Por Isadora Carmargo e Rafael Walendorff
Depois de quase 11 meses de análise, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a fusão entre as multinacionais Bunge e Viterra. A decisão do órgão saiu ontem no Diário Oficial da União.
Avaliado em US$ 8,2 bilhões, o negócio deverá acirrar a disputa pela liderança do mercado global de alimentos e commodities agrícolas, do qual ambas as empresas são protagonistas. Das duas, a Bunge é a que tem a presença mais expressiva no Brasil — a companhia é a maior compradora e esmagadora de soja do país.
A aprovação do acordo no Brasil, um dos principais mercados para as gigantes do agronegócio, era central para as ambições das duas empresas. Mas, para que possam concluir a transação efetivamente, elas ainda precisam superar outras barreiras.
O órgão canadense de defesa da concorrência, por exemplo, declarou, em parecer recente, que o negócio pode ter “efeitos anticoncorrenciais substanciais” no país, em especial na compra de grãos e no comércio de óleo de canola. O Canadá é o país de origem da Viterra.
Na safra de 2022/23, os produtores colheram mais de 90 milhões de toneladas de grãos no Canadá. Em seu parecer, do dia 23 de abril, o órgão antitruste afirmou que o acordo pode representar um risco porque tem, de um lado, a Bunge, a empresa com o maior número de unidades de esmagamento de oleaginosas do país, e, de outro, a Viterra, que detém o maior número de unidades de armazenagem de grãos do oeste do Canadá. A região concentra cerca de 60% da produção de grãos canadense.
O Departamento de Concorrência do Canadá disse ainda que a união entre as duas companhias pode ter impacto sobre as operações da G3, uma das principais concorrentes da Viterra na operação de armazenagem de grãos — a Bunge é acionista minoritária da G3. Juntas, as três empresas respondem por um terço da capacidade de armazenagem do oeste do Canadá. O órgão encaminhou suas observações ao Ministério dos Transportes do país, que tem até 2 de junho para analisar o parecer.
Na ocasião, Viterra e Bunge voltaram a afirmar que acreditam na conclusão do negócio até meados deste ano. “Estamos satisfeitos com o avanço do processo regulatório e confiantes de que a transação vai gerar benefícios consideráveis para o Canadá”, afirmaram.
Greg Heckman, o principal executivo da Bunge, tem reiterado essa mensagem. Ele já declarou que, caso os órgãos antitruste exijam a venda de alguma unidade para autorizar a união, haveria uma demanda “muito forte” por ativos da companhia. Em novembro, em um evento da Reuters no Estado americano de Minnesota, ele declarou que a Bunge estaria disposta a negociar essas unidades “por um valor muito justo”.
No Brasil, o Cade não exigiu a venda de ativos para aprovar o negócio. Para fontes do setor, a união de fato deverá ter pouco impacto sobre as operações brasileiras de embarques de commodities e o mercado doméstico de grãos.
Entre executivos da indústria, a avaliação é de que a fusão pode tornar a Bunge ainda mais agressiva no negócio de commodities, apesar de a gigante já estar “verticalizada”. A estrutura da Viterra no Brasil inclui moinho de trigo, uma sociedade com o Tegram, em Itaqui (MA), e também operações no segmento de cana-de-açúcar.
O baixo impacto não significa que integrantes do segmento tenham ficado indiferentes à aprovação. “Toda vez que ocorre a união de duas grandes empresas, há preocupação no setor, porque o acordo representa uma concorrente a menos. O setor prefere que haja mais empresas em operação”, disse Glauber Silveira, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) e ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
Fonte: Globo Rural