
Por Arnaldo Luiz Corrêa
O açúcar entrou em novembro com um humor digno de filme noir: tudo escuro, todo mundo pessimista e ninguém querendo ser o primeiro a acender a luz. O sentimento baixista voltou a níveis raros — NY retornou ao suporte clássico de 14 centavos de dólar por libra peso, uma região visitada apenas durante a pandemia. Em reais, a queda de R$ 1.180 por tonelada em doze meses mostra um mercado que não apenas tropeçou: despencou.
Mas, em duas semanas, houve uma reação importante. O março/26 fechou esta sexta-feira a 14.66 centavos de dólar por libra peso uma alta de 53 pontos em relação a duas semanas atrás. E faço aqui a comparação com esse intervalo porque, como já explicado, na semana passada este escriba estava impossibilitado de escrever.
Uma observação interessante dessas duas semanas é que a valorização dos contratos longos — maio/27 até março/28 — foi maior do que a valorização dos vencimentos curtos — maio/26 até março/27. Em outras palavras, existe mais gente olhando com carinho os preços baixos da safra 27/28 do que da 26/27, e isso tem motivo. Quando comparamos os preços médios: 26/27 (maio/26 a março/27): média de 14,50 centavos de dólar por libra peso e 27/28 (maio/27 a março/28): média de 15,32 centavos de dólar por libra peso.
O mercado está pagando um prêmio de 82 pontos, algo próximo a US$ 18 por tonelada, para a curva 27/28 em relação à 26/27. Esse prêmio não surge por acaso. Ele parece refletir a percepção de que preços ruins e prolongados para a safra 26/27 podem comprometer: expansão de área, renovação de canaviais, uso adequado de fertilizantes e defensivos,e, por consequência, a produção futura.
Já vivemos esse filme antes: preços ruins demais por tempo demais comprometem a safra seguinte. O mercado, ao pagar um prêmio pela 27/28, parece enxergar esse risco — e precificá-lo.
Voltando à estrutura do mercado: a incerteza mais desconfortável permanece sendo a posição dos fundos. O CFTC (Commodity Futures Trading Commission) agência americana reguladora dos mercados de commodities) divulgou os dados até 7 de outubro, faltando seis semanas inteiras de informações — justamente no período de maior volatilidade recente. Ainda assim, o último dado disponível trouxe um detalhe revelador.
Na soma das duas semanas publicadas pelo CFTC, os fundos recompraram cerca de 34 mil lotes, e o mercado subiu 97 pontos — de 15.66 centavos de dólar por libra peso dia 23 de setembro a 16.63 dia 7 de outubro, algo como 350 contratos por ponto. Duas semanas antes, em 16 de setembro, uma recompra de volume semelhante (31 mil lotes) gerou apenas 6 pontos de alta. A explicação da época era clara: a liquidez vinha das usinas atrasadas nas fixações, que serviam de contraparte. Mas, agora, isso não aconteceu. As usinas não ofereceram a mesma liquidez. Surge, então, a pergunta: ainda há fixações relevantes por fazer? Ainda é cedo para afirmar — faltam seis semanas de dados — mas o comportamento do mercado sugere que talvez não.
Outro ponto relevante: entre 7 de outubro e 11 de novembro, o mercado caiu 238 pontos. Usando uma métrica conservadora de 400 contratos por ponto, isso implicaria que, em tese, os fundos adicionaram cerca de 95 mil lotes à posição vendida nesse período. Ou seja, quando o CFTC atualizar tudo, não será surpresa se os fundos estiverem próximos de 220 mil lotes vendidos. Será possível.
Do lado das usinas, segundo fontes do mercado, ainda restam cerca de dois milhões de toneladas para fixação/rolagem — pressão adicional num mercado que já tem pouca sustentação técnica.
A safra brasileira adiciona nuances importantes. A 2025/26 deve fechar ao redor de 595 milhões de toneladas, com açúcar próximo de 40 milhões. Para 2026/27, trabalhamos com um intervalo de 590 a 640 milhões, mas ainda é cedo para estimar ATR, TCH e mix — o mercado, naturalmente, escolhe temer o pior.
Lá fora, a Índia teve monções melhores que o esperado, atraso de safra, preços internos equivalentes a 19–20 centavos de dólar por libra peso e um possível corte de 800 mil toneladas no açúcar destinado ao etanol. A China deve recompor estoques e dispõe de 2 milhões de toneladas em armazéns alfandegados. A Tailândia pode superar 11 milhões de toneladas e iniciar fixações contra março/26.
Entre os fatores macro: petróleo fraco, Real mais firme e energia sem sustentação continuam pesando. Entre os baixistas, somam-se a expectativa de safra 26/27 robusta e a rolagem das usinas. Entre os altistas: a vulnerabilidade estrutural da posição dos fundos, a produção abaixo de 40 milhões nesta safra, os impactos climáticos sobre a próxima cana e a chance real de que a 26/27 venha abaixo de 600 milhões de toneladas.
O resumo é direto: o mercado continua pressionado, mas a estrutura de preços mais longos e a reação recente indicam que talvez o pessimismo esteja se alongando mais do que a realidade comporta. Falta apenas aquele momento clássico em que alguém admite que “já foi longe demais” — e os fundos começam a virar a mão.
Até lá, seguimos acompanhando um mercado que cai não por excesso de vendedores, mas pela falta de compradores dispostos a testar onde, afinal, termina esse poço.
Para nosso colaborador Marcelo Moreira, o vencimento março-26 encerrou a semana a 14.77 centavos de dólar por libra-peso. O mercado tentou por várias vezes negociar abaixo do suporte psicológico dos 14 centavos de dólar por libra-peso e conseguiu (apesar dos vencimentos maio e julho-26 chegarem a negociar nas mínimas do ano respectivamente no dia 10 de novembro-25 a 13.70 e 13.65 centavos de dólar por libra-peso). No curto prazo o vencimento março-26 encontra suportes importantes a 14.54 / 14.46 e 13.72 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 15.05, 15.49 e 16.23 centavos de dólar por libra-peso.
Fonte: Archer Consulting