Por Fernando Caixeta
Uma combinação de fatores que une a possível escalada de um conflito entre Israel e Irã, o aumento da taxa de juros pelo Banco Central do Japão e o temor de uma recessão na economia dos Estados Unidos derrubou a cotação de bolsas e commodities, incluindo o barril de petróleo, em todo o mundo na segunda (5/8).
O movimento foi puxado por uma venda em massa de ativos nos mercados asiáticos, o que provocou acionamento no Japão de ‘circuit breaker’, interrupção temporária das negociações em Bolsa. O petróleo sentiu a volatilidade, embora de maneira menos acentuada, pois já estava em tendência de baixa, saindo da faixa dos US$ 85 para a casa dos US$ 76.
Para a Stonex, consultoria especializada em contratos futuros e de commodities, há uma “briga” entre o Federal Reserve (FED), dos EUA, e a Opep+ na cotação do preço do barril. A organização que reúne os países exportadores de petróleo e aliados se movimenta para interromper os cortes na produção do último trimestre do ano, aumentando a oferta, o que pode levar a uma redução no preço do barril.
A medida da Opep coincide com o iminente corte na taxa básica de juros americana, mantida por ao longo das últimas oito reuniões entre 5,25% e 5,5%. Historicamente, o corte de juros da maior economia do mundo injeta liquidez nos mercados e estimula a atividade industrial, gerando mais demanda por combustível e, consequentemente, pressionando para cima o preço da matéria-prima.
De acordo com consultores da Stonex, a recompra de reservas estratégicas por países colocaram um “piso” no preço do brent. Sob o ponto de vista do investidor, passado o momento de pânico, este seria um bom momento para a compra, dada a perspectiva de recuperação dos preços, com a tendência forte de consumo e o impacto sazonal de alta de demanda com o verão americano.
O mercado vem precificando o corte de 50 pontos base nos juros americanos na próxima reunião, marcada para meados de setembro. Há também a perspectiva de um corte emergencial ainda neste mês, algo que não ocorre desde a pandemia de covid-19.
No mercado brasileiro, o dólar atingiu o maior valor desde 2021, batendo em R$ 5,86 na máxima do pregão de segunda-feira. Segundo a Stonex, a moeda brasileira segue pressionada por questões internas, como a preocupação com o cumprimento das metas fiscais e a pressão exercida pelo governo contra a independência do Banco Central.
Prova de que o fator interno pesou mais do que o externo para a alta do dólar é a queda no DXY, índice que mede a força do dólar em relação às principais divisas do mundo. Uma maior oferta de petróleo e menor de diesel pode significar ganhos com o crack spread, que é a diferença entre o preço do petróleo bruto e dos combustíveis refinados.
Outro ponto de atenção é a queda no preço da soja, principal matéria-prima do biodiesel, que compõe 14% do diesel vendido ao consumidor final brasileiro.
A retirada de benefícios fiscais da soja pelos EUA impactaram o preço do produto. O governo Biden transferiu da leguminosa para o sebo de origem animal os incentivos. Com isso, o Brasil se tornou o maior exportador de gordura animal para os EUA. No mercado interno, a antecipação da mistura obrigatória para 14% também absorveu a demanda pela soja.
Fonte: EPBR