Por Luiz Henrique Mendes e Tatiana Freitas
A temida recuperação judicial da Agrogalaxy não está tirando o sono apenas dos gestores de crédito da Faria Lima. Grandes bancos e multinacionais de insumos lideram a lista de credores de uma das maiores varejistas agrícolas do País, cuja dívida ultrapassa R$ 3,7 bilhões. É difícil achar uma grande empresa no agro para quem a Agrogalaxy não deve.
Depois da Vert Capital, responsável pela securitização de diversos CRAs da Agrogalaxy, o Banco do Brasil é o principal credor da empresa controlada pelo Aqua Capital, com R$ 391 milhões a receber.
Na sequência, aparece o Santander, com recebimentos de R$ 278 milhões, segundo informações que constam no processo, ao qual o AgriBiz teve acesso. O Citibank é outro banco a se destacar entre os credores, com R$ 107 milhões. O Itaú tem R$ 71 milhões.
Mas há muitos fornecedores de insumos à frente do Citi e do Itaú, o que ajuda a explicar as dificuldades que algumas empresas vêm enfrentando diante de atrasos nos recebimentos — e exemplifica o efeito dominó que a recuperação judicial de uma gigante em seu setor de atuação, como a Agrogalaxy, pode ter em toda a cadeia.
Um caso emblemático é o da norte-americana FMC, que vinha de resultados tenebrosos que levaram a empresa a uma reestruturação global e a demissões no Brasil. A demora para receber os R$ 163 milhões que a Agrogalaxy deve para a FMC tende a ser mais um golpe para a fabricante de defensivos, depois de um árduo trabalho para a redução de estoques nas revendas.
Outra fornecedora de defensivos com origem nos Estados Unidos, a Albough tem quase R$ 140 milhões em recebimentos da Agrogalaxy. A Rainbow, maior exportadora de agroquímicos da China, também tem uma quantia alta a receber: R$ 117 milhões. A indiana UPL (com R$ 78 milhões), a Adama (R$ 66 milhões) e a Basf (R$ 40 milhões) são outros fornecedores de defensivos na lista dos 20 maiores credores.
As empresas de fertilizantes, que vinham numa queda de braço com a Agrogalaxy para receber à vista, também não escaparam do calote. A Mosaic, uma das produtoras de fertilizantes do mundo, tem o maior valor a receber no setor: R$ 120 milhões. Outras fornecedoras de nutrientes para o solo com altos valores a receber da Agrogalaxy são a Cibra (R$ 43 milhões) e a Fertipar (R$ 42 milhões).
No mercado de biológicos, a Biotrop, que tinha a Agrogalaxy como principal cliente, também deve sofrer com a RJ da antiga parceira e com o valor que lutará para receber: R$ 115,5 milhões. Mesmo tendo em comum um mesmo acionista, o Aqua Capital, a empresa de biológicos comandada por Antonio Carlos Zem decidiu romper a parceria comercial com a rede de revendas.
A israelense ICL, que tentou comprar da Biotrop no ano passado, tem R$ 39 milhões para receber da Agrogalaxy. A Superbac, que também ensaia um pedido de recuperação judicial, deve ver a sua situação se complicar ainda mais ao deixar de receber quase R$ 28 milhões.
Securitizadoras e Fintechs
Além da Vert Capital, a primeira da lista de credores com R$ 516 milhões, a Opea é outra securitizadora no topo da relação, com quase R$ 149 milhões. Nesses casos, no entanto, a dívida está pulverizada no mercado, nas mãos de detentores de CRAs.
Entre as fintechs, Agrolend (R$ 62 milhões) também deve ter mais trabalho para receber depois da entrada da Agrogalaxy em recuperação judicial.
No caso da Agrolend, no entanto, a dívida a ser paga é do agricultor, que tinha o aval da Agrogalaxy em caso de calote. Com a RJ, o aval da Agrogalaxy não tem mais validade, mas a Agrolend pode ainda contar com o aval das multinacionais de insumos, que devem assumir a dívida caso o produtor não pague.
O Aqua Capital, controlador da Agrogalaxy, também é um credor. O Agrofundo Brasil, veículo de investimentos usado pela firma de private equity para injetar capital e socorrer a Agrogalaxy nos últimos meses, tem R$ 152 milhões a receber. A dívida da companhia com trabalhadores é de R$ 11,1 milhões. (Colaborou Karina Souza)
Fonte: The AgriBiz