
Saímos da COP30 com a proposta do Mapa do Caminho, que não foi aceita por unanimidade e dividiu os participantes em dois grandes blocos: aqueles que desejam reduzir o consumo de combustíveis fósseis e aqueles que não pretendem pisar no freio.
Embora o Mapa do Caminho seja uma proposta a ser delineada, o mundo da realpolitik já trabalha com diferentes perspectivas de redução de consumo de combustíveis fósseis e os cenários possíveis.
Consolidando relatórios da IEA (Agência Internacional de Energia), da EIA (Agência de Informações de Energia dos EUA) e da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), é possível prospectar três cenários para a demanda de petróleo até 2040.
Cenário 1 – Transição energética acelerada
Em um quadro de transição energética acelerada a partir do fim desta década, as políticas climáticas seriam acentuadas e haveria maior eletrificação do transporte. A demanda global de petróleo atingiria o pico entre 2028 e 2029 e depois cairia de forma contínua.
A produção ficaria estável até 2027, mas recuaria gradualmente conforme veículos elétricos ganham escala, a eficiência energética melhora e combustíveis de fontes renováveis avançam.
Após 2030, o mercado entra em declínio suave, com queda anual de cerca de 1 milhão de barris diários até 2045 — um caminho alinhado aos cenários de NZE (Net Zero 2050) da IEA.
O NZE prevê que a demanda por combustíveis fósseis atinja o pico antes de 2030 e depois entre em forte queda, com o consumo de petróleo recuando cerca de 75% até meados do século.
Para isso, seria necessária uma rápida expansão da eletrificação, com carros totalmente elétricos dominando as vendas até o fim desta década e um avanço maciço das fontes renováveis.
Hoje, o NZE é usado como referência por governos, bancos e empresas para orientar a transformação estrutural rumo às emissões líquidas zero em 2050.
Cenário 2 – Transição energética em velocidade média
Esta projeção representa a rota mais provável, com uma transição energética em andamento, mas sem rupturas. A produção global de combustíveis fósseis cresceria até o início dos anos 2030, puxada por novos projetos fora da OPEP+ e pelo shale dos EUA.
Depois disso, o mercado atingiria um platô em torno de 114–115 milhões de barris diários. A partir de meados da próxima década, a demanda cairia lentamente, levando a uma redução suave na produção. O petróleo seguiria relevante para a economia global até meados do século, mas perderia espaço gradualmente.
Cenário 3 – Transição energética em baixa velocidade
No terceiro cenário, a demanda continua crescendo pelo menos até 2040, reflexo de uma transição energética lenta, sobretudo nos países emergentes. A eletrificação avança em ritmo desigual, insuficiente para compensar o aumento do consumo em transporte, aviação e petroquímica.
Com políticas climáticas fracas ou inconsistentes, a OPEP+ ampliaria sua fatia de mercado e novos campos profundos entrariam em operação. Nesse caso, a produção pode alcançar 120 milhões de barris por dia — ou até 130 milhões — por volta de 2045.
É o cenário onde o petróleo segue dominante por muito mais tempo, distante das metas compatíveis com 1,5 °C.
Preços tendem a diminuir
Em relação ao preço, uma “faixa de referência plausível” poderia estar entre US$ 50 e US$ 70 por barril, em cenários de baixa ou moderada demanda, com oferta global razoável e transição energética em curso.
As projeções das principais casas apontam para um período de preços mais baixos do petróleo entre 2025 e 2026.
O Goldman Sachs trabalha com um cenário mais agressivo de queda, estimando o Brent na faixa de US$ 53 a US$ 56 em 2026, pressionado por um excesso de oferta global que deve se ampliar à medida que novos projetos entram em operação e os cortes da OPEP+ são revertidos.
O JPMorgan projeta valores um pouco mais altos, na casa de US$ 58 para o Brent, sugerindo um mercado ainda enfraquecido, mas sustentado por algum equilíbrio entre oferta e demanda.
Já o Barclays adota uma visão mais moderada, prevendo preços próximos de US$ 66 em 2025 e 2026, com uma correção mais suave e dependente do comportamento da produção global.
Em conjunto, essas estimativas indicam a formação de um “piso estrutural” de preços no médio prazo, inferior ao observado nos últimos anos.
Esse movimento tende a gerar compressão significativa de margens para empresas de exploração e produção, sobretudo aquelas expostas a custos mais altos, como shale gas e projetos offshore profundos.
A perspectiva de preços mais fracos também pode afetar receitas fiscais, reduzir o apetite por novos investimentos e levar ao adiamento ou redimensionamento de projetos com maior risco ou menor retorno. É um cenário que exige maior disciplina financeira das petroleiras e reforça o debate sobre diversificação e transição energética no setor.
Mas também não se pode descartar cenários com preços mais altos — caso a demanda se mantenha firme, a oferta seja reprimida, ou surjam choques geopolíticos, escassez ou restrições ambientais e/ou regulatórias.
Fonte: CNN