Por Marcelo Beledeli e Cassiano Ribeiro
Apenas 37,4% dos imóveis rurais brasileiros têm cobertura de sinal 4G e 5G em toda a sua área de uso agropecuário. As restrições de acesso a internet de alta velocidade, que têm impacto direto sobre a adoção de tecnologias digitais e a eficiência das operações agrícolas, aparecem no Indicador de Conectividade Rural (ICR), uma radiografia inédita do alcance e da qualidade da internet nas áreas rurais dos municípios brasileiros.
Para realizar o mapeamento, a organização ConectarAgro, da qual fazem parte algumas das maiores empresas de máquinas agrícolas, insumos e telefonia do país, trabalhou em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV). O Indicador de Conectividade Rural é resultado do cruzamento de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) de todos os Estados e municípios do país com os do Índice Brasileiro de Conectividade (IBC), da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A atualização do ICR deverá ocorrer a cada três meses.
Para o cálculo do ICR, a ConectarAgro baseou-se em critérios sociais, ambientais, produtivos e de infraestrutura, que têm pesos distintos entre si. Ao cruzar os dados sobre cada um dos itens desses quatro critérios, cada cidade e Estado recebeu notas entre 0 (completamente sem conexão rural) e 1 (conexão rural completa). O índice de conectividade rural dos municípios, que usou informações referentes a 2023, foi de 0,454, em média.
O levantamento põe em evidência os “furos” da conectividade nas áreas rurais e atesta as dificuldades para a universalização desse serviço no Brasil. “Isso mostra uma situação muito aquém do potencial do país. Mas, por outro lado, existe um potencial gigante de ganho de rendimento a partir da expansão de conectividade. Podemos trabalhar para que isso seja realidade em um curto espaço de tempo”, disse Ana Helena Andrade, que deixou a presidência da ConectarAgro na quarta-feira (17/4).
Sua sucessora no cargo é Paola Campiello, gerente de Soluções e Conectividade da CNH Industrial. “A ideia é que o indicador seja uma ferramenta de apoio a políticas públicas e privadas”, afirmou ela na apresentação do ICR.
Das 27 unidades da federação, 12 têm índice superior à média do ICR. O Distrito Federal, com índice de 0,807, é o que tem a pontuação mais alta, e o pior é o Amazonas, com 0,101. Entre os municípios, o índice mais baixo é o de Maués (AM), com apenas 0,0051, enquanto Porto Alegre alcançou índice 1,000 (ou seja, toda a área rural da capital do Rio Grande do Sul está conectada).
Segundo a ConectarAgro, diferenças tão grandes entre os índices de Estados e municípios refletem as desigualdades regionais. Ao mesmo tempo, elas reafirmam a necessidade de investimentos em infraestrutura e de fortalecimento de políticas públicas para ampliar o acesso à internet nas áreas rurais.
Mesmo grandes polos agrícolas têm índices de conectividade que contrastam com a relevância desses municípios para o agro nacional. O ICR de Sorriso (MT), o maior produtor de soja e milho do Brasil, por exemplo, é de apenas, 0,2190. Uberaba (MG), o maior produtor de cana-de-açúcar, tem índice de 0,4877, pouco superior à média nacional, e Rio Bananal (ES), líder na produção de café, tem índice apenas mediano, de 0,5725.
COBERTURA NO CAMPO
Retrato da conectividade rural no país – Índice*
O mapeamento revela que apenas 18,79% da área disponível para uso agrícola no Brasil tem cobertura 4G e 5G, uma oferta que se concentra principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. O trabalho mostra ainda que 39% dos pequenos produtores têm acesso a cobertura 4G e 5G em toda a área de produção. No caso de médios e grandes produtores, as fatias são de 16,2% e 6,4%, respectivamente.
A cobertura de internet rápida é ainda mais limitada nos assentamentos da reforma agrária: apenas 10,4% têm conexões 4G e 5G. No caso de povos e comunidades tradicionais, 26,1% têm cobertura de internet rápida em toda a área destinada à agropecuária.
A internet no campo é uma ferramenta de ganho de produtividade. Com ela, os produtores conseguem ver em tempo real, por exemplo, o funcionamento de uma plantadeira na lavoura e identificar se a máquina está fazendo a semeadura em velocidade que permita concluir os trabalhos na janela ideal de plantio ou se ela precisa de ajustes.
A diretoria da ConectarAgro afirma que, com a estrutura atual da UFV, a coleta dos dados leva aproximadamente 20 dias. Depois, é necessário processar os dados nos computadores da universidade, o que exige mais uma semana, pelo menos.
Fonte: Globo Rural