Industrialização da soja recebe investimentos de R$ 5,7 bilhões

Beneficiamento de soja está abaixo do esperado pela capacidade ociosa da indústria, mas números ainda são animadores, segundo Abiove — Foto: Wenderson Araujo/CNA

Por Cibelle Bouças

As empresas da cadeia de soja vão investir R$ 5,76 bilhões na expansão e construção de novas plantas industriais nos próximos 12 meses, de acordo com levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

O montante é 4% inferior aos R$ 6 bilhões que as empresas desembolsaram nos últimos 12 meses, mas, ainda assim, o número é expressivo: para efeito de comparação, no intervalo entre 2020 e 2022, os investimentos foram bem menores, somando R$ 2,5 bilhões no triênio.

“Ainda é um investimento considerável, se levarmos em conta a capacidade ociosa. Isso significa que as empresas acreditam no aumento da demanda no longo prazo”, disse ao Valor Daniel Amaral, economista-chefe da Abiove.

Segundo ele, os investimentos terão uma pequena queda entre um ano e outro porque parte da capacidade instalada estava ociosa. Nos últimos 12 meses, a capacidade instalada das indústrias cresceu 4,5%, ou 3,1 milhões de toneladas, passando para 72,3 milhões de toneladas por ano.

A capacidade ociosa é de 24,6%. O total de plantas ativas subiu de 106 para 113 unidades, e o de unidades paradas, que era de 22, caiu para 19.

De acordo com a Abiove, fazem parte da lista de investimentos previstos para os próximos 12 meses a construção de cinco novas esmagadoras de soja e a ampliação de outras cinco plantas industriais. Com isso, haverá um acréscimo de capacidade de 19,35 mil toneladas por dia, para 238,41 mil toneladas diárias. Em um ano, isso representará uma capacidade de 78,7 milhões de toneladas, o que vai corresponder a um aumento de 8,8%.

A ampliação da capacidade produtiva tem como pano de fundo as perspectivas de uma possível safra recorde no ciclo 2024/25 e de crescimento da demanda por óleo para biodiesel e por farelo para rações animais.

A Abiove ainda não tem uma estimativa própria para a safra. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calcula que a área de cultivo de soja crescerá 3% na safra 2024/25, para 47,4 milhões de hectares, e que a produção terá um aumento de 12,8%, para 166,3 milhões de toneladas.

Demanda e iniciativas

Do lado da demanda, a produção de biodiesel, que chegará a 8,9 bilhões de litros em 2024, deverá alcançar 10,1 bilhões de litros no ano que vem, estima a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) — no Brasil, o óleo de soja é a principal matéria-prima do biocombustível. Em março de 2025, a mistura obrigatória do biodiesel no diesel subirá de 14% para 15%.

Além disso, o Congresso Nacional aprovou o programa Combustível do Futuro, que estabelece aumento de 1 ponto percentual na adição de biodiesel ao diesel fóssil por ano até 2030, quando chegará a 20%. A elevação voluntária do teor do biodiesel não precisa mais de aval da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Para se fazer o aumento, basta comunicar a agência.

Em relação ao farelo de soja, a Conab prevê aumento das exportações e, com a expectativa de elevação dos embarques de carnes bovina, de aves e suína, também do uso do produto para ração animal no mercado interno.

Um dos novos projetos de processamento de soja é da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo). Ela começou neste ano a investir R$ 1,3 bilhão para instalar uma fábrica em Palmeiras de Goiás (GO), que terá capacidade de processamento de 5 mil toneladas de soja por dia.

A Olfar vai instalar em Porangatu (GO) uma unidade de processamento de soja que poderá processar 3 mil toneladas por dia. A empresa não informou quanto investirá na planta, que deverá entrar em operação no fim de 2025.

No Paraná, o Grupo Potencial investe R$ 1,7 bilhão em uma nova usina de biodiesel, com capacidade para produzir 900 milhões de litros de biodiesel por ano. A unidade ficará em Lapa e deverá entrar em operação em 2026.

Na lista de projetos de expansão figuram o da Caramuru Alimentos, que investe R$ 210 milhões para dobrar a capacidade de processamento em Ipameri (GO) até 2025, para 900 mil toneladas por ano. A Cocamar investirá R$ 500 milhões para ampliar em 50%, para 1,5 milhão de toneladas por ano, a capacidade de processamento em Maringá (PR).

A Agrodanieli investe R$ 240 milhões para triplicar a capacidade de processamento de soja na fábrica de Tapejara (RS) e na construção de uma nova planta de fertilizantes.

Fonte: Globo Rural