
Por Isadora Camargo
A Ourofino Agrociência, de defensivos agrícolas, fechou o ano fiscal 2024/25, que se encerrou em 31 de março, com lucro líquido de R$ 85,5 milhões, o que representou um aumento de 22,2% em relação ao exercício anterior. O lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), por sua vez, aumentou 78,8%, para R$ 155,7 milhões.
A empresa pretende dar um novo salto a partir de 2026, segundo o presidente da empresa, Marcelo Abdo. Como parte desses esforços, a estratégia da Ourofino terá como elementos-chave o mercado de biológicos, a especialização dos profissionais de campo e a venda de formulações novas. O executivo diz que esses elementos serão essenciais para a companhia enfrentar um quadro de juros altos e limitação de crédito no Brasil.
Já neste ano, a empresa vai apostar na entrada no mercado de biológicos e na remodelação das vendas ao produtor. A Ourofino acertou em 2024 uma parceria com a Vale Ouro, empresa fundada por um dos sócios, mas independente do grupo, para acelerar sua atuação no mercado de bioinsumos. “Vamos estimular pacotes com manejo híbrido, biológico e químico. Estamos com isso dentro de casa, com nosso padrão de qualidade”, disse Abdo ao Valor.
A expectativa é de um ramp-up acelerado no segmento de biológicos, entre três e cinco anos. “Vamos estimular pacotes com manejo híbrido, biológico e químico. Estamos com isso dentro de casa, com nosso padrão de qualidade”, ressalta Abdo.
Entre o segundo semestre deste ano e 2026, a empresa deve colocar no mercado outros três produtos, dois inseticidas e um fungicida. Em paralelo, pesquisadores da empresa já fazem uma imersão na Ásia, em especial na China e no Japão, para acelerar testes de 21 formulações e 25 moléculas que estão em fase de descoberta e devem dar origem a produtos comerciais daqui a dez anos.
A Ourofino também reestruturou sua equipe comercial, agrega à figura do consultor de vendas outros profissionais qualificados como “agente de demanda”. Esses colaboradores ficam no campo fazendo testes com os insumos para estimular o interesse dos produtores e apresentar a eles o portfólio da marca.
Crise do setor
O ano de 2022 foi histórico para o mercado de defensivos — foi o melhor ano do segmento, afirma Abdo. No entanto, em 2023, o segmento passou por uma virada negativa, o que fez com que a Ourofino e também seus concorrentes se resguardassem. Uma das consequências do ano ruim foi o aumento dos estoques, que começaram a diminuir em 2024.
A situação começou a se normalizar de fato em 2025. Abdo afirma que a empresa conseguiu passar pela crise distanciando-se da venda de produtos commodity e investindo entre 2% e 2,5% da receita em pesquisa e desenvolvimento para gerar novas formulações e patentes.
Segundo ele, a companhia mantém a política de investimentos mesmo em anos mais problemáticos. “Se eu brecar os investimentos em um ano difícil, atraso a companhia em até seis anos. Isso está fora de cogitação. Nossa gestão está preparada. Temos força em crédito, fluxo de caixa e alavancagem”, diz. A alavancagem da empresa passou de 5 vezes o Ebitda em 2023 para -1 vez no ano fiscal 2024/25.
Sustentabilidade financeira
Em um ciclo de crises, o presidente Marcelo Abdo atribui a sustentabilidade financeira da companhia a três estratégias: entrada no mercado de biológicos, especialização dos profissionais de campo e desenvolvimento de formulações novas. Fugir da venda de commodities foi um salto para a sustentabilidade da empresa, lembra o executivo.
Houve um avanço da companhia nos principais cultivos e segmentos, em meio à volatilidade cambial, retração nas commodities agrícolas, eventos climáticos adversos e restrições de crédito no setor. “O período nos colocou à prova em todos os sentidos, mas saímos ainda mais fortes, graças à solidez da nossa estratégia e à capacidade de execução das nossas equipes”, afirma Abdo.
Regionalização
Além da aposta em novos produtos, a Ourofino reforçou a aproximação com cooperativas do Sul do Brasil por meio do programa OuroCoop, e ampliou o alcance da iniciativa Reimagine, voltada à conexão direta com produtores em experiências técnicas e comerciais. A atuação nessas frentes fortaleceu a presença da marca em regiões estratégicas, como o Cerrado e o Sul do país.
No ciclo 2024/2025, a companhia desenvolveu, em parceria com a PwC Agtech Innovation, sua estratégia de inovação aberta. “Implementamos planos de ação comerciais voltados à rentabilidade com o treinamento de mais de 40 mil horas aos funcionários”, afirma Abdo.
Inadimplência e estratégia
Sobre inadimplência, Abdo admite que 2025 ainda será um ano desafiador. “Quem está capitalizado vai seguir investindo, mas a taxa de juros no Brasil dificulta a rentabilidade do produtor. Os custos estão subindo. Nossa gestão de crédito é forte, mas isso não vai limitar nosso crescimento. É um ano preocupante. Mais um com RJs, e os bancos vão segurar o crédito. Precisamos que os juros se acomodem.”
Fonte: Globo Rural