Ministério quer linha para cooperativas investirem em etanol de milho e avicultura

Etanol de milho atrai investimentos de usinas controladas por empresas de
fora do país — Foto: Getty Images

Por Rafael Walendorff 

De olho em oportunidades de investimentos para alavancar o crescimento agroindustrial no interior do país, o Ministério da Agricultura quer desenhar com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) uma nova linha de crédito destinada às cooperativas do setor, com juros mais baratos, prazos longos e uma provável ajuda do Tesouro Nacional para equilibrar financiamentos feitos em moeda estrangeira.

Uma reunião está marcada para às 14h de amanhã (30/4) na sede da instituição financeira no Rio de Janeiro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e seu assessor especial, Carlos Augustin, vão levar representantes de quase 20 cooperativas do Centro-Oeste, de médio porte, para iniciar o diálogo com o BNDES. Entres as cooperativas presentes, deverão estar Copac, Lar, Coopercotton, Coopal, Cooperfarms, Copasul e Coagril.

A meta é construir uma linha de crédito especial de longo prazo para financiar atividades agroindustriais, com foco na instalação de usinas de etanol de milho e estruturas de avicultura, com aviários e frigoríficos.

Uma das alternativas que serão colocadas na mesa é usar a captação de moeda estrangeira pelo governo federal, por meio de emissões do Tesouro Nacional, para repasse a essa linha. A intenção é usar uma “pequena ajuda” da União para buscar dinheiro mais barato no exterior. A meta é ir além do dólar e chamar a atenção de investidores da China e do Japão, por exemplo, cujos recursos podem chegar em condições mais acessíveis aos produtores e cooperativas.

A avaliação de Carlos Augustin é que empresários estrangeiros têm ganhado a corrida em áreas estratégicas do agronegócio que poderiam ser exploradas pelas cooperativas brasileiras. A principal delas é o etanol de milho. Em expansão no país, o setor atrai investimentos de usinas controladas por empresas de fora do país, que têm acesso a recursos mais baratos, disse o assessor especial do ministro. Na avaliação dele, faltam opções de financiamento adequadas para apoiar os investimentos pelas cooperativas nacionais, sobretudo no Centro-Oeste.

“Vamos propor e exigir uma linha melhor de investimento de longo prazo”, afirmou Augustin à reportagem. O BNDES já oferta opções de financiamentos, em real ou dólar, com recursos próprios da instituição (sem subvenção federal) para a compra de equipamentos, máquinas estruturas e projetos com até 10 anos de prazo para reembolso.

As condições precisam ser melhores, disse Augustin, em especial as taxas de juros, que estão em torno de 8% ao ano nessa linha já existente. “Queremos juros mais baratos e ver se o governo pode nos dar algo, utilizar o Tesouro Nacional para equilibrar as moedas e talvez ter dinheiro chinês e japonês a 2% ao ano. Nas a questão é como vamos viabilizar e colocar esse dinheiro para dentro do país”, explicou Augustin.

Recentemente, o Tesouro Nacional voltou a captar recurso no mercado externo com dois novos benchmarks de 10 e 30 anos, com vencimento em 2034 e 2054, respectivamente. Foram captados US$ 4,5 bilhões. A operação busca promover a liquidez da curva de juros soberana em dólar no mercado externo, provendo referência para o setor corporativo, e antecipar o financiamento de vencimentos em moeda estrangeira.

Na reunião desta terça-feira, que contará com a participação da superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Tânia Zanella, a ideia do Ministério da Agricultura é mostrar ao BNDES a capacidade que as cooperativas têm de serem indutoras de agroindústrias no interior do Brasil. Carlos Augustin diz que as cooperativas estão “perdendo a concorrência” para os empresários estrangeiros. “Não faz sentido. Em Mato Grosso existem usinas americanas de etanol e as cooperativas não conseguem fazer por falta de recurso adequado”, apontou.

Ele defendeu também investimentos em avicultura, com apoio para a construção de aviários por produtores de pequeno porte e de frigoríficos para abate e processamento das aves pelas cooperativas. Segundo ele, o segmento é capaz de gerar milhares de empregos e agregar valor aos produtos da agropecuária nacional.

Fonte: Globo Rural