Persiste impasse entre usinas e produtores de cana sobre preços

Estudo do FGV Agro vai servir de base para o cálculo do ATR
Foto: Wenderson Araújo/CNA

Por Patrick Cruz

Nove meses depois de firmarem contrato para tentar encerrar as divergências sobre o cálculo do reajuste do preço da matéria-prima, usinas e produtores de cana-de-açúcar continuam em um impasse. O novo capítulo das discordâncias tem relação com a efetiva aplicação do sistema de definição dos valores, que segue pendente.

Em 28 de junho do ano passado, a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) e a União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica) assinaram contrato com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro) para que a instituição ficasse responsável pelos estudos que embasariam o cálculo do chamado Açúcar Total Recuperável (ATR), indicador que define quanto as usinas pagam aos produtores de cana pela matéria-prima.

De acordo com a Unica, o FGV Agro entregou o relatório dos estudos em 17 de janeiro deste ano. A entidade afirma que o contrato previa que, a contar da data de entrega, Orplana e Unica teriam 60 dias para se manifestar sobre o relatório e fazer eventuais sugestões. Depois disso, o sistema passaria a vigorar.

A Unica alega que o prazo já se encerrou. No dia 31 de março, o Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), a entidade formada por Unica e Orplana, comunicou que os estudos necessários à revisão dos parâmetros técnicos e econômicos ainda não terminaram.

“Ratificamos que eventuais ajustes serão aplicados retroativamente na safra 2024-2025 (…) As tratativas (…) estão em andamento para que se possa finalizar o trabalho com a maior celeridade possível”. Unica e Orplana se revezam na presidência do Consecana. No momento, é a associação dos produtores que encabeça o conselho.

A Unica disse que apresentaria na noite desta terça-feira (08/04) uma notificação extrajudicial para solicitar a adoção do novo cálculo. O Valor não teve acesso ao conteúdo do documento nem pôde confirmar se a entrega efetivamente ocorreu. “Estamos impedidos de aplicar os resultados do estudo”, disse ao Valor o presidente da Unica, Evandro Gussi.

José Guilherme Nogueira, presidente da Orplana, disse ao Valor que o processo está bem perto da conclusão, mas que ainda faltariam “detalhamentos” do estudo. Sem esses materiais, que ambas as entidades solicitaram, argumenta, não se poderia considerar a contagem de 60 dias a partir de 17 de janeiro. “Todos queremos um processo célere, mas não podemos repetir erros do passado. Esse cuidado vai dar tranquilidade para toda a cadeia”, afirmou.

Fonte: Globo Rural