Por Edson Kawabata
Quem viu um carro elétrico nesta semana? E como era dois anos atrás? Para quem mora em grandes centros urbanos, a mudança é evidente. Cada vez mais presentes em nossas ruas, os carros elétricos ainda enfrentam a desconfiança de consumidores mais conservadores, que questionam a limitação de autonomia e desempenho, assim como a confiabilidade e durabilidade das baterias.
Porém, a nova realidade em mercados desenvolvidos aponta para uma tendência de forte crescimento nos próximos anos, alcançando uma participação em vendas globais maior do que a dos veículos a combustão ao final da próxima década.
Segundo o Global EV Outlook 2024, o crescimento global de vendas de carros elétricos neste ano deve ser de 25%, e mais de 20% dos carros vendidos globalmente serão elétricos, sendo que na China a participação em vendas deve alcançar 45%, em comparação a 25% na Europa, 11% nos EUA e 3% no Brasil.
Políticas públicas orientadas para a descarbonização, como o Net-Zero Industry Act, da União Europeia, e o Inflation Redution Act (IRA), dos EUA, devem impulsionar ainda mais a produção destes veículos. Como referência, as 20 maiores montadoras globais (que representam cerca de 90% da produção de veículos) já anunciaram investimentos em eletrificação que somaram mais de US$ 500 bilhões no ano passado e definiram metas para elevar a participação de carros elétricos, cuja produção anual deve chegar a 40 milhões de unidades em 2030.
Nessa tendência, as projeções da Agência Internacional de Energia (IEA) indicam que 2/3 dos carros vendidos em 2035 poderão ser elétricos, se as metas energéticas e climáticas dos governos forem alcançadas na plenitude, o que implicaria numa redução de consumo de 12 milhões de barris de petróleo por dia.
Uma das principais barreiras históricas para adoção de carros elétricos sempre foi o preço. Na China, onde a penetração é mais elevada, estima-se que 60% dos veículos já sejam mais baratos do que seus equivalentes à combustão, o que não ocorre na Europa e nos EUA, onde os elétricos ainda são de 10 a 50% mais caros do que seus comparáveis a combustão.
Para alcançar a necessária competitividade técnica e comercial, novas tecnologias começam a despontar, como as baterias à base de fosfato de lítio ferro. Em comparação com baterias de lítio construídas à base de óxidos de cobalto, manganês e níquel, as de lítio ferro são mais seguras (não explodem ou pegam fogo, mesmo em condições adversas), mais duráveis (vida útil de até 10 anos), mais leves (metade do peso de uma de óxido de manganês), além de serem atóxicas e não contaminarem o ambiente com metais de terras raras.
No Brasil, as vendas de veículos elétricos e híbridos cresceram 91% em 2023, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). No total, foram 93.927 emplacamentos (vs. 49.245 em 2022), e foi o primeiro ano em que os modelos plug-in ultrapassaram em vendas os híbridos. Os 100% elétricos representaram 56% das vendas, com 52.359 unidades, enquanto os híbridos a gasolina e flex somaram 41.568 unidades no ano.
Em 2024, o ritmo está ainda mais acelerado, com crescimento de 146% no primeiro semestre em relação ao mesmo período em 2023, totalizando 79.304 emplacamentos. Deste total, a chinesa BYD vendeu 32.574 carros, contra 12.730 da Great Wall (GWM) e 10.541 da Toyota.
Como ilustração da competitividade da oferta, o carro mais vendido entre os 100% elétricos é o BYD Dolphin Mini, com preço em torno de R$ 115 mil, um motor de 75 cv e uma autonomia de 280 km no ciclo INMETRO. É também o carro mais econômico do mercado, consumindo menos de R$ 0,09 por km.
Líder no segmento de elétricos, a BYD já anunciou investimentos de cerca de R$ 6,5 bilhões no Brasil, com foco na unidade em Camaçari, na Bahia, numa área de 330 mil m², onde prevê a geração de mais de 10 mil empregos diretos e indiretos em parceria com o Governo Estadual.
Para o usuário final, a compra de carros elétricos apresenta incentivos adicionais, como a liberação do rodízio de veículos no município de São Paulo e um reembolso de 50% sobre o IPVA pago, concedido pela prefeitura da capital.
Porém, estes incentivos variam por UF, demonstrando falta de coesão das políticas públicas sobre o tema.
Por exemplo, a isenção de IPVA para carros elétricos é integral no DF, RS e MA. No RJ, o IPVA para carros elétricos é de 0,5% (para híbridos e GNV é de 1,5%, enquanto para flex é de 4%). Em MG, haveria isenção tanto para carro elétrico quanto para híbrido, dentro da condição que precisam ser fabricados no próprio estado. Mas, não havendo nenhuma fábrica até o momento, não há nenhuma isenção.
Em resumo, enquanto o setor público ainda se organiza para definir políticas que estimulem o investimento em eletrificação de veículos, o mercado consumidor vai gradualmente aderindo à tendência global de uma mobilidade mais limpa, rompendo barreiras culturais e cultivando hábitos junto a uma nova geração de usuários.
Fonte: Money Times