
Por Arnaldo Luiz Corrêa*
O mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou a semana com o vencimento outubro/25 cotado a 16.34 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 10 pontos em relação à semana anterior. Os demais meses fecharam com quedas entre 8 e 38 pontos, sendo os meses mais longos os que mais caíram. Pode ser em função de aumento de fixações por parte das usinas para as safras 26/27 e 27/28 aproveitando o cupom cambial que dá boa remuneração em reais por tonelada para as curvas mais longas.
O mercado praticamente andou de lado, sem novidades relevantes, à espera do relatório da UNICA, que era aguardado com expectativa de redução na moagem e também na ATR, mas isso acabou não se confirmando. O relatório mostrou uma moagem de 47.63 milhões de toneladas de cana na quinzena, número bastante acima do registrado no mesmo período do ano passado, representando um aumento de 8%.
Duas informações chamaram a atenção: a primeira foi o já comentado volume expressivo de moagem acompanhado de um mix de açúcar de 55% na quinzena, contra 49,15% no ano anterior, e a segunda foi a ATR, que atingiu 144.83 quilos por tonelada, cerca de 2.5 quilos acima do esperado pelo nosso modelo. De qualquer forma, os números foram muito bons (embora baixistas), tanto em moagem quanto em ATR, e isso abre espaço para que a safra possa alcançar 595 milhões de toneladas, patamar que corresponde à média das 20 consultorias que publicaram estimativas recentes.
Trabalhando com esse número, é possível projetar uma produção de 39.8 milhões de toneladas de açúcar, mas se o mix permanecer em 52.5% a safra poderia chegar a 40.6 milhões de toneladas, o que contradiz nossa percepção original de que a produção ficaria abaixo de 40 milhões.
Ainda assim, é preciso enfatizar que estamos considerando um cenário ideal, sem chuvas que prejudiquem a colheita, com uma ATR três quilos acima da curva esperada até o final do ciclo e já incorporando a melhora desta última quinzena. Por outro lado, se mantivermos a moagem de 595 milhões de toneladas, mas reduzirmos o mix para 51.5%, a produção de açúcar cairia para 39.5 milhões, reforçando a incerteza do cenário.
O canavial está muito ruim em várias regiões e muitas usinas já decretaram o final da safra marcado para o mês de outubro. Será que isso já está refletido nos preços. No aguardo de algum gatilho que possa definir a direção do mercado, os fundos praticamente não fizeram nada no período de 19 a 26 de agosto. A posição deles, publicada pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência americana reguladora dos mercados de commodities, mostra que eles estão vendidos 132,499 lotes a descoberto, adicionando pouco mais de 1,500 lotes na semana.
Falando agora sobre a safra 26/27, mesmo que seja difícil fazer previsões quando nem consenso existe sobre a safra atual, alguns pontos merecem destaque. A tendência é termos uma recuperação importante, em razão das renovações de canaviais e do avanço das novas variedades de cana, o que pode resultar em uma safra maior. Qualquer número é chute, mas alguns analistas apontam 630-640 milhões de toneladas de cana para o Centro-Sul.
Logicamente, uma produção extraordinária traz consigo o risco de preços mais baixos. Soma-se a isso a preocupação com o relatório da Agência de Energia dos Estados Unidos, que projeta o petróleo Brent em 2026 a 51 dólares por barril, uma queda de 24% em relação aos preços atuais. Se essa queda se confirmar, e se tivermos ainda um real mais forte em função de uma perspectiva de vitória da direita nas eleições brasileiras, o etanol se tornará pouco competitivo e isso pode pressionar ainda mais os preços do açúcar em Nova York.
O contraponto é que, nos níveis atuais, ninguém no mundo consegue produzir açúcar de forma rentável. O custo médio de produção no Centro-Sul do Brasil gira em torno de 16 centavos por libra-peso e, caso o real caia dos atuais 5,4300 para 5,2500, em um cenário de governo pró-mercado, esse custo pode se aproximar de 17 centavos. Portanto, o grande desafio para o próximo ano será encontrar o equilíbrio entre custos crescentes e margens cada vez mais apertadas, em um mercado que continua cercado de incertezas e que exige atenção redobrada.
Nosso colaborador, Marcelo Moreira aponta que a semana foi travada com o vencimento outubro-25 encerrando a 16.34 centavos de dólar por libra-peso. O contrato oscilou ainda dentro do “caixote” entre a máxima e a mínima respectivamente a 16.57 e 16.30 centavos de dólar por libra-peso – respeitando as médias-móveis dos 9 e 50 dias (encerraram a semana respectivamente a 16.44 e 16.39 centavos de dólar por libra-peso). Perdendo esses suportes o próximo suporte relevante está apenas nos 15.90 centavos de dólar por libra-peso. E, próximas resistências a 16.90 e 17.69 centavos de dólar por libra-peso. Fique de olho.
*Gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting.
Fonte: Archer Consulting