
Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, é também o estado que lidera a transformação do grão em energia limpa. A cada safra, parte da oleaginosa cultivada em sistemas sustentáveis ganha destino diferente: deixa de ser apenas exportada e passa a abastecer ônibus, caminhões e máquinas que circulam nas cidades. É o ciclo que conecta o campo às ruas e mostra como o agro pode ser protagonista da transição energética nacional.
Crescimento em 2025
Os números confirmam esse protagonismo. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em abril de 2025 as usinas de biodiesel de Mato Grosso produziram 179,3 mil metros cúbicos, o maior volume entre todos os estados e que representa um aumento de 11,5% em relação a abril do ano anterior. No acumulado de janeiro a maio, o crescimento foi de 12,7% sobre o mesmo período de 2024, o que reforça a expansão constante do setor.
A partir de 1º de agosto de 2025, a mistura obrigatória de biodiesel no diesel comercializado em todo o país passou para 15% (B-15), com meta de chegar a 20% (B-20) até 2030, conforme divulgado pela ANP. Isso significa que o combustível limpo produzido em Mato Grosso está cada vez mais presente no dia a dia de milhões de brasileiros, seja no transporte coletivo urbano ou no escoamento de mercadorias.
Do campo à indústria
A cadeia começa nas lavouras. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), a soja produzida sob critérios de sustentabilidade, muitas vezes certificada, chega às 17 usinas de biodiesel em operação em Mato Grosso, distribuídas em 12 municípios.
A concentração de usinas em regiões estratégicas, como Rondonópolis, que abriga quatro delas, fortalece a cadeia produtiva. Juntas, essas unidades têm capacidade autorizada de produção anual de 3,3 bilhões de litros. Dessa estrutura sai o volume que faz do estado o maior polo de biodiesel do país, respondendo por cerca de um quinto da produção nacional.
O Sindicato das Indústrias de Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindibio-MT) aponta que aproximadamente 76% do biodiesel fabricado no estado tem origem na soja, confirmando o papel central da cultura, não apenas como alimento ou commodity de exportação, mas também como fonte de energia renovável.
Valor agregado e empregos
Transformar soja em combustível é multiplicar a riqueza. Segundo o Sindibio, enquanto uma tonelada de grãos vale cerca de R$ 2,7 mil no mercado, o mesmo volume convertido em biodiesel atinge quase R$ 4,7 mil, um ganho de 70% em valor agregado. Esse diferencial fortalece a economia local, incentiva a industrialização e reduz a dependência da exportação de produtos in natura.
O impacto social também é expressivo. Estudos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indicam que cada posto de trabalho direto no setor gera, em média, 91 empregos indiretos e mais de 200 induzidos em outras cadeias. Ou seja: o biodiesel não movimenta apenas usinas, mas também transportadoras, oficinas, postos de combustíveis e o comércio urbano.
Do interior à cidade
Se no campo a soja cresce em lavouras cada vez mais tecnificadas, na cidade ela aparece de forma quase invisível, mas essencial. O biodiesel que sai de Mato Grosso abastece ônibus urbanos, caminhões de frete e veículos de empresas que circulam diariamente em grandes centros.
Com a entrada em vigor do B-15, todo brasileiro que usa transporte coletivo, consome mercadorias entregues por caminhões ou abastece em postos de combustível já tem, indiretamente, um pouco da energia mato-grossense em movimento.
Esse elo entre rural e urbano é um dos pontos centrais da transição energética. O que nasce no cerrado mato-grossense, com práticas sustentáveis, termina em benefícios diretos para a mobilidade, a qualidade do ar e a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Inclusão e sustentabilidade
A multinacional Bunge inaugurou em 2023 uma planta de biodiesel em Nova Mutum, com capacidade de 150 mil metros cúbicos por ano. A unidade opera com o Selo Biocombustível Social, comprando parte da matéria-prima de pequenos produtores familiares.
É um exemplo de como o ciclo da soja sustentável pode gerar valor não apenas econômico, mas também social, incluindo agricultores de menor porte em uma cadeia global de energia. Para o setor industrial de Mato Grosso, o estado reúne condições de se tornar “o posto de combustível sustentável do mundo”.
Essa visão é impulsionada pela sanção da Lei Combustível do Futuro, que cria um marco regulatório para o setor e deverá atrair R$ 260 bilhões em investimentos para o país.
A convergência entre produção agrícola recorde, parque industrial consolidado e políticas públicas de incentivo à energia renovável torna a soja local um ativo estratégico, tanto para a segurança energética quanto para a agenda ambiental.
Fonte: GC Notícias