Margens apertadas adiam compras e elevam custo dos fertilizantes na safra 2025-2026

Imagem gerada por IA (Portal Click Petróleo e Gás)

Nas últimas cinco safras (20/21 a 24/25), os produtores de grãos vivenciaram momentos distintos entre otimismo e cautela. Entre 20/21 e 21/22, a demanda aquecida por soja e milho no mercado internacional, impulsionada pelos efeitos da pandemia e pelo receio de desabastecimento, elevou as cotações. Internamente, a desvalorização do Real frente ao dólar também contribuiu para aumentar a receita bruta das lavouras.

Nesse período, regiões do Centro-Oeste e parte do Paraná conseguiram operar com custos relativamente competitivos, obtendo margens positivas. Já em áreas do Sul, como o Rio Grande do Sul, a ocorrência de estiagens reduziu a produtividade, limitando os ganhos dos produtores mesmo diante de preços elevados.

Em 2022, o conflito entre Rússia e Ucrânia provocou uma disparada nos preços internacionais de fertilizantes. No mesmo período, as cotações agrícolas ainda estavam elevadas, o que levou muitos produtores a adquirirem insumos a valores mais altos, confiantes na manutenção daquele cenário. Contudo, ao longo do ano, os preços dos grãos começaram a recuar, e a combinação de custos inflados com receitas em queda resultou em forte compressão da rentabilidade na safra 22/23.

Na safra 23/24, mesmo com a queda nos preços dos insumos, o custo de produção permaneceu elevado. Ao mesmo tempo, as cotações dos grãos continuaram em trajetória de baixa. Somado a isso, as altas temperaturas e a irregularidade das chuvas afetaram o desenvolvimento das lavouras do Centro-Oeste, em especial em Mato Grosso, reduzindo a produtividade. Essa combinação de fatores manteve a rentabilidade em níveis reduzidos.

Já em 24/25, a semeadura da soja no Centro-Oeste foi afetada pela falta de chuvas no início do ciclo, embora ainda tenha ocorrido dentro da janela recomendada. No Sul, houve situações contrastantes. No Rio Grande do Sul, o excesso de precipitação retardou o plantio, enquanto no Paraná a semeadura precoce resultou em melhor desempenho. Mesmo assim, o Rio Grande do Sul voltou a enfrentar quedas expressivas de produção devido à seca entre o final de 2024 e o início de 2025.

Neste contexto, o Projeto Campo Futuro (CNA/ Senar/Esalq-Cepea), avaliou o desempenho econômico do sistema de produção de soja e milho em fazendas típicas de cinco regiões, que foram Carazinho (RS), Cascavel (PR), Rio Verde (GO), Sorriso (MT) e Maracaju (MS), no período das safras 20/21 a 24/25. Os custos de produção considerados incluem o Custo Operacional Efetivo, a depreciação e os juros sobre o capital investido. A receita bruta foi calculada a partir da produtividade média e do preço médio de cada safra. Todos os valores foram atualizados pelo IGP-DI, com base em julho de 2025.

Os resultados da Figura 1 mostram o desempenho econômico das cinco safras avaliadas nas regiões selecionadas. Em 20/21 e 21/22, todas as localidades registraram margens positivas, embora a ocorrência de La Niña em 21/22 tenha prejudicado Carazinho e Cascavel. Nessas duas regiões, as mar[1]gens líquidas foram positivas, mas ainda equiva[1]lente a apenas um quinto do observado nas três praças do Centro-Oeste.

No ciclo 22/23, a situação se agravou no Sul. Carazinho e Cascavel apresentaram margens negativas no sistema soja e milho devido à estiagem, que comprometeu o desenvolvimento das lavouras, especialmente no Rio Grande do Sul. Em contraste, Rio Verde (GO) e Maracaju (MS) mantiveram desempenho positivo.

Na sequência, em 23/24, o desafio maior ocorreu no Centro-Oeste. As altas temperaturas e a irregularidade das chuvas no fim de 2024 reduziram a produtividade da soja, sobretudo em Mato Grosso. A expectativa de que a queda de produção no estado sustentasse os preços não se confirmou, pois foi compensada pela recuperação da safra argentina. Nesse cenário, Sorriso (MT) e Maracaju (MS) registraram resultados negativos.

A queda da renda dos produtores nas últimas três safras (22/23 a 24/25) levou a uma postura mais cautelosa nos investimentos e no custeio da safra seguinte. Até abril, o ritmo de compras de fertilizantes para 25/26 foi mais lento que o usual, reflexo da preocupação em comprometer capital antes de maior clareza sobre preços e crédito. A proximidade do prazo final de pedidos e a intensificação dos conflitos internacionais, primeiro entre Rússia e Ucrânia e depois entre Israel e Irã, trouxeram volatilidade ao mercado e aceleraram as negociações. Em Sorriso, por exemplo, cerca de 55% dos negócios estavam fechados em abril, abaixo da média de 63,7% das três safras anteriores, mas em julho a contratação subiu para quase 94%, patamar semelhante ao histórico.

Nesse contexto, foram simulados dois cenários para a aquisição de fertilizantes na safra 2025/26: compras antecipadas, entre janeiro e abril, e compras tardias, entre maio e julho. A relação de troca foi calculada com base no preço da saca de soja em julho, e todos os valores financeiros foram atualizados pelo IGP-DI desse mesmo mês.

Como consequência da limitação financeira, parte dos produtores não conseguiu antecipar a compra dos fertilizantes para a safra de soja 2025/26. Isso levou à postergação das negociações para os meses de abril a julho de 2025, quando os preços estavam mais altos. As simulações realizadas pelo Cepea indicam que esse atraso encareceu a adubação e aumentou de forma significativa os custos de produção nas regiões analisadas. A Figura 2 apresenta a comparação da relação de troca por hectare entre os dois períodos de compra.

No Sul do País, o adiamento da compra de fertilizantes resultou em impactos relevantes. Em Carazinho, o custo com o formulado 02-23-23 aumentou 6,11%, passando de R$ 858/ha para R$ 910,5/ha para os produtores que postergaram a compra. Na fazenda típica de 285 hectares, esse acréscimo representou um gasto adicional de R$ 14.949,15, o que exigiu cerca de 125 sacas de soja a mais para cobrir o custo. Em Cascavel, o movimento foi semelhante. O custo da adubação 02-20-20 subiu 8,5%, de R$ 820,2/ha para R$ 889,9/ha. Para a propriedade típica de 74,75 hectares, o desembolso adicional foi de R$ 5.213,63, equivalente a aproximadamente 45 sacas de soja.

No Centro-Oeste, as variações de preços também foram expressivas. Em Rio Verde, onde a adubação é feita com cloreto de potássio e supersimples, o custo passou de R$ 1.271/ha para R$ 1.369,8/ha, alta de 7,78%. Na fazenda típica de 1.500 hectares, isso representou gasto adicional de R$ 148.267,49, o que exigiu a produção de pelo menos 1.309 sacas de soja a mais. Em Sorriso, a adubação com o formulado 00-18-18 subiu 5,13%, de R$ 1.332,4/ha para R$ 1.400,8/ha. Para a fazenda típica, o desembolso adicional foi de R$ 82.039,62, equivalente a 753 sacas de soja. A maior variação foi observada em Maracaju. O custo da adubação com cloreto de potássio e MAP saltou de R$ 1.186,6/ha para R$ 1.403,4/ha, aumento de 18,27%. No módulo típico de 1.000 hectares, o acréscimo chegou a R$ 216.743,82, o que corresponde a 1.963 sacas de soja adicionais.

Diante desses resultados, a compra antecipada de fertilizantes para a safra de soja 2025/26 garantiu preços mais vantajosos aos produtores. Já a postergação elevou de forma significativa os custos por hectare, exigindo maior produtividade apenas para compensar o gasto extra e manter a margem. Esse cenário evidencia a importância do planejamento e da oferta de linhas de crédito oportunas, com menos burocracia para liberação dos recursos. A escolha do momento da compra torna-se, assim, um fator determinante para a rentabilidade das lavouras, mesmo considerando que os preços futuros possam superar os níveis utilizados na análise.

Fonte: CNA Brasil