A Raízen inaugurou nesta sexta-feira sua segunda planta de produção de etanol de segunda geração, passo importante de um plano que prevê a entrega de mais quatro unidades produtivas até a safra 2025/26, elevando sua capacidade total de produção do combustível para 440 milhões de litros por ano.
Localizada no Parque de Bioenergia Bonfim em Guariba (SP), a nova planta da Raízen para o etanol celulósico, produzido a partir de resíduos de biomassa do processo de fabricação do etanol comum, recebeu 1,2 bilhão de reais em investimentos.
A inauguração contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu atuar como “garoto-propaganda de graça” do etanol de segunda geração da empresa.
“Quero dizer aos companheiros da Raízen… que eu vou fazer propaganda do nosso etanol de segunda geração”, disse Lula em discurso.
“Quando eu me reunir com o Biden, quando eu me reunir com o Xi Jinping, quando eu me reunir com o Modi, na Índia, quando eu me reunir com o Olaf Scholtz, na Alemanha, quando eu me reunir com o Macron, na França, eu vou dizer: ‘Escuta aqui, vocês têm etanol de segunda geração? Vocês têm? Então compra o nosso, para de encher o saco e compra aquilo que o Brasil tem competência de produzir'”, brincou Lula, referindo-se aos líderes dos Estados Unidos, da China, da Índia, da Alemanha e da França.
A unidade inaugurada nesta sexta-feira tem mais que o dobro da capacidade da primeira já em operação, em Piracicaba (SP), e aumentará a produção total da companhia para um volume de 112 milhões de litros por ano.
“Já temos no total de nove plantas 80% (de produção) comercializada, pelo menos. Tivemos uma demanda muito grande, principalmente para destino Europa, para essa solução de etanol celulósico, que é competitiva e única no mundo”, disse Paulo Neves, vice-presidente de Trading da empresa.
A expectativa da companhia, maior processadora global de cana-de-açúcar. é inaugurar mais duas unidades produtivas do E2G neste ano, no interior paulista, e outras duas em 2025, cada uma com capacidade de 82 milhões de litros anuais. Com isso, a companhia deve chegar a um volume de produção de 440 milhões de litros por ano na safra 25/26, quase quatro vezes do total registrado atualmente, com a inauguração da unidade de Guariba.
“Nesse momento, como a demanda veio muito forte e muita rápida…, a gente deu um tempo, uma parada na comercialização (de contratos para novas plantas) nesse momento, porque temos toda essa jornada de construção para concluir.”
A companhia pode voltar a comercializar contratos a partir do ano que vem para prosseguir com o plano de crescimento na área e atingir a meta de 20 plantas de E2G, indicou o executivo.
“É uma decisão comercial apenas de a gente esperar o melhor momento… Tem um olhar cuidadoso nosso de fazer a tecnologia funcionar muito bem nessas primeiras plantas antes de continuar a partir da nona.”
“Cada negócio novo que fomos fazendo ao longo do tempo, fomos fazendo comercialmente em condições melhores. O melhor negócio foi a nona planta, é uma questão realmente de gestão de portfólio”, acrescentou o executivo.
O etanol celulósico tem sido bastante demandado por países que buscam acelerar sua transição energética, notadamente da Europa, mas também Japão e Estados Unidos, disse Neves.
O principal uso do combustível nesses mercados está associado à matriz de transportes, com adição na gasolina para uso de carros de passeio. Mas também cresce o interesse do E2G como insumo para fabricação de novas soluções energéticas, a exemplo do combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), além de outras aplicações em setores como transporte marítimo e químicos.
Já no Brasil, dada a elevada penetração do etanol comum entre os consumidores, a perspectiva é de que a demanda pelo E2G se desenvolva mais para a frente, diante de mudanças de mercado que devem vir com projetos como o “Combustível do Futuro”, apontou Neves.
“É um exemplo de uma empresa que está investindo para industrializar e produzir uma solução de alto valor agregado para o mundo a partir do Brasil, com tecnologia líder”, finalizou.
A Raízen, uma joint venture da Cosan com a Shell, opera também na produção de bioenergia, açúcar e etanol de primeira geração, além de ser uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil.
Com uma pegada de carbono 80% menor que a gasolina brasileira e 30% menor que o etanol comum, o E2G é uma das apostas da Raízen em sua estratégia de se posicionar como fornecedora de soluções para a transição energética de seus clientes, em portfólio que inclui ainda produção de biogás e biometano, entre outros.
Em seu modelo operacional, a Raízen utiliza resíduos de biomassa da cana processada, com elevação da capacidade de produção de biocombustíveis em cerca de 50%, sem precisar aumentar a área plantada.
Segundo Neves, a companhia estuda empregar outras fontes de energia elétrica para suas plantas de açúcar e etanol, em substituição à atual cogeração com bagaço, como forma de liberar ainda mais insumo para a produção do E2G.
Fonte: UDOP (matéria originalmente publicada pela Reuters)