Paralisações nos EUA e China geram incertezas no mercado


DE OLHO NO BIODIESEL BOLETIM SEMANAL DE MERCADO DA SCA BRASIL (29/09 a 03/10/2025)

A participação do óleo de soja na margem de lucro da indústria esmagadora, ou “crush margin”, alcançou o recorde de 50,3% na semana anterior, superando o percentual do farelo de soja, que caiu para 49,7%. O fato inédito foi divulgado na segunda-feira (29/09) em levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com base nos preços da soja em grão, do farelo e do óleo negociados na região de São Paulo. Pesquisadores explicam que esse cenário se deve aos recuos um pouco mais intensos nos valores do farelo e da soja em grão na última semana – o óleo também se desvalorizou, mas de forma leve.

Relatórios referentes aos estoques trimestrais de soja e da produção de biocombustíveis nos Estados Unidos, divulgados em 30/09, apresentaram viés levemente altistas ao indicar estoques de soja pouco abaixo das expectativas. O relatório referente à produção apresentou alta da produção e de consumo de insumos. Dessa forma, a queda nos estoques de soja junto ao aumento do consumo e share do óleo de soja oferecem suporte aos preços. Contudo, ao longo da semana foi-se perdendo esse viés, ao passo que o mercado seguiu demonstrando preocupações com uma estagnação das negociações entre EUA e China sobre a soja americana e a paralisação parcial do governo americano.

A paralisação governamental vem interrompendo a divulgação de indicadores importantes para o mercado, como os dados oficiais de esmagamento, produção e consumo de óleos, além do Relatório de Situação de Emprego, o “payroll”. O cenário também paralisou o processo de elaboração e regulamentação do crédito fiscal 45Z, cuja resolução final deve sofrer atrasos para ser concluída. Nesse contexto, caso a paralisação se prolongue por várias semanas, o mercado pode passar a temer atrasos nos pagamentos do benefício aos produtores de biocombustíveis, fator que aumentaria a aversão ao risco no setor.

O contrato de dezembro/2025 do óleo de soja negociado na Bolsa de Chicago (CBOT, na sigla em inglês) encerrou em 50,05 cents/libra na sexta-feira (03/10), apresentando desvalorização de 0,28% na semana. O prêmio de novembro/2025 do óleo de soja em FOB Paranaguá subiu 20 pontos, fechando a semana em 0,60 cents/libra. O flat price do óleo de soja FOB Paranaguá fechou em US$ 1.116,64/ton, uma leve valorização (0,12%) em relação com a semana anterior.

Elaboração: SCA Brasil

No levantamento realizado pela SCA Brasil, o mercado spot de biodiesel teve na semana um volume de vendas de 1.420 m³, uma redução de 990 m³ em relação à semana anterior, com o destaque para o estado do Mato Grosso com volume comercializado de 820 m³. O preço médio apurado na semana foi de R$ 6.052/m³, com PIS/COFINS e sem ICMS, praticamente estável em relação à semana anterior.

Elaboração: SCA Brasil

Segundo o levantamento realizado entre 22 e 28/09 pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do biodiesel negociado entre usinas e distribuidores ficou em R$ 5.897,57, valorização de 0,62% em relação ao valor médio da semana anterior. A maior variação foi na região Centro-Oeste, com valorização de 2,51%. O mercado acumula uma redução de 6,83% no ano.

Elaboração: SCA Brasil

O mercado da soja vive um momento de incerteza e depende diretamente dos rumos da política internacional e do clima. A próxima reunião entre Donald Trump e Xi Jinping será determinante para a tendência de preços. Entre os fatores de alta, destacam-se a expectativa de auxílio bilionário de Trump aos agricultores americanos, estimado entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões, o que pode sustentar os preços no curto prazo. No Brasil, a demanda firme por óleo de soja se mantém mesmo diante da queda do petróleo e do feriado da Semana Dourada na China, refletindo a procura por biocombustíveis e os estoques estáveis de óleos vegetais.

Já do lado baixista, o mercado enfrenta pressão com a falta de relatórios do USDA devido à paralisação do governo americano, o que aumenta o pessimismo dos investidores. Somando ao ritmo acelerado da colheita nos EUA, favorecido pelo clima seco. Outro ponto de peso é a ausência da China no mercado americano, que deixa em aberto duas possibilidades: retomada das compras, beneficiando Chicago, ou consolidação da preferência pela América do Sul, o que manteria os preços brasileiros relativamente firmes.