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Por Isadora Camargo
A marroquina OCP, uma das maiores fornecedoras globais de fosfato, acertou um financiamento de 7 milhões de euros para a greentech franco-brasileira NetZero para acelerar a produção de biochar — um tipo de carvão vegetal que captura carbono — no “Sul global”. O aporte será feito por meio do fundo de investimento Innovx, vinculado à Universidade Politécnica Mohammed VI (UM6P), de Marrocos.
“O dinheiro funcionará para que possamos ir mais rápido com [a produção do] biochar. [Diferentemente dos fertilizantes tradicionais], não há tempo para testar tudo e lucrar com a primeira planta para, depois, usar os rendimentos em outras fábricas. Isso demoraria 15 anos”, afirmou Axel Reinaud, presidente da greentech.
De acordo com o empresário, o Innovx é o primeiro fundo do continente africano a investir em uma empresa “carbon free do Norte do mapa múndi” .
A OCP também formará uma joint venture com a NetZero, o que deve ser confirmado até março de 2025, disse Reinaud. O plano é que a nova empresa instale fábricas de biochar na África.
No continente africano, a NetZero já possui uma planta-piloto em Camarões. Com o acordo com a OCP, o Marrocos se torna a porta de entrada para a NetZero instalar fábricas em mais nações africanas, já que o país não tem biomassa suficiente para que a startup produza biochar para abastecer todo o continente.
Segundo o co-fundador da NetZero, o biochar pode elevar a produtividade em 25%, além de auxiliar a descarbonizar a agricultura. “Estamos dando um grande passo em direção à construção de ecossistemas agrícolas inovadores para enfrentar desafios ambientais e sociais de longo prazo”, disse Amine Houssaïm, gerente geral do Innovx.
Reinaud acrescentou que a empresa está em busca de investidores em outros continentes para negócios semelhantes ao que acertou com o fundo da OCP. A NetZero busca opções nos Estados Unidos e na América Latina, onde já flerta com investidores na Argentina e na Colômbia, além do Brasil. Segundo ele, o mercado brasileiro é o de maior potencial hoje, seguido da Índia. A África é o terceiro de maior potencial.
A companhia também planeja criar franquias de fabricação de biochar com sua marca. Segundo Reinaud, a greentech já está negociando a terceirização da produção para um cliente.
Sediada em Paris, a NetZero tem atualmente três plantas comerciais no Brasil — Lajinha (MG), Brejetuba (ES) e Machado (MG), cuja construção foi concluída e está em fase de licenciamento. Em outubro, iniciou a construção de sua quarta planta, em São João do Manhuaçu (MG).
As unidades estão em regiões de café, onde testes com o biochar da NetZero já resultaram em aumentos de produtividade de 20% a 100%. “Há exemplos de traders que começaram a comprar café adubado com biochar com preço premium”, disse Reinaud. O próximo passo é a expandir o uso do produto em culturas como a cana-de-açúcar, açaí e coco, entre outras.
Hoje, a NetZero é a única empresa no mundo a produzir biochar em escala comercial. O empresário disse torcer para que mais companhias entrem nesse mercado e que o produto só tem o efeito de reduzir as emissões de carbono se seu uso nas lavouras estiver em um raio de 30 quilômetros da fábrica. Do contrário, o transporte do produto resultaria em emissões que ofuscariam a mitigação no solo. “É a concorrência que ajudará a dar credibilidade ao biochar”, disse.
Fonte: Globo Rural