
Foto Be8/ Divulgação
Por Rafael Gregório
Em um momento em que os produtores rurais mantêm a cautela para investir em armazenagem, a Kepler Weber se apoia no segmento industrial – mais especificamente na cadeia de biocombustíveis – para impulsionar sua receita.
Nesta segunda-feira, a companhia anunciou o seu maior projeto em cinco anos: a construção da estrutura de armazenagem da usina de etanol de trigo da Be8. O projeto inclui oito silos para estocar a matéria-prima. Iniciada em julho de 2024, a obra em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, está em fase de finalização da terraplanagem e das construções civis, com previsão de conclusão em julho de 2026.
Uma vez pronta, terá capacidade de processar 525 mil toneladas de cereais por ano, produzindo 220 milhões de litros de etanol e gerando 155 mil toneladas de farelo. Segundo a Be8, o investimento total no empreendimento é de R$ 1,259 bilhão. Desse montante, R$ 729,7 milhões foram captados junto ao BNDES.
A Kepler Weber não informa quanto receberá pela obra. Mas só a construção dos silos, incluindo as obras civis e os equipamentos, deve custar mais de R$ 100 milhões, segundo especialistas ouvidos por The ArgiBiz . O cálculo considera a capacidade de 160 mil toneladas de trigo, o equivalente a um terço da demanda da empresa.
Leandro Luiz Zat, vice-presidente de operações da Be8, explica que a empresa decidiu construir os silos devido à janela mais curta de comercialização do trigo em comparação com a soja, por exemplo. A fábrica da Be8 será a primeira de grande porte no Estado para fabricação de etanol com cereais. “Um terço da nossa planta pode ser alimentado com outras culturas, como sorgo e aveia. As opcionalidades vão ser orientadas pelo custo”, diz Zat.
Será também a primeira indústria no País de produção de glúten vital, um concentrado proteico obtido da farinha de cereais, além do DDGS, um coproduto do esmagamento de soja rico em proteínas e usado na nutrição animal. “A Kepler foi nossa fornecedora na parte de silos, e agora estamos repetindo na planta de etanol”, diz Zat, da Be8.
Segundo ele, a tese do investimento é aproveitar o boom dos biocombustíveis no País, o potencial produtivo de trigo em segunda safra no Rio Grande do Sul e a carência do estado, que atualmente importa todo o etanol que utiliza. A ideia da Be8 é atender ao menos 24% da demanda do Estado.
“Os biocombustíveis saíram de 85 milhões de litros/ano para 8,5 bilhões de litros/ano em dez anos. Mas o Rio Grande do Sul é deficitário e precisa comprar de outros estados. Por isso, escolhemos o trigo, com possibilidade de plantação de 1,5 milhão de hectares no inverno. O produtor vai poder usar uma área que normalmente estaria ociosa.”
A nova usina vai se inserir em um contexto de aquecimento do mercado nacional de biocombustíveis. De acordo com a União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), o País conta com 25 biorrefinarias em operação, dez projetos autorizados para construção pela ANP (Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis) e outras 20 unidades programadas.
Retomada
Para a Kepler Weber, o negócio com a Be8 é uma oportunidade para impulsionar as receitas nos próximos trimestres. Especializada em estruturas de armazenagem de grãos, a companhia sofreu com a queda na renda dos produtores rurais, o que resultou em uma diminuição no número de pedidos e, como consequência, numa piora dos resultados .
Segundo o CEO da Kepler Weber, Bernardo Nogueira, a empresa deve continuar surfando a onda industrial. Além de já estar trabalhando junto com a 3tentos na estrutura de armazenagem de grãos da nova usina de etanol de milho em Mato Grosso, há mais projetos no pipeline. “
A Kepler tem apoiado a expansão das indústrias de etanol. Hoje, são cerca de 30 projetos em andamento e nós estamos participando ativamente de sete disputas para os próximos 12 meses”, disse.
Fonte: The AgriBiz