Por Nayara Machado
Relatório do think tank financeiro Carbon Tracker que avalia o alinhamento das majors de petróleo e gás às metas de descarbonização do Acordo de Paris aponta que, embora algumas empresas estejam declarando apoio à transição energética e investindo em novas tecnologias, suas estratégias ainda estão longe de contribuir com a meta de 1,5°C.
No ranking das mais distantes (.pdf) dos objetivos climáticos está a brasileira Petrobras, cujo plano estratégico para o período 2024-2028 prevê investimentos de US$ 7,5 bilhões em exploração de óleo e gás – aumento de 25% em relação ao planejamento anterior, mas menos que o que será aportado em projetos de baixo carbono (US$ 11,5 bilhões no período).
O Carbon Tracker examina as 25 maiores companhias de petróleo e gás listadas em bolsa e avalia o grau em que estão alinhadas com os objetivos climáticos de Paris.
São cinco métricas-chave: Opções de Investimento, Sanções de Projetos Recentes, Planos de Produção, Metas de Emissão e Remuneração Executiva.
Quase todas elas estão visando novos desenvolvimentos e aumentos de produção a curto prazo, embora a longo prazo, Repsol, Equinor e Shell estejam visando manter os volumes de produção estáveis, e a bp planeje uma redução.
As companhias são classificadas em uma escala de A-H, sendo A potencialmente alinhada com os objetivos do Acordo de Paris, e H a mais distante, levando a um aumento de temperatura de 2,4°C – ou pior.
A mais bem classificada é a britânica bp, com nota D. Já a estadunidense ConocoPhillips é a única com H.
Seis tiraram nota E, a maioria europeia: Repsol, Equinor, Eni, Shell, TotalEnergies e Chesapeake (EUA).
Outras quatro tiveram classificação G: ExxonMobil, Petrobras, Saudi Aramco e Pioneer. O restante tirou F.
Década perdida’
Em entrevista à agência epbr na CERAWeek 2024, na última segunda (18/3), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, reconheceu que a Petrobras ficou para trás nos últimos dez anos quando o assunto é transição energética, mas reafirmou que o plano é buscar novas fronteiras de exploração. Assista no YouTube
“Nós passamos praticamente dez anos observando essa cena e, de alguma forma, por um pretexto ou outro, nós ficamos para trás. Por outro lado, também não nos cabe agora cometer irresponsabilidades”, comentou.
Segundo Prates, como a expertise da estatal é exploração e produção offshore, a companhia vai continuar buscando novas fronteiras, tanto no Brasil como no exterior.
“Mas nessa mesma área existem potenciais duas coisas importantes para a transição energética. Uma é CCUS (captura, armazenamento e utilização de carbono), outra energia offshore, principalmente eólica”.
Alerta a investidores
O objetivo do ranking é alertar investidores. O think tank pontua que essas empresas, ao apostar no aumento de produção, estariam se expondo ao risco associado à redução da demanda por petróleo em um cenário de transição para fontes renováveis.
Na COP28, em Dubai, no ano passado, cerca de 200 países concordaram, pela primeira vez, em colocar no papel uma sinalização de que estão dispostos a uma “transição para longe dos combustíveis fósseis”.
Se isso se concretizar, investimentos em exploração devem se tornar ociosos, na visão dos analistas do Carbon Tracker.
Essa virada da demanda não está tão longe. Estimativa do Citi indica que o consumo global de petróleo deve começar a desacelerar em 2024. A projeção é um aumento de 1,3 milhão de barris por dia (bpd), abaixo do crescimento de 1,9 milhão de bpd em 2023. Para 2025, a previsão é ainda menor, entre 700 mil e 1 milhão de bpd.
1,5°C está aqui
Enquanto isso, o clima segue implacável. Na terça (19), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou seu relatório sobre o estado do clima global mostrando que recordes foram novamente quebrados – “e em alguns casos esmagados” – para os níveis de gases de efeito estufa, temperaturas superficiais, calor e acidificação dos oceanos, elevação do nível do mar, cobertura de gelo marinho na Antártica e recuo dos glaciares.
O resultado? Ondas de calor, inundações, secas, incêndios florestais e ciclones tropicais que se intensificam rapidamente causando perdas econômicas de bilhões de dólares.
O relatório da OMM também confirmou que 2023 foi o ano mais quente já registrado, com a temperatura média global próxima à superfície em 1,45 °C (com uma margem de incerteza de ± 0,12 °C) acima da linha de base pré-industrial. Foi o período de dez anos mais quente já registrado.
Além de estar aumentando a insegurança alimentar, na medida em que as mudanças climáticas já afetam a produção agrícola em diversas partes do mundo – inclusive no Brasil – a inação climática já está saindo cara.
“Em um cenário médio, para um caminho de 1,5°C, os investimentos anuais em financiamento climático precisam crescer mais de seis vezes, alcançando quase US$ 9 trilhões até 2030 e mais US$ 10 trilhões até 2050. O custo da inação é ainda maior. Agregando o período de 2025-2100, o custo total da inação é estimado em US$ 1,266 trilhão”, calculam os cientistas.
Fonte: EPBR