços estiveram acima desse patamar. Isso reforça que os níveis atuais estão muito deprimidos.
O câmbio, por sua vez, segue dentro da banda que já antecipamos: 70% do tempo desde 2020 ele se manteve entre R$ 4,90 e R$ 5,60. O recente estresse fiscal deslocou o dólar para cima, mas o viés agora parece ser de baixa. Na semana, encerrou a R$ 5.4830.
Por fim, a aprovação do E30 no Brasil (etanol com 30% de mistura) pode gerar um consumo adicional de 1.2 bilhão de litros nos próximos meses. Ainda assim, faltam vetores altistas consistentes no curto prazo. O cenário global mostra bom suprimento, clima favorável na Índia, safras satisfatórias e um mercado de energia fraco. E, como sempre, incertezas políticas e macroeconômicas (inclusive com o fator “Trump” no radar) seguem adicionando volatilidade. O suporte para o mercado pode estar em uma safra do Centro-Sul abaixo de 585 milhões de toneladas — um dado a ser monitorado com atenção.
Até 31 de maio, as usinas brasileiras já haviam fixado 7.2 milhões de toneladas de açúcar da safra 2026/27 para exportação, ao preço médio de R$ 2,565 por tonelada FOB-Santos, o que representa cerca de 20% do volume estimado de exportação. O volume de negócios na bolsa caiu 39% em maio, refletindo um mercado mais fraco: foram negociados 2.23 milhões de contratos, contra 3.66 milhões em abril. O preço médio do açúcar em maio foi de 17.44 centavos de dólar por libra-peso – o preço médio mais baixo dos últimos 4 anos –, com máxima de 18.29 e mínima de 16.81 centavos de dólar por libra-peso. O dólar médio do mês ficou em R$ 5.6720, cerca de 2% abaixo do mês anterior.
Chega para nós a informação (não confirmada) que uma grande empresa responsável pela moagem de 5-6% de toda a cana do Centro-Sul prevê uma quebra de mais de 10% da sua moagem estimada para esta safra. Muita tensão.
Nosso colaborador Marcelo Moreira diz que o mercado aguarda uma entrega entre 700-900 mil toneladas na próxima segunda-feira. O próximo vencimento outubro-25 encerrou a semana a 16.71 centavos de dólar por libra-peso. Próximos suportes a 16.56 e 16.22 centavos de dólar por libra-peso. E as próximas resistências estão a 17.00/17.34/18.00 e 18.46 centavos de dólar por libra-peso. O spread out-25/março-26 segue firme nos 66 pontos com objetivo entre 80-100 pontos no médio-prazo.
*Gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting.
Fonte: Archer Consulting