Por Isadora Camargo e Gabriella Weiss
A volatilidade dos preços de fertilizantes deve continuar em 2025. As tensões geopolíticas nas origens fornecedoras do insumo, a alta do dólar e os conflitos no Oriente Médio são alguns dos fatores que devem influenciar as cotações nos próximos meses, segundo especialistas. Embora não haja expectativa de faltar adubo, esses eventos representam riscos para a estabilidade do setor em maior ou menor grau. E isso interfere muito no Brasil, que importa 85% dos fertilizantes que consome.
Desde outubro, os conflitos no Oriente Médio afetaram direta e indiretamente o embarque de fertilizantes pela rota do Mar Vermelho, o que faz o preço final ficar mais alto para o produtor. Isso é um agravante diante do acirramento da guerra entre Rússia e Ucrânia — a primeira é fornecedora de fertilizantes ao Brasil. Além disso, a vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos levou à alta do dólar. A soma desses fatores fez o valor dos fertilizantes-commodities, o ‘NPK’ (nitrogênio, potássio e fósforo), subir no mercado internacional.
Em um relatório recente, o Rabobank indicou que os preços de potássio e fósforo devem seguir mais estáveis até o fim deste ano em razão da entressafra. Já a ureia, muito utilizada para o plantio de milho, pode ter os preços afetados se os conflitos no Oriente Médio escalarem, aponta o analista de insumos do banco, Bruno Fonseca.
Outro componente que influencia na alta da ureia são os leilões públicos para importação do produto pela Índia, que terminaram no início da semana, com o país comprando mais de 1,1 milhão de toneladas. A Índia importa cerca de 40% desse nitrogenado.
Até 19 de novembro, na praça de referência dos Estados Unidos, em Nova Orleans, os contratos da ureia com vencimento em janeiro de 2025 operavam a US$ 354 por tonelada, mesmo valor da semana anterior e US$ 8 acima do início do mês. Os contratos de mesmo vencimento no Oriente Médio estavam em US$ 337 a tonelada, segundo dados da StoneX. Ontem, os preços cederam e operaram a US$ 349 na praça americana e a US$ 330 na árabe, valores mais altos que os de anos anteriores.
Há menor oscilação para os preços de fósforo e potássio, aplicados em culturas como o café no Brasil, que só entrará em fase de semeadura em meados de março e abril. “A licitação indiana terminou, e comenta-se que, fora da Índia e do Brasil, a demanda por nitrogenados não tem impressionado. Nos fosfatados, já existem expectativas de que a demanda brasileira diminua nas próximas semanas”, aponta a StoneX.
Nesse ambiente, as tradings de fertilizantes que importam a matéria-prima mais cara — também por causa da valorização do dólar — precisarão repassar alguma alta ao resto da cadeia, chegando ao distribuidor e finalmente ao produtor. Com isso, as margens devem ficar mais apertadas em toda a cadeia, segundo a analista da Argus, Renata Cardarelli.
No caso das revendas e distribuidoras, o aperto na rentabilidade se soma, em alguns casos, a problemas financeiros que vão desde caixa no vermelho e dificuldade de adquirir adubo para cumprir compromissos de entregas e ter um excedente de estoque. O momento é complicado também porque essa parte da cadeia está com acesso ao crédito mais restrito, após a recuperação judicial do Agrogalaxy.
Afora o efeito nos preços, outra preocupação é com o tempo de entrega dos fertilizantes que virão de diversas partes do Oriente Médio, Ásia e África.
Com as condições logísticas e econômicas, até o Egito — produtor de adubo nitrogenado e fornecedor do Brasil — deixa de ser opção de compra, pois está operando apenas com 80% de sua capacidade em razão dos problemas de abastecimento de gás natural utilizado na produção dos fertilizantes, acrescenta Cardarelli.
Marcelo Mello, analista da StoneX, observa que ataques a plantas de gás natural no Oriente Médio comprometeram diretamente a produção de derivados de fertilizantes, como a amônia.
A guerra entre Rússia e Ucrânia também tem impacto na logística de escoamento dos fertilizantes via Mar Negro, o que encarece o frete marítimo. Os preços mais altos, reflexo dessa combinação de fatores, podem levar o produtor a deixar de comprar ou atrasar a aquisição de fertilizantes para a safra 2025/26 à espera de estabilidade.
Por ora, de acordo com os analistas, o ritmo das importações se mantém. Mas a comercialização no mercado doméstico é lenta porque a seca deste ano obrigou os agricultores a plantar mais tarde, pondera o analista de commodities agrícolas da XP, Samuel Isaak.
Fonte: Globo Rural