Por Tatiana Freitas
O grupo Scheffer, um dos maiores grupos agrícolas do Brasil e propagador da agricultura regenerativa, decidiu abrir as portas de sua fábrica on-farm em Sapezal, em Mato Grosso, para produção comercial de insumos biológicos.
A empresa comandada por Guilherme Scheffer anunciou, nesta semana, uma “parceria estratégica” com a Andermatt, tradicional fabricante de biológicos de origem suíça. Pelo acordo, a Andermatt utilizará a biofábrica da Scheffer para produzir um dos insumos de seu portfólio, hoje praticamente todo importado.
Para a Andermatt, a produção local trará mais segurança e agilidade no fornecimento de insumos, além de maior competividade – a empresa deve se beneficiar de uma relevante redução nos custos com transporte. Para a Scheffer, a parceria visa fortalecer a sua capacidade de oferecer soluções biológicas para a agricultura.
“Essa parceria é um ganha-ganha. Não foi uma discussão sobre a Scheffer ganhar dinheiro com a Andermatt e nem sobre a Andermatt usar a Scheffer. Temos um objetivo comum, o de levar produtos melhores para o Brasil de forma mais competitiva”, disse Carlos Gajardoni, CEO da Andermatt no Brasil, ao The AgriBiz .
Com a fábrica da Scheffer, a Andermatt estima até quadruplicar a capacidade de oferta de biológicos no Brasil, onde a demanda por esse tipo de insumo cresce em torno de 30% ao ano. A Scheffer, que cultiva grãos e algodão em aproximadamente 220 mil hectares no Mato Grosso e no Maranhão, vai ter acesso ao know-how na produção de biológicos da Andermatt, que atua há quase 40 anos no setor.
“Pesquisamos biológicos muito antes de virarem moda”, diz Gajardoni, que fez questão de destacar duas importantes características comuns aos dois grupos durante a entrevista: são empresas familiares e independentes, com um histórico importante na agricultura regenerativa.
“A parceria com a Andermatt traz um novo olhar para a produção de biológicos na Scheffer, complementando as tecnologias já existentes com novas tecnologias que aumentam o tempo de prateleira das soluções biológicas”, disse Arthur Almeida, head de marketing e parcerias estratégicas da Scheffer, em comunicado.
Além disso, os insumos que a Scheffer produz têm um shelf life de 40 a 60 dias, enquanto os da Andermatt duram aproximadamente 24 meses. Outro diferencial é que os produtos industriais são muito mais concentrados do que os produzidos on-farm, o que pode gerar economias significativas com diesel nas aplicações em grandes áreas.
A planta da Scheffer vai passar por adaptações e receber equipamentos para transformar seu ativo on-farm em uma unidade fabril. Haverá mudança nos processos, sistemas e implantação de equipamentos. “O produto que vai sair da Scheffer é exatamente igual ao que sai da Alemanha”, diz o CEO da Andermatt. “A Scheffer terá acesso ao nosso know-how.”
A parceria é anunciada num momento de escrutínio no mercado de biológicos on-farm. Como mostrou recentemente em uma , multiplicar bactérias e fungos dentro das propriedades tem se revelado mais difícil do que o inicialmente esperado, levando algumas (grandes) empresas a reavaliar a sua estratégia, aumentando as compras de produtos de prateleira em vez de investir na produção on-farm.
Os biológicos na Scheffer
Com a parceria, a Scheffer coloca o segundo pé na produção de bioinsumos. Em uma indústria no Pará, o grupo já atua no beneficiamento de fósforo com um processo inovador, no qual utiliza apenas o calor, sem a necessidade de água ou produtos químicos. Além de ser mais sustentável, o processo propicia uma libreação gradual do fósforo, minimizando a sua fixação no solo e fornecendo o nutriente para a planta durante todo o ciclo.
A empresa possui outra parceria com a Syngenta para desenvolver microrganismos para a produção de biodefensivos. pelas empresas, a ideia era levar os primeiros insumos biológicos ao mercado na safra 2023/24, o que não se confirmou.
Os termos financeiros do acordo com a Andermatt, que é de longo prazo e preserva a propriedade intelectual do grupo suíço, não foram divulgados. Num primeiro momento, a Andermatt vai produzir o Phosbac, bioinsumo que estimula o crescimento e ativa o sistema de defesa das plantas, em Sapezal. Mas Gajardoni, executivo com passagens pela Syngenta e Agrogalaxy, diz que outros produtos poderão ser produzidos na fábrica da Scheffer posteriormente.
Quem é a Andermatt
Criada na década de 1980 por um casal de pesquisadores na Suíça, a Andermatt tem atualmente 18 produtos no portfólio, produzidos em 11 fábricas espalhadas pelo mundo. No Brasil, a empresa possui apenas uma unidade em Joinville (SC), onde são fabricados três produtos.
Neste ano, a empresa prevê mais que dobrar o faturamento no Brasil, atingindo R$ 80 milhões ante R$ 39 milhões em 2023. Para 2025, a meta é chegar a R$ 120 milhões.
O acordo com a Scheffer não significa que a Andermatt não pretende ter mais uma fábrica no Brasil. Pelo contrário, isso está nos planos de médio prazo da empresa, que tem crescido por meio de aquisições. No mês passado, a Andermatt anunciou a compra da BioTepp, uma empresa canadense de P&D especializada no controle de pragas. (Ao contrário do informado anteriormente, a Andermatt tem origem suíça, e não alemã. O texto foi corrigido.)
Fonte: The AgriBiz