Por Daniela Walzburiech e Raphael Salomão
A previsão do tempo indica a formação de uma nova onda de calor no Brasil. De acordo com meteorologistas, é a quarta neste ano. as temperaturas devem aumentar, principalmente, na região entre São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, onde os termômetros devem marcar temperaturas acima de 35 °C.
O que explica a quarta onda de calor neste primeiro semestre do ano? Um dos fatores é o fenômeno climático El Niño. “Estamos com ele em ação. Apresenta pouca força, mas ainda atua. E é por causa disso que a onda de calor será menos intensa do que vimos na primavera, quando o fenômeno era muito mais forte”, explica Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima.
Outro fator contribui para ondas de calor mais frequentes e intensas no país, segundo Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo: o aquecimento global. Ela destaca que a condição já era esperada para a última temporada de primavera-verão do El Niño no Hemisfério Sul.
“Ano a ano, a gente vem observando uma condição atmosférica global mais aquecida, e o El Niño, por ser um evento de aquecimento de uma anomalia positiva de temperaturas no Oceano Pacifico Equatorial, que é a maior massa oceânica, transmite bem esse calor para a atmosfera. Então, ela fica mais aquecida, potencializando as ondas de calor”, conta.
As temperaturas devem permanecer elevadas pelo menos até a primeira semana de maio, acrescenta Willians Bini, CCO da plataforma de monitoramento de clima FieldPRO. Ele pontua, no entanto, que esta onda de calor tem diferenças importantes em relação às anteriores. Uma delas é ocorrer em um período de menor umidade. “Daqui para frente, começamos a falar de umidade baixa. Já começamos a falar de um ingrediente a mais, diferente do que tivemos”, explica.
Outra diferença é que os picos de temperatura não devem ser tão elevados, em comparação com as outras três ondas de calor já registradas neste ano.
“Os picos de calor não são tão comuns, mas bastante significativos se a gente pegar uma condição histórica. Vai pegar bem o Sudeste e parte do Centro-oeste. Uma onda de calor, a gente sempre compara com o que seria normal naquele período do ano. Nessa época do ano, as temperturas médias já são mais baixas. Então, 32ºC, 33ºC, já é onda de calor” diz.
Nas regiões de produção agrícola, a elevação das temperaturas não deve prejudicar lavouras nem atividades de campo, avalia o meterologista. Ele pontua que este período mais seco foi precedido de chuvas acima da média ao longo do mês. “Esse tempo mais seco não significa uma condição climática tão ruim para a agricultura”, afirma.
O que esperar dos próximos meses?
Marco Antônio dos Santos, da Rural Clima, afirma que os modelos climáticos não indicam, pelo menos até o momento, a formação de outras ondas para o período entre o outono e o inverno. No entanto, ressalta, as mesmas referências não mostraram, há cerca de 30 dias, a ocorrência na virada de abril para maio.
“Enquanto o El Niño não enfraquecer totalmente e a La Niña começar a influenciar o clima, não podemos eliminar totalmente a chance de novas ondas”, pontua.
O fenômeno La Niña se caracteriza pela queda na temperatura da porção equatorial do Oceano Pacífico para 0,5ºC. Quando está ativo, o volume de chuvas costuma diminuir no Sul do Brasil e aumentar no Norte e Nordeste. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste a chance é de períodos mais frios e chuvosos.
Nadiara Pereira, da Climatempo, por sua vez, não descarta a ocorrência de picos de calor ainda no mês de maio, o chamado veranico, como já foi registrado em anos anteriores.
“Com a La Niña, vão reduzir as chances para ondas de calor como essas que estão acontecendo, mas não pode-se descartar a presença de calor no próximo mês, mesmo o El Niño não estando em vigência. Porém, adianto que a chance de uma nova onda forte e duradoura começa a diminuir consideravelmente na transição do outono para o inverno. E além de estarmos entrando num período frio, também tem a condição de mudança no Oceano Pacifico”, finaliza.
Fonte: Globo Rural