O etanol brasileiro tem espaço para crescer mais no comércio global, à medida que o consumo de gasolina se aproxima de seu pico, disse o diretor de Downstream da S&P Global para a América Latina, Felipe Pérez, em entrevista ao estúdio epbr durante a CERAWeek 2024, da S&P Global, no Texas.
Ele destaca que a tecnologia dos veículos flex já está estabelecida e que o Brasil pode se valer de sua experiência no mercado de biocombustíveis para ter “um papel mais internacional”. Para isso, Pérez defende a importância das parcerias.
“A gente está vendo algum avanço, isso a gente viu na questão do etanol: o Brasil, os Estados Unidos e a Índia fazendo uma aliança para tentar desenvolver mais partes de etanol e combustíveis, mas ainda falta muito para a gente fazer acontecer”, disse.
Em setembro do ano passado, em encontro lateral à cúpula do G20 na Índia, os países selaram um acordo para criação da Aliança Global de Biocombustíveis (GBA, na sigla em inglês). Proposta pelo país sede, tem Brasil e EUA como cofundadores e atraiu a assinatura de Cingapura, Bangladesh, Itália, Argentina, Ilhas Maurício e Emirados Árabes Unidos.
Na ocasião, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva cobrou a adoção do etanol em países ricos. O objetivo da aliança é “acelerar a adoção global de biocombustíveis por meio da facilitação de avanços tecnológicos” – definição de padrões; certificação; criação de um repositório central de conhecimento e especialistas.
Brasil precisa de eficiência na infraestrutura para novas energias
Pérez comentou também que, no contexto da transição energética, o Brasil precisa olhar para sua capacidade de atração de capital para infraestrutura de escoamento dos novos combustíveis. Ele lembra que o domínio e a dependência de um único player – a Petrobras – criaram, historicamente, certos impedimentos para expansão da infraestrutura.
“A gente precisa ganhar eficiência, porque não adianta você fazer o hidrogênio da melhor maneira possível. De qualquer cor. O Brasil tem o menor custo para fazer hidrogênio. Como chegar no consumidor? A gente vai transportar hidrogênio do caminhão, como a gente faz por diesel para o Brasil?”, questionou.
O Brasil, segundo Pérez, o Brasil precisa se atentar para as janelas de oportunidade, sob o risco de perdê-las.
“Vamos pensar no combustível do futuro? Ok. Então, como trazer todos esses setores, desde a geração, da demanda, e o elo entre esses dois? Como a gente conecta? Qual é a infraestrutura? Quais são os dutos que a gente tem? Quais são os modos de transporte para essa nova energia?”, complementou.
Pérez conta que os desinvestimentos da Petrobras no refino, caso tivessem sido concluídos, poderiam ter ajudado a criar um ambiente mais propício para outras linhas de investimento – como, por exemplo, polidutos e biorrefinarias:
“Agora, independente de desinvestir ou não, se a gente vai manter o monopólio, acho que a questão principal daqui para frente é qual é o custo do Brasil do refino… Acho que se é Petrobras ou se é o privado o refinador, acho que falta essa discussão. O refino no Brasil é competitivo ou não?”, comentou.
Fonte: EPBR