JORNAL DA BIOENERGIA – Segundo o CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, a safra atual de cana-de-açúcar tem sido significativamente impactada por variabilidades climáticas. Com base nos dados apresentados pela Climatempo e pela UNICA, a precipitação entre janeiro e junho esteve muito abaixo da média, e a estiagem prevista para os próximos meses deve continuar prejudicando a produtividade dos canaviais.
O Canal- Jornal da Bioenergia entrevistou Martinho Seiiti Ono que analisou os desafios e as estratégias que a SCA Brasil está adotando para enfrentar essa realidade. Ele destacou como essas condições climáticas podem afetar não apenas a safra atual, mas também a de 2025-2026, oferecendo uma visão detalhada das perspectivas para o futuro do setor sucroenergético.
Acompanhe a entrevista completa para entender as nuances desse cenário e as expectativas para a safra de cana 2024-2025.
Cana – Jornal da Bioenergia: Qual a importância das previsões meteorológicas para o planejamento da safra no setor sucroenergético?
Martinho Seiiti Ono: A atual safra de cana-de-açúcar, assim como todas as outras commodities agrícolas, tem apresentado variações significativas de produtividade devido às condições climáticas. No setor sucroenergético, enfrentamos, há dois anos, uma grande frustração com a colheita. No ano seguinte, experimentamos um sucesso sem precedentes, atingindo um recorde de moagem. Este ano, estamos em um patamar intermediário, também influenciados pelas condições climáticas, sem conseguir repetir o desempenho da safra anterior. As condições climáticas são, portanto, extremamente relevantes para determinar o tamanho efetivo da safra.
Canal: Quais ferramentas e tecnologias são mais utilizadas atualmente para previsões e análises meteorológicas no setor?
Martinho: Na última live da série “Conexão SCA Brasil”, discutimos um tema de grande relevância: as incertezas sobre o tamanho exato da safra atual, mesmo já tendo percorrido quase metade do período de colheita. Por isso, convidamos a Climatempo e uma profissional responsável pelo setor da cana-de-açúcar para analisar os indicadores até meados de julho, com mais de 40% da safra já concluída. Avaliamos informações relacionadas à moagem, produtividade e ao aproveitamento da cana até o momento, para projetar o tamanho da safra 2024-2025.
Os dados apresentados revelaram, com base nas informações da Climatempo, uma precipitação muito abaixo da média entre janeiro e junho. Essa redução acentuada nas chuvas vem afetando os canaviais não apenas para a safra atual, mas também para a próxima, de 2025-2026. A Climatempo prevê ainda uma estiagem para os meses de julho, agosto e setembro, o que prejudicará a produtividade dos canaviais. Em contrapartida, essas condições climáticas aceleram a moagem, tornando-a mais eficiente devido ao clima seco, favorável à colheita e ao aproveitamento do tempo.
Os reflexos disso serão sentidos na produtividade desta safra, especialmente da cana colhida entre julho e o final do período de colheita, com consequências previstas para 2025-2026. Dados fornecidos pela UNICA indicam uma produtividade menor do que a do ano passado, conforme esperado, apesar do avanço na moagem, permitido pelo tempo firme. Portanto, temos mais cana moída e mais área colhida, mas com menor produtividade. Combinando as informações da UNICA e da Climatempo, constatamos que a moagem continuará avançando até o final de setembro, mas com prejuízo no TCH (toneladas de cana por hectare)
Canal: Qual é a projeção para a redução da safra 2024-2025 e quais são as principais causas dessa diminuição esperada?
Martinho: Ao avaliarmos o que foi colhido até agora e projetando a área disponível de colheita, diante das condições climáticas de estiagem para os próximos meses, a SCA realizou uma projeção desta safra e constatamos que teremos, sim, uma quebra bastante acentuada em relação à safra anterior, que foi de 654 milhões de toneladas. Este ano, teremos algo em torno de 615 e 622 milhões de toneladas de cana, não obstante um crescimento de 4,8% de área. Mesmo com o crescimento de área plantada, ainda assim vamos moer menos cana do que no ano passado. Em termos de TCH, no passado tivemos 88 e a SCA calcula que para este ciclo, teremos algo como 78 a 79 toneladas, quase 10 toneladas a menos do que o obtido no período anterior.
Canal: Quais são os principais desafios que as alterações climáticas têm trazido para o setor sucroenergético? De que maneira as mudanças no clima global têm afetado a qualidade da cana processada?
Martinho: O clima é de suma importância para que os produtores e indústrias continuem contratando e avaliando como serão as condições climáticas, para poderem fazer o planejamento de plantação, colheita e projeção. O clima entrou no radar de todas as empresas nesse sentido. Temos percebido a variação de algumas mudas, variedades de cana que são mais resilientes a essas variações climáticas, mas que ainda não tem tido uma influência positiva, no sentido de poder resistir a todas essas variações climáticas, ora com muito sol, ora com seca prolongada. É um desafio que a ciência tem de começar a desenvolver com mais intensidade, para que se consiga colher do campo a produtividade que é esperada.
Fonte: Canal Jornal da Bioenergia