ITAÚ BBA: O mercado de insumos agrícolas

Em reunião promovida nesta segunda-feira (18/03) pelo ITAÚ BBA, João Paulo Zampieri, consultor sênior com mais de três décadas de experiência na Syngenta, uma das principais empresas agrícolas do mundo, falou sobre o tema “Mercado de Insumos Agrícolas”. A mensagem chave de Zampieri foi a de que o setor agrícola é cíclico, e o ciclo parece estar perto do fundo, o que pode ser uma oportunidade para os players capitalizados para continuar a consolidar o mercado.

A agricultura é um setor cíclico – um fato que vale a pena reafirmar

Com muitos recém-chegados ao setor após alguns anos muito bons em termos de margens, Zampieri observou que várias empresas ainda não haviam visto uma desaceleração no ciclo agrícola antes. Com os preços dos grãos caindo cerca de 30% em um ano, e com os preços das terras agrícolas seguindo o exemplo (embora potencialmente em menor grau), os players capitalizados podem ter uma oportunidade de consolidar ainda mais o mercado, particularmente no segmento de revenda de insumos.

De acordo com o Zampieri, pequenos grupos de revendedores, em particular, tendem a ser “mais emocionais”, com alguns priorizando relacionamentos de longo prazo, apesar de níveis de inadimplência mais altos e garantias mais fracas. Grupos maiores de revendedores, por outro lado, podem sofrer com as questões culturais que acompanham as consolidações, segundo o consultor. Estas parecem ser “dores de crescimento” comuns entre os players que se expandiram rapidamente durante um ciclo de boom e, agora, podem ser forçados a diminuir.

Em relação às diferentes categorias de insumos agrícolas, o Zampieri acredita que a relação de maiores margens para os agroquímicos, seguida pelas sementes, e depois pelos fertilizantes, ainda se mantém. As margens para os fertilizantes são historicamente baixas, dada a natureza comoditizada do mercado, e permaneceram assim nos últimos anos. Por outro lado, as margens para as sementes aumentaram devido ao aumento constante da tecnologia.

Zampieri está um pouco mais preocupado com os agroquímicos, dada a erosão das margens entre os principais fabricantes nos últimos anos, que ele acredita que pode ser atribuída a três fatores: i) produtos “genéricos”, que parecem ter ganhado participação no Brasil nos últimos anos; ii) lançamentos de produtos, que diminuíram em relação aos anos anteriores, face ao aumento dos custos de pesquisa & desenvolvimento; e iii) descontos, que parecem ter poluído as margens do setor.

O mercado de produtos biológicos continua a ser um destaque, apesar do aumento da cautela

Os produtores raramente reduzem sua tecnologia implementada, de modo que aqueles que já mudaram para o uso de produtos biológicos devem continuar a usá-los. Na verdade, a empresa de consultoria do Zampieri realizou mais de duas dúzias de entrevistas com agricultores, a maioria dos quais observou que não tinha planos de reduzir o uso de produtos biológicos em suas fazendas, apesar do cenário mais desafiador.

No entanto, o cenário mais difícil pode reduzir as taxas de adoção entre novos usuários, com taxas de crescimento mais modestas agora previstas para os próximos dois anos. As diferenças regionais também desempenham um papel, com fungicidas biológicos tendo um melhor desempenho no Rio Grande do Sul, de acordo com a consultoria, que também citou os biológicos contra insetos (percevejos) como um desenvolvimento fundamental.

Além desse ajuste no crescimento do mercado, outro risco citado pelo Zampieri é o anúncio da entrada no mercado de produtos biológicos de várias grandes empresas químicas, incluindo Syngenta, BASF, Bayer e Corteva, entre outras. O consultor acredita que agora é o momento para as empresas estabelecidas acelerarem o ritmo de desenvolvimento de P&D, antes que os grupos multinacionais assumam o mercado.

Uma palavra sobre o canal de Cooperativas

As cooperativas representam uma parcela significativa do setor do agronegócio brasileiro, particularmente na região Sul do país. Dado o perfil maduro desse mercado, especialmente em comparação com as regiões do cerrado/ MATOPIBA, muitas cooperativas do Sul estão agora dando uma olhada mais de perto nos mercados do Norte, incluindo Goiás e Mato Grosso do Sul. O cenário de mercado mais difícil impediu que algumas dessas cooperativas acelerassem seu ritmo de expansão em 2023, mas é improvável que as detenham por muito tempo, especialmente depois de ver o sucesso da cooperativa Comigo, segundo Zampieri.