Por Gabriella Weiss
Os cálculos sobre a participação foram feitos pela consultoria StoneX com base nos dados de importação de fertilizantes, do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado de São Paulo (Siacesp), e de produção nacional, da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Segundo Marcelo Mello, analista da StoneX, o quadro persiste neste ano. “Em 2024, a tendência de redução de volume e perda de market share [dessas empresas] seguirá”, afirma.
A BCP chegou ao mercado brasileiro com representação comercial apenas em 2023, como reflexo de uma busca por clientes alternativos após as sanções aplicadas pelos Estados Unidos e União Europeia (UE) contra Belarus, devido a violações de direitos humanos.
Diante das sanções ocidentais, Belarus começou a acertar vendas de potássio com descontos expressivos para outros importadores. Segundo Bruno Fonseca, analista de insumos do Rabobank, a renegociação de contratos com China e Índia, grandes importadores, foi feita com preços de 12% a 14% abaixo do mercado.
“Isso está colocando uma pressão baixista muito forte no mercado de potássio. Os preços estão caindo de uma forma bastante forte”, afirma Fonseca. “Eles [os países] estão tendo que descontar bastante os preços para conseguir ter acesso ao mercado, competir com o produto sancionado e continuar tendo vendas”. Essa estratégia começou a afetar empresas como Yara, Mosaic, e a canadense Nutrien.
Quando as sanções à Belarus fizeram as exportações de potássio do país cair de 12 milhões de toneladas para 5 milhões de toneladas ao ano, a Yara voltou-se a outro fornecedor tradicional do produto: a Rússia. A alternativa, porém, logo se revelou inviável com o início da guerra na Ucrânia em 2022, que desencadeou sanções contra o país de Vladimir Putin.
“A Yara se viu em uma situação na qual não consegue comprar fósforo e potássio, tendo que comprar potássio de outros fornecedores, como o Marrocos e, inclusive, o Canadá, que é o grande competidor dela”, diz Mello.
Já a marroquina OCP vem ganhando mercado diante da demanda brasileira mais aquecida por adubos fosfatados. O aumento nos preços do fósforo ajudou na ascensão da OCP, já que o Marrocos é um dos principais produtores e, com acesso a altos volumes, consegue entrar no mercado com preços competitivos.
A Eurochem também ganhou participação no mercado, tornando-se a segunda maior empresa e ultrapassando a Yara. A multinacional de origem russa (controlada por capital chinês) — dona da Fertilizantes Tocantins e da Heringer — saiu de uma participação de 6% do mercado em 2021 para 12% em 2023, consolidando-se como a segunda maior do setor.
A empresa afirma que investiu mais de US$ 2,5 bilhões na América do Sul desde 2016, quando se instalou na região. “A estratégia de crescimento da companhia considerou aquisições de ativos que permitissem capilaridade competitiva para a distribuição dos nossos produtos”, diz Gustavo Horbarch diretor-presidente da EuroChem na América do Sul, em nota. Entre os investimentos está o projeto na Serra do Salitre (MG), para produção de nitrogênio e fósforo.
Ao Valor, a Yara confirma que os fatores geopolíticos relacionados a Rússia e Belarus impactam a dinâmica no Brasil, que é dependente da importação. “Mesmo diante de um cenário desafiador, a Yara conta com produção própria”, além de uma diversificada rede de fornecedores, afirma. Outra afetada pela mudança no mercado, a Mosaic foi procurada, mas não se manifestou.
Para Fonseca, do Rabobank, esse cenário se soma a uma crise da indústria de insumos, que se arrasta desde 2022, quando teve início da guerra entre Ucrânia e Rússia. A logística, fundamental para o segmento, faz com que outras fabricantes, como a israelense ICL, instalem plantas no Brasil para capilarizar a distribuição dos macronutrientes.
A inadimplência de revendas de insumos no Brasil, recentemente, até com o rompimento de acordos de distribuição é outro fator que mexe o tabuleiro do setor de fertilizantes, diz uma fonte do setor. Além disso, há ainda o aumento no uso de bioinsumos.
Fonte: Globo Rural