Nuseed aposta em cana-energia para áreas pouco férteis e secas

Cultivo de variedades de cana energia da Nuseed em Pirassununga (SP)
Foto: Divulgação

Por Camila Souza Ramos

A Nuseed, empresa de sementes do grupo australiano Nufarm, está investindo R$ 75 milhões no Brasil para desenvolver novas variedades de cana-energia voltadas a áreas com solos pouco férteis e poucas chuvas. Diferentemente da cana-de-açúcar convencional, a cana-energia tem mais fibras e produz mais etanol e bagaço, mas menos açúcar.

Dois terços dos recursos serão destinados a pesquisas de melhoramento genético e um terço, para estruturar equipes. A previsão é que os aportes, iniciados no ano passado, continuem até 2027. Com a expectativa de lançar mais variedades, a empresa quer expandir a área com o cultivo de sua tecnologia no país em 50 vezes, segundo o diretor de bioenergia em cana da Nuseed no Brasil, Ricardo Bendzius.

A companhia entrou no ramo em 2022, quando comprou a área de genética de cana da GranBio. Na época, o negócio tinha uma variedade patenteada (Vertix 3) que era cultivada por 24 usinas em 8 mil hectares no Brasil – menos 0,1% de toda a área de cana do país. Desde então, a Nuseed lançou uma nova variedade (Vertix 12) e tem 11 mil hectares plantados por 48 usinas. Até 2033, a meta é chegar a 420 mil hectares cultivados.

A equipe da estação de pesquisas da empresa em São Miguel da Barra (AL) já ganhou cinco novos pesquisadores sob a Nuseed. Com isso, a companhia espera lançar duas novas variedades em 2026 e ter ao menos um lançamento por ano nos próximos dez anos.

Hoje, o plantio das variedades Vertix 3 e Vertix 12 está concentrado na região de São José do Rio Preto, no noroeste paulista, onde os solos são mais pobres e há problema de déficit hídrico. Ao mesmo tempo, a região concentra muitas usinas que estão investindo mais em tecnologia para compensar o ambiente adverso, resultando em elevados índices de produtividade.

“É uma região muito promissora”, diz o executivo. A Nuseed também está otimista com a demanda em Goiás e Mato Grosso do Sul.

A adoção da tecnologia pelas usinas, porém, ainda precisa enfrentar um momento adverso, já que os preços de etanol e de bagaço para energia estão em baixa. Os preços do etanol hidratado estão 16% abaixo dos níveis do mesmo período do ano passado, segundo indicador Cepea/Esalq, e os valores mensais do PLD no submercado Sudeste/Centro-Oeste estão há dois anos abaixo de R$ 80 por MWh.

A aposta da Nuseed é que suas variedades conquistarão clientes pela possibilidade de redução de custo, afirma Bendzius. Uma soqueira de cana-energia garante produção por oito safras, o dobro de uma cana convencional, reduzindo o custo de reforma de canavial.

Além disso, a variedade Vertix 3 da Nuseed vem entregando produção de 10 toneladas de sacarose por hectare em ambientes restritivos, acima das variedades tradicionais nos mesmos tipos de ambiente, de 8,5 toneladas por hectare.

A Nuseed acredita em um mercado com poucos competidores, mas com participação relevante. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), principal companhia privada, tem variedades em 32% dos canaviais do país e aposta no desenvolvimento de uma semente de cana que pode reduzir os custos de produção do setor.

Apesar disso, a Nuseed não vê nessa tecnologia uma ameaça aos seus planos. “Em um primeiro momento, o CTC deve privilegiar suas variedades, mas depois acredito que a usina poderá escolher qual genética usar na semente”, avalia.

Fonte: Globo Rural