Por Arnaldo Luiz Corrêa*
Numa semana interrompida pelo feriado americano de Ação de Graças, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou o pregão a sexta-feira com o contrato para vencimento março/25 cotado a 21.09 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 28 pontos, equivalentes a 6 dólares por tonelada no acumulado da semana. Curiosamente os vencimentos mais longos, em especial aqueles depois de março/26 encerraram com quedas maiores entre 32 e 55 pontos, equivalentes de 7 a 12 dólares por tonelada, muito provavelmente devido ao volume de fixações por parte das usinas brasileiras aproveitando a acentuada desvalorização do real frente à moeda americana.
A divulgação por parte do governo Lula de um ajuste fiscal tosco com pitadas de populismo inadequado, reduzindo o imposto de renda sem a devida contraparte, provocou forte reação no mercado financeiro que chegou a fazer o real derreter chegando até R$ 6.1156 na pior cotação da história da moeda desde 1994 quando foi criada. Depois que o sangue jorrou e o pânico passou, o dólar acabou encerrando a semana cotado a R$ 5.9745 com queda de 3% na semana. Não há como negar que a desvalorização do real foi a principal razão pela queda das cotações do açúcar em NY.
Na semana, o mercado de energia também teve um desempenho bastante negativo. Diesel, petróleo tipo WTI e Brent, assim como a gasolina despencaram entre 3.5% e 5.5%. Os sauditas reduziram seu preço de referência para 70 dólares por barril. Mais pressão sobre os preços devem ocorrer quando a reunião da OPEP ocorrer na próxima semana.
Apesar dessas notícias pouco animadoras, o cenário para o mercado de etanol em 2025 parece altamente promissor, com uma combinação de fatores que aponta para preços em alta no primeiro trimestre do próximo ano. A produção de etanol de milho deve crescer para 9,4 bilhões de litros, um avanço significativo em relação aos 8 bilhões de litros do na safra corrente. Contudo, a demanda aquecida e uma provável escassez de produto até fevereiro tendem a pressionar os preços para cima.
Além disso, o aumento de R$ 0,10 no ICMS da gasolina, previsto para 1º de fevereiro, deve se refletir nos preços do etanol hidratado, tornando-o mais competitivo no mercado. No caso do etanol de cana, a possível redução na safra e o maior foco das usinas na produção de açúcar, devido à melhor rentabilidade, resultará em uma oferta menor de etanol, reforçando ainda mais o cenário de alta nos preços.
Outro fator que pode impulsionar a demanda é a possibilidade de implementação do E30, que permite a mistura de até 30% de etanol na gasolina. Essa medida poderia adicionar cerca de 1,2 bilhão de litros de demanda ao mercado, ampliando ainda mais a pressão sobre a oferta disponível.
Com esses fatores combinados, é razoável esperar que o preço do etanol hidratado, atualmente em torno de R$ 3.1500 por litro, alcance até R$ 3.3500 no início de 2025, sinalizando uma oportunidade atrativa para o setor e um cenário de rentabilidade favorável para produtores e distribuidores.
Devido ao feriado americano, o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, só será divulgado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, na segunda-feira.
Como destaque no mercado de commodities, duas das softs, cacau e café subiram 34.75% e 30.62%, respectivamente. Quando esses eventos ocorrem a sangria que eles provocam via chamada de margem traz da volta a velha discussão sobre a gestão de risco. Quanto sua empresa está preparada para eventos dessa natureza? A imensa maioria prefere não fazer nenhum tipo de proteção contra o que se chama de evento de cauda, ou seja, aquele evento com baixa probabilidade de acontecer, geralmente representado por mais de dois desvios padrão da média em uma distribuição normal. Embora raros, esses eventos podem causar implicações financeiras graves para as empresas. Esse é um assunto em que eu comento sempre nos nossos cursos avançados. É uma preocupação que deveria estar na agenda de todo gestor de risco responsável.
Um hedge de cauda é uma estratégia para proteger contra esses eventos raros. Ele funciona como um “seguro”, cobrindo a exposição da empresa a movimentos extremos e inesperados nos preços. Isso é especialmente relevante em mercados de commodities, onde fatores externos como clima, geopolítica ou mudanças abruptas na oferta e demanda podem desencadear eventos de cauda. O termo vem do gráfico de uma curva de distribuição de probabilidade, como a curva normal (curva em forma de sino). Os eventos que ocorrem nas extremidades (ou “caudas”) representam os resultados menos prováveis – sejam ganhos ou perdas extremas.
Análise técnica (Marcelo Moreira): O vencimento Março-25, após negociar na máxima da semana a 22.00 centavos de dólar por libra-peso, encerrou a 21.08 centavos de dólar por libra-peso (fechamento anterior/ máxima / mínima/ fechamento atual respectivamente a 21.36 /22.00/ 21.01/ 21.08 centavos de dólar por libra-peso).
O Março-25 encontrou fortes resistências nas médias-móveis dos 50 e 9 dias (encerraram respectivamente em centavos de dólar por libra-peso a 22.15 e 21.57 centavos de dólar por libra-peso) e importantes suportes respectivamente a 21.05 / 20.91 (média-móvel dos 200 dias) / 20.66 (média-móvel dos 100 dias). Se a média-móvel dos 100 dias for rompida, próximo suporte apenas a 18.57 centavos de dólar por libra-peso (gap deixado no dia 23 de agosto de 2024)! Apesar do contrato ter caído -1.31% em NY, o produtor foi favorecido pela desvalorização do real.
*Gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting.
Fonte: Archer Consulting