Secas e queimadas mudam a safra de cana

Foto: iStock.com/think4photop

Por Marcos Fava Neves, Vinícius Cambaúva* e Beatriz Papa Casagrande***

Na economia mundial e brasileira

O Boletim Focus – relatório divulgado pelo Banco Central – no dia 16/09 fez novas previsões para a economia brasileira: IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) estimado em 4,35% neste ano e 3,95% no próximo (ambos com alta mensal). O crescimento do PIB foi projetado em 2,96% para 2024 e 1,90 para 2025 (os dois também em alta). O câmbio pode terminar este ano em R$ 5,40 e fechar 2025 em R$ 5,35(desvalorização da moeda local em ambos os casos). E, por último, a taxa Selic deve ficar em 11,25% até o final de 2024 e 10,50% no ano seguinte (previsões em alta).

No agro mundial e brasileiro

O índice global de preços dos alimentos calculado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) ficou em 120,7 pontos em agosto, praticamente o mesmo patamar registrado em julho (120,8 pontos) e 1,1% menor do que o valor correspondente há um ano. A ligeira queda foi puxada pelo açúcar, carne e cereais. Começando pelo adoçante (-4,7%), a desvalorização veio por melhores estimativas para a safra 2024/25 na Índia e Tailândia e pressão nos preços do petróleo. Porém, o impacto dos incêndios em importantes áreas produtoras no Brasil sustentou certos aumentos e pode afetar os preços à frente.

As carnes (-0,7%) caíram devido aos efeitos nos preços internos da carne de frango no Brasil, pela suspensão voluntária de exportações relacionada à doença de Newcastle, mesmo com a declaração do fim do surto uma semana depois. Além disso, a carne suína ajudou na queda com ampla oferta e menor demanda, enquanto os bovinos aumentaram de preço, de forma tímida, com queda sazonal na Oceania. Já nos cereais (-0,5%), a redução veio em função da oferta de trigo maior do que o esperado na Argentina e Estados Unidos, que superou a sustentação do milho com preocupações sobre ondas de calor na União Europeia e Estados Unidos, bem como produção mais restrita na Ucrânia. Por outro lado, os óleos vegetais (+0,8%) alcançaram o nível mais alto desde janeiro de 2023, devido às cotações do óleo de palma com menor produção na Indonésia. Por fim, os laticínios (+2,2%) tiveram valorização por conta, principalmente, do leite em pó com demanda aquecida.

Chegamos ao 12º e último levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a safra 2023/24 de grãos. A produção do Brasil fechou com 298,4 mi de t, sendo 200 mil t a menos do que a previsão do mês anterior e 6,7% ou 21,4 mi de t menor que o observado em 2022/23. Em relação à área, a estimativa é de 79,8 mi de ha (+1,6%) com o aumento na soja, algodão, arroz, sorgo e outros grãos, compensando a queda no milho.

No milho

Na atualização mensal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a estimativa da safra global de milho em 2024/25 foi levemente reajustada para baixo: de 1,219 bilhão de t (agosto) para 1,218 bilhão de t (setembro). O reajuste é justificado por uma queda na estimativa da oferta da União Europeia, em 1,5 milhão de t, agora estimada em 59 mi de t. Em contrapartida, nos Estados Unidos, a oferta foi elevada para 385,7 milhões de t. Demais países seguem com oferta nos mesmos níveis do mês anterior: China com 292,0 mi de t (+1,1%); Brasil com 127,0 mi de t (+4,1%); e Argentina com 51,0 mi de t (+2,0%). Os estoques finais de milho foram reduzidos neste mês para 308,3 milhões de t, volume 0,4% inferior ao de 2023/24.

Olhando para a safra brasileira, a Conab fechou os números de 2023/24 em 115,7 mi de t (era 115,6 em agosto), isto é, 12,3% ou 16,2 mi de t menor que o último ciclo. A 1ª safra é estimada em 22,9 mi de t (-16,1%); a 2ª em 90,2 mi de t (-11,8%) e a 3ª em 2,5 mi de t (+16,3%). Em relação à área, o milho deve ocupar 21,1 mi de ha (-5,4%). Para o progresso da cultura em campo, a Companhia indica que a colheita da 2ª safra foi concluída em todos os estados produtores até o dia 15/09, em ritmo mais acelerado que a safra anterior, quando as operações finalizaram na 1ª quinzena de outubro.

Em relação às lavouras americanas, o USDA indica que as condições até 15 de setembro eram: médias em 23,0% (2023: 29,0%); boas em 49,0% (2023: 43,0%); e excelentes em 16,0% (2023: 8,0%). Em geral, condições bem melhores do que no último ano. Cerca de 9% do milho havia sido colhido até então, contra 6% na média dos últimos cinco anos (2019 a 2023).

No Brasil, a semeadura da 1ª safra (verão) do ciclo 2024/25 alcançou 12% até 15 de setembro, segundo a Conab, contra 15% na mesma data do ano passado; leve atraso até o momento. O Rio Grande do Sul já plantou 44% das áreas previstas (2023: 45%), o Paraná alcançou 29% (2023: 42%) e Santa Catarina está em 5% (2023: 23%).

E com as preocupações do possível atraso no plantio da safra brasileira, os preços têm reagido de forma singela nos últimos dias. Em Chicago, o contrato de milho de dez/24 estava em US$ 4,031/bushel, alta de 1,2% no comparativo com o último mês (US$ 3,984/bushel).

Na soja

O 5º relatório de estimativas da safra global 2024/25, divulgado pelo USDA, apontou um leve incremento na produção global: de 428,7 milhões de t (agosto) fomos a 429,2 milhões de t (setembro); volume que será 8,7% superior ou 34,5 milhões de t adicionais. Entre os grandes, apenas a produção nos Estados Unidos foi revista, estando agora em 124,8 milhões de t (+ 10,1%). Demais países: Brasil com 169,0 milhões de t (+10,5%); Argentina com 51,0 milhões de t (+ 6,0%); e China com 20,7 milhões de t (- 0,7%). Os estoques finais de soja em 2024/25 estão estimados em 134,57 milhões de t, 20% a mais do que no último ciclo; ou 22,3 milhões de t adicionais. O volume ainda segue muito grande.

No Brasil, apesar da redução de 4,7% ou 7,2 mi de t a menos que o ciclo anterior, a safra 2023/24 deve ser a 2ª maior, atingindo 147,4 mi de t. A área, por sua vez, ficou em 46 mi de ha, crescimento de 4,4%. Isso porque a retração se deve ao atraso e menor volume de chuvas e altas temperaturas em algumas áreas plantadas entre setembro e outubro/23, resultando em replantios e queda de produtividade.

Até 15 de setembro, as condições das lavouras de soja nos Estados Unidos eram: médias com 25% (2023: 30%); boas em 52,0% (2023: 44%); e excelentes em 12% (8%). Já o progresso de colheita estava em 6%, contra 3% na média das últimas cinco temporadas.

No Brasil, o plantio de soja não havia sido iniciado até 15 de setembro, em vista da falta de chuvas em todas as regiões produtoras; ponto de alerta pensando no próximo mês.

A soja também registrou uma leve recuperação nos preços neste mês. Em Chicago, o contrato de nov/24 foi a US$ 10,045/bushel no fechamento da nossa coluna (20/09), alta de 4,7% em relação ao mês anterior (US$ 9,595/bushel). Para os agricultores que ainda não venderam, uma chance com o real mais desvalorizado passou para fixar parte das vendas.

No algodão

Em mais um mês, o USDA reduziu a estimativa da oferta global de algodão em 2024/25: de 16,89 milhões de t da pluma (agosto) para 16,65 milhões de t (setembro); alta de 1,2% no comparativo com a safra passada ou 194 mil t adicionais. O reajuste é justificado pela menor produção nos Estados Unidos, com uma leve piora na condição das lavouras nas últimas semanas (apesar de ainda estarem melhores do que no ano anterior); a estimativa está agora em 3,16 milhões de t (+20,6% que 23/24). Na China, maior produtor global, a oferta deve ser de 6,05 milhões de t (+ 1,7%); Índia, 2º colocado, com 5,23 milhões de t (-6,8%); e Brasil, 3º, com 3,63 milhões de t (+14,5%). Estoques finais de algodão estão previstos para fechar o ciclo em 16,65 milhões de t, 1,2% superior a 2023/24; ou 190 mil t adicionais.

A Conab projetou a safra 2023/24 de algodão em 3,6 mi de t (bem alinhada ao USDA), sendo 15,1% ou 480,7 mil t acima do registrado da temporada anterior. O crescimento é reflexo do aumento de 16,9% em área, totalizando quase 2 mi de ha, isso porque a produtividade deve ser ligeiramente menor (-1,5%), ficando em 1.879 t/ha de pluma. Quanto ao avanço das operações no campo, até 15/09, 98,5% das áreas haviam sido colhidas, praticamente o mesmo patamar do ano passado (98,0%). Os estados do MA, PI, MS e MG já finalizaram a colheita, enquanto MT (99,2%), GO (97,0%) eBA (95,1%) estão em processo de finalização.

O USDA avalia que as condições das lavouras de algodão nos EUA estavam nas seguintes condições até o dia 15 de setembro: média em 35,0% (2023: 28,0%); boa em 34,0% (2023: 24,0%); e excelente em 5,0% (2023: 5,0%). Os números mostram que a pluma segue em situação positiva, apesar de as condições terem “piorado” no comparativo com as últimas duas semanas. Até o momento, 10% do algodão norte-americano já foi colhido, acima dos 8% de progresso na média das últimas 5 safras.

O contrato de dez/24 estava em 74,20 centavos de dólar por libra-peso na data de fechamento da nossa coluna, crescimento relevante de 7,0% no comparativo mensal ou de quase 5cents/lb; em agosto estava e US$ 69,30 cents/lb. A leve piora nas condições das lavoras nos Estados Unidos contribuiu para o movimento.

Outras culturas

Para as culturas de inverno, a Conab estimou a produção em 10,6 mi de t, o mesmo valor do mês anterior e 9,3% maior que o último ciclo. As culturas de maior importância são o trigo (8,8 mi de t | +8,8%) e aveia (1,0 mi de t | +7,6%). O primeiro avançou a colheita em 17,8% até o dia 15/09 (era 22,8% em 2023), enquanto 20,6% das lavouras estão em floração; 19,15 em maturação; 20,6% em desenvolvimento vegetativo e 21,9% em enchimento de grãos. MS (100,0%), MG (99,0%) e GO (97,0%) já colheram praticamente tudo e SP (25,0%), BA (20,0%) e PR (18,0%) ainda estão progredindo com as operações.

A Conab também divulgou as primeiras estimativas para o próximo ano. A produção de grãos deve atingir um recorde histórico na safra 2024/25, com uma estimativa de 326,9 mi de t, 8,2% acima da safra anterior. No entanto, a ocorrência do fenômeno La Niña traz incertezas climáticas e o atraso nas chuvas já preocupa produtores. Para a soja, a demanda global, impulsionada pela produção de biocombustíveis e uso de farelo para alimentação animal, deve aumentar as exportações para 104,7 mi de t (+13,3%). A área plantada pode chegar a 47,4 mi de ha (+3,0%), e a produção deve atingir 166,3 mi de t (+12,8%). No milho, a área plantada permanece estável, mas a produtividade pode aumentar, elevando a produção para 119,8 mi de t (+3,6%). As exportações devem retrair para 34,0 mi de t(-5,6%) com demanda interna aquecida devido, principalmente, a produção de etanol de milho (+17,3%). No caso do algodão, a área cultivada deve totalizar 2 mi de ha (+3,2%). A rentabilidade e a competitividade da pluma brasileira no mercado internacional sustentam as expectativas de uma colheita de 3,7 mi de t.

Na produção de carnes, a expectativa da Conab para 2025 é de estabilidade, com 30,7 mi de t. As produções de frango e suínos devem atingir recordes, com 15,5 (+2,1%) e 5,4 mi de t (+1,6%), respectivamente, impulsionadas pela demanda interna e externa e custo controlado dos grãos. As exportações de frango devem alcançar 5,2 mi de t (+1,9%), enquanto o consumo interno aumentará para 10,3 mi de t (+2,3%). No setor de suínos, o mercado interno deve crescer para 4,2 mi de t (+1,1%), e as exportações são projetadas para 1,3 mi de t (+3,0%), com destaque para a diversificação de mercados e redução da dependência chinesa. Já a carne bovina deve retrair a produção para 9,8 mi de t (-4,3%), devido ao ciclo pecuário, que resultará na retenção de fêmeas. Apesar disso, as exportações devem crescer para 3,7mi de t (+2,5%), com aumento em novos mercados além da China.

Em agosto de 2024, as exportações do agro alcançaram US$ 14,1 bi, uma queda de 9,5% em relação aos US$ 15,6 bi exportados no mesmo mês de 2023. A redução se deve à diminuição tanto no volume exportado, quanto nos preços dos produtos, impactados pela queda das vendas de milho e pela redução dos preços internacionais dos alimentos.

Os cinco setores que mais contribuíram para o valor exportado, representando 78,6% do total, foram: em 1º o “Complexo Soja”, que registrou US$ 4,5 bi (-19,7%) em vendas. A queda foi provocada pela redução do volume embarcado (-4,1%) e valor negociado (-12,8%) devido à pressão baixista nos preços, influenciada pela expectativa de uma safra recorde nos EUA. Em 2º, as “Carnes” atingiram US$ 2,2 bi (+5,6%), impulsionado pelo recorde nas exportações de carne bovina, com destaque para o aumento de volume exportado (245,36 mil t |+15,7%). Para a carne de frango (356,9 mil t | -13,1%), as vendas externas foram afetadas em função do foco de Newcastle em julho, que acabou restringindo a produção do Rio Grande do Sul para alguns importadores, mas em menos de uma semana, o governo já comunicou o fim do foco da doença.E os suínos (+6,1 mil t | +4,5%) foram compensados por aumento na demanda de alguns países. O 3º ficou com o “Complexo Sucroalcooleiro” que vendeu US$ 1,8 bi (-0,9%) ao exterior. Embora o volume exportado de açúcar tenha sido recorde (3,9 mi de t), a forte oferta brasileira no mercado internacional pressionou o preço médio, levando a ligeira queda no valor total. Na 4ª posição, os “Cereais, farinhas e preparações” totalizaram US$ 1,3 bi (-46,2%). A queda significativa foi puxada pela menor colheita de milho na safra 2023/24 devido a problemas climáticos, resultando em forte diminuição nas exportações do grão (6,1 mi de t | -35,1%). Por fim, os “Produtos Florestais” chegaram no 5º lugar, somando US$ 1,3 bi (+16,2%), impulsionados pela forte valorização no preço médio da celulose (+56,0%), mesmo com a queda no volume exportado (-9,2%).

Já as importações de produtos agropecuários atingiram US$ 1,6 bilhão (+8,4%) em agosto. As compras de insumos também registraram variações relevantes, como o aumento de 15,4% em fertilizantes e 16,9% em nutrição animal, enquanto as aquisições de defensivos e máquinas agrícolas tiveram retrações de 27,0% e 4,1%, respectivamente.

O Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária em 2024 calculado pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) deve atingir R$ 1,201 tri, representando uma ligeira valorização de 0,1% em comparação ao registrado em 2023 (R$ 1,199 trilhões). No setor agrícola, as lavouras devem somar uma receita de R$ 809,1 bi, com retração de 3,2% em relação ao ano anterior. Os maiores crescimentos vieram do cacau (+139,0% | R$ 10,0 mi), batata inglesa (+48,2% | R$ 16,3 mi) e laranja (+46,9% | R$ 31,0 mi). Porém, as culturas que mais contribuíram com o valor foram a soja (-17,4% | R$ 282,3 mi), o milho (-16,6% | R$ 190,9 mi) e a cana-de-açúcar (+1,9% | R$ 118,3 mi). No setor pecuário, o VBP deve somar R$ 391,6bi, com um crescimento de 7,7% frente a 2023. Entre os destaques estão os bovinos com um valor de R$ 144,0bi (-0,9%), os suínos com R$ 59,2 bi (+68,9%) e o frango com R$ 99,4bi (+7,3%).

A queda nos preços das commodities e a seca prolongada que atinge diversas regiões produtoras no Brasil têm freado os investimentos no campo e atrasado a compra de fertilizantes para a safra 2024/25, o que pode reduzir a demanda pelo insumo este ano. No entanto, esse cenário gera preocupação diante de possíveis gargalos logísticos, caso as aquisições fiquem muito concentradas. Somado a isso, a situação de seca tem prejudicado a movimentação de cargas nos portos do Arco Norte, gerando desvio de rotas de embarcações para outros terminais, o que pode contribuir para o aumento nos custos e possíveis atrasos na entrega.

A queda nos preços das commodities e a seca prolongada que atinge diversas regiões produtoras no Brasil têm freado os investimentos no campo e atrasado a compra de fertilizantes para a safra 2024/25, o que pode reduzir a demanda pelo insumo este ano. No entanto, esse cenário gera preocupação diante de possíveis gargalos logísticos, caso as aquisições fiquem muito concentradas. Somado a isso, a situação de seca tem prejudicado a movimentação de cargas nos portos do Arco Norte, gerando desvio de rotas de embarcações para outros terminais, o que pode contribuir para o aumento nos custos e possíveis atrasos na entrega.

Em 2023, o Brasil obteve crescimento no rebanho bovino de 1,6%, atingindo 238,6 mi de cabeças, o maior número da série histórica iniciada em 1974, embora o ritmo de crescimento tenha desacelerado. O rebanho de aves cresceu 0,6%, chegando a 1,6 bi, enquanto o número de galinhas reprodutivas subiu 2,4%. Por outro lado, o rebanho de suínos caiu 3,1%, totalizando 43,0mi de animais. Enquanto isso, a produção de ovos de galinha aumentou 2,9%, alcançando 5 bi de dúzias, um novo recorde. Assim como para a produção de leite, que bateu recorde com 35,4 bi de litros (+2,4%), apesar da leve queda no número de vacas ordenhadas, resultado do aumento de produtividade devido ao uso de tecnologias no setor. Os dados são da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do IBGE.

Concluindo a nossa análise do agronegócio, apresentamos na sequência os preços dos principais produtos agrícolas na data de fechamento da coluna. Para a soja, considerando entrega em cooperativa do estado de São Paulo, a cotação era de R$ 127,20/sc (60kg); e o contrato para entrega em mar/25 estava em R$ 118,80/sc. No milho, o preço físico era de R$ 62,00/sc; e o contrato com entrega em mar/25 na BR apresentava cotação de R$ 70,60/sc. O algodão (base Esalq) estava cotado em R$ 128,34/@. Demais produtos, considerando os dados do Cepea/Esalq, apresentavam as seguintes cotações: café arábica estava em R$ 1.485,84/sc, alta mensal de 2,6%; o trigo Paraná estava em R$ 1.460,58/t, baixa mensal de 2,1%; a laranja para indústria cresceu 3,7% no comparativo mensal, somando R$ 83,91/cx (40,8 kg); e o boi gordo encerrou o mês com uma recuperação significativa de 8,4%, em preços de R$ 259,95/@.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em outubro são:

  1. O aspecto mais relevante para acompanhar neste momento é a chegada das chuvas no Centro-Sul do Brasil como ponto de partida para a semeadura de grãos 2024/25, especialmente da soja (milho já iniciado). A previsão indica chuvas apenas no início de outubro, o que já indica atraso na safra, o que pode prejudicar tanto o cultivo de verão, mas principalmente a 2ª safra de milho e outras.
  2. Acompanhar como será a “opção de plantio” do agricultor brasileiro. Apesar das estimativas mais recentes (como a da Conab) não apontarem grandes mudanças, a atratividade de preços pode estimular o produtor a cultivos alternativos, especialmente na safrinha (algodão, sorgo, gergelim e outros).
  3. Nos Estados Unidos, a colheita foi iniciada e o inverno se aproxima. No acompanhamento do USDA, o ritmo está de dois a três pontos percentuais acima da média dos últimos cinco anos. Bom ritmo reduz as chances de perdas e reforça a oferta de grãos.
  4. Os impactos na economia de: aumento de juros no Brasil; corte de juros nos Estados Unidos; as eleições no Brasil, Estados Unidos – e outros países – e seus impactos; e os novos fatos na geopolítica, especialmente o aumento das tensões no Oriente Médio. No fechamento da nossa coluna, o dólar estava em R$ 5,51, baixa de 2,5% no comparativo com a mesma data do mês anterior. Será decisivo aproveitar momentos para decisões nesta safra.
  5. Impactos do clima sobre as safras de cana, laranja, café, entre outros.

Reflexões dos fatos e números do agro em agosto/setembro e o que acompanhar em outubro

Na cana

O processamento acumulado da safra até 1º de setembro totalizou 422,6 mi de t, um crescimento de 3,9% em relação às 406,6 mi de t processadas no mesmo período da safra anterior. No entanto, na 2ª quinzena de agosto, a moagem foi de 45,1mi de t, uma queda de 3,2% comparada as 46,6mi de t do ciclo 2023/24, segundo dados da Única (União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia). Até o final de agosto, 258 usinas estavam em operação no Centro-Sul, das quais 239 processavam cana-de-açúcar, nove fabricavam etanol a partir de milho e 10 eram flex.

A qualidade da matéria-prima, medida pelo ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), foi de 155,3 kg/t na segunda metade de agosto, um aumento anual de 0,9%. Já no acumulado da safra, o ATR foi de 137,3 kg/t, praticamente estável.Omix de produção acumulado até 01/09 foi de 49,15% para o açúcar (queda anual) e 50,85% para o etanol (alta). Enquanto isso, na última metade de agosto o mix foi de 48,85% para o adoçante (queda) e 51,15% para o biocombustível (alta).

É importante ressaltar que esses dados ainda não refletem totalmente o impacto das queimadas nas lavouras do Centro-Sul, principalmente em São Paulo, onde os incêndios foram mais intensos após o dia 22/08. Um levantamento da Unica, que abrange cerca de 75% da produção paulista, apontou que 231,8 mil ha foram afetados, sendo 132 mil ha de áreas que não haviam sido colhidas e 99,8 mil ha de áreas já colhidas ou em estágio inicial de plantio. Nas áreas já colhidas, há risco de falha na rebrota e replantio e novos tratos culturais podem ser necessários, como adição de fertilizantes e herbicidas. Em locais ainda não colhidos, há perda de qualidade da matéria-prima e possíveis atrasos na colheita. Esse cenário tende a dificultar a produção de açúcar e diminuir a eficiência agrícola.

A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) divulgou que os prejuízos dos produtores com os incêndios já chegam a R$ 1,2 bi, porém, é um valor que será constantemente reavaliado, uma vez que os focos continuam e a seca tende a se estender até o final de setembro. Apenas na 2ª quinzena de agosto, os incêndios atingiram cerca de 400 mil há de cana-de-açúcar no Centro-Sul, de acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). O clima seco gerou um déficit hídrico de mais de 1.000 milímetros entre abril e agosto de 2024. Esse cenário já vinha reduzindo a produtividade agrícola, que caiu 13,7% em agosto, com um rendimento de 78,7 t/ha. No acumulado da safra, a queda foi de 7,4%, com 86,4 t/ha.

No açúcar

A produção na 2ª quinzena de agosto caiu 6,0%, totalizando 3,3 mi de t. Entretanto, no acumulado da safra, a produção já somou 27,2mi de t, um aumento de 3,9% frente ao ciclo passado (26,1 mi de t), de acordo também com a Unica.

Em relação às exportações brasileiras, o volume foi recorde em agosto, tendo alcançado 3,2 mi de t (+8,2%) e o equivalente a US$ 1,79 bilhão (-0,9%). A queda na receita mesmo com a quantidade recorde foi causada pela forte oferta do Brasil que impactou o preço médio, chegando a US$ 457,0/t (-8,4%), de acordo com a plataforma Agrostat do Mapa.

A produção de açúcar no Centro-Sul para a safra 2024/25 deve ser quase 9,0% menor do que o inicialmente previsto, em razão da seca severa e incêndios, segundo análise da Czarnikow. A empresa agora projeta uma produção de 39,2 mi de t, uma redução de mais de 7,0% em relação ao recorde alcançado na safra anterior, embora ainda seja o segundo maior volume da história. Enquanto isso, os estoques de açúcar deverão atingir o menor nível desde a temporada 2020/21, ficando abaixo de 2,0mi de t.

Em função das queimadas no Brasil, os preços do açúcar em Nova York voltaram a crescer nos últimos dias. Na data de fechamento da nossa coluna, o contrato out/24 estava em 20,79 centavos de dólar por libra-peso. Um pouco mais adiante, o contrato de mar/25 era cotado em US$ 21,15 cents/lb. Em Londres, o açúcar branco estava em US$ 557,00/t no contrato de out/24; e em US$ 555,10/t para mar/25. No Brasil, o Indicador Açúcar Cristal Branco São Paulo (Cepea/Esalq) estava em R$ 141,44/sc (60kg), alta mensal de 6,0%.

No etanol

A fabricação desde o início da safra 2024/25 atingiu 20,5 bi de litros, um aumento de 7,1%. Desse total, 13,0 bi de litros são de etanol hidratado (+16,3%) e 7,5bi de litros de etanol anidro (-5,8%). Na 2ª metade de agosto, a produção de etanol somou 2,4 bi de litros, sendo 1,6bi de litros de hidratado (+10,3%) e 888,9 mi de litros de anidro (-0,1%). A produção de etanol de milho também aumentou, totalizando 3,1 bi de litros no acumulado da safra, um avanço de 26,9%.

As vendas de etanol em agosto de 2024 alcançaram 3,1 bi de litros, um aumento de 3,8% em relação ao mesmo mês da safra anterior. O etanol hidratado registrou um crescimento de 6,8%, com 1,9 bi de litros vendidos, enquanto o anidro teve uma ligeira queda de 1,0%, somando 1,1 bi de litros. Desde o início da safra, a comercialização de etanol totalizou 14,7bi de litros, um aumento de 16,9%, com destaque para o hidratado, que cresceu 34,0%, enquanto o anidro apresentou uma queda de 5,2%. A comercialização do hidratado no mercado interno segue em alta há 12 meses, atingindo um nível superior ao de 2023. Entre 338 municípios analisados pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), 206 registraram preços do etanol abaixo da paridade com a gasolina. Nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, o etanol apresentou vantagem econômica sobre a gasolina, o que reforça as expectativas de manutenção do consumo do biocombustível.

No mercado de CBios, até 09/09 dados da B3 indicam que foram emitidos 28,7 mi de créditos, dos quais 28,6 mi estão disponíveis para negociação. Ao considerar os créditos já apresentados, o volume representa 83% da meta de descarbonização estabelecida para 2024.

No mercado de CBios, até 09/09 dados da B3 indicam que foram emitidos 28,7 mi de créditos, dos quais 28,6 mi estão disponíveis para negociação. Ao considerar os créditos já apresentados, o volume representa 83% da meta de descarbonização estabelecida para 2024.

O Itaú BBA projeta um crescimento de 25% na produção de etanol de milho no Brasil para a safra 2024/25, atingindo 7,8 bi de litros, com expectativa de um aumento de 11% em 2025/26, chegando a 8,7 bi de litros. O consumo de milho para essa produção deve alcançar 17,3 mi de t em 2024, representando 21,0% do consumo doméstico, e subir para 19,4 mi de t em 2025. Atualmente, o Brasil tem 21 usinas de etanol, sendo 11 exclusivamente de milho e 10 usinas flex. A próxima fronteira do setor deve ser a produção de etanol a partir do trigo, com três usinas em construção no Rio Grande do Sul.

O preço do etanol hidratado (já com impostos) no município de Ribeirão Preto (SP) estava em R$ 2,950/l em 18 de setembro, no fechamento da nossa coluna. Já o anidro estava em R$ 3,00/l. Ambos apresentaram uma leve alta semanal nos preços. Dados são da SCA Brasil.

Valor do ATR: Em agosto, o preço do Açúcar Total Recuperável (ATR), divulgado pelo Consecana, fechou o mês em R$ 1,1738/kg, 0,2% menor que julho. No histórico da safra 2024/25, seguem os preços médios mensais: em abr/24, R$ 1,1879/kg; mai/24, R$ 1,1684/kg; jun/24, R$ 1,1635; jul/24, R$ 1,1759/kg e agora em ago/24 fomos a R$ 1,1730/kg. No acumulado do ciclo, estamos em R$ 1,1701. Seguimos sugerindo um valor entre R$ 1,17/kg e R$ 1,19/kg, devido aos impactos na produtividade, pensando nos incêndios e secas severas no Centro-Sul.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em outubro na cadeia da cana:

  1. Impacto dos incêndios nos canaviais na região Centro-Sul e a continuidade da seca na região. A mensuração das perdas é praticamente incerta até agora, mas algumas estimativas indicam entre 3 a 5% de redução na moagem. Muitas usinas seguem colhendo a cana que foi queimada, matéria-prima que chega à indústria com qualidade inferior.
  2. Pensando já em 2025/26, é importante acompanhar a previsão climática. Precisamos entender se as chuvas torrenciais serão suficientes para “recuperar” áreas de canavial queimado, o que, a depender dos volumes, pode afetar também a produtividade do próximo ciclo.
  3. No açúcar, a recente alta nos preços, baseada nos fatores citados anteriormente, deve se manter ao menos até termos mais clareza da moagem no Brasil.
  4. O preço do petróleo acumulou quedas no último mês com as preocupações com a economia dos Estados Unidos, mas voltou a crescer nos últimos cinco dias com as novas tensões no Oriente Médio. No fechamento da nossa coluna, o WTI Crude estava em US$ 72,35/barril (+0,6%/mês) e o Brent estava em US$ 74,86/barril (-0,8%).
  5. Por fim, vamos seguir acompanhando as vendas do etanol no mercado interno. O consumo vem vindo firme e pode ajudar em preços no final da safra.

*Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

**Vinícius Cambaúva é associado na MarkestratGroup e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro-Agrônomo pela FCAV/UNESP e mestre em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

***Beatriz Papa Casagrande é consultora na MarkestratGroup, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Homenageada do mês

Neste mês, nossa singela homenagem vai para Rosana Amadeu, a primeira mulher a assumir a presidência do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e de Biocombustíveis (CEISE-BR). Rosana tem uma história longa com o setor, tendo nascido em uma colônia da Usina São Martinho, em Pradópolis (SP). Aos 17 anos foi trabalhar na Zanini, em Sertãozinho (SP). Mais recentemente, Rosana foi indicada para participar do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), entidade voltada à criação de políticas públicas para desenvolvimento sustentável do Brasil. Inspirador ver o exemplo de trabalho, dedicação e a representatividade feminina da Rosana no agro. Fica o nosso reconhecimento!

Fonte: Revista Canavieiros