
O mercado de commodities enfrentou desafios importantes na última semana, influenciado principalmente por desdobramentos geopolíticos e condições climáticas adversas. Entre os dias 23 e 24 de junho, o anúncio de um cessar-fogo pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe alívio momentâneo, gerando uma correção técnica no complexo energético.
O petróleo bruto e ativos relacionados recuaram entre 2% e 4%, reduzindo o suporte para outras commodities, como soja e milho. Enquanto isso, os preços do açúcar se mantiveram estáveis, em torno de 16 centavos por libra-peso (c/lb), porém o sentimento predominante no mercado ainda é de baixa.
No Centro-Sul do Brasil, relatos de geadas leves aumentaram as preocupações, especialmente com o início recente do inverno. Embora não tenham sido registrados impactos graves ou mensuráveis sobre a produção de cana-de-açúcar, a possibilidade de novos episódios climáticos desfavoráveis tem gerado incertezas, segundo Lívea Coda, coordenadora de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.
Além disso, o anúncio de que o mandato de mistura de etanol E30 só entrará em vigor em 1º de agosto de 2025, ao invés de junho como alguns esperavam, contribuiu para um cenário mais confortável em relação aos estoques de biocombustíveis, reduzindo o potencial de alta nos preços do açúcar.
Diante desses fatores, a Hedgepoint revisou para baixo suas projeções para a safra de cana. A produtividade (toneladas por hectare) segue abaixo das expectativas, reflexo do estresse sofrido pela cana entre agosto e setembro de 2024, que as chuvas de verão não conseguiram reverter completamente. A estimativa do ATR (Açúcar Total Recuperável) foi ajustada para 139,8 kg por tonelada, enquanto o mix açucareiro pode alcançar cerca de 51,3% caso as usinas mantenham o ritmo atual de processamento.
Embora a revisão tenha impacto limitado nas projeções para o etanol, pois a Hedgepoint já considerava o início do mandato E30 em junho, foi observada uma queda na participação do etanol hidratado na demanda total de combustíveis — atingindo 38% em abril, segundo dados da ANP —, influenciada pela piora da paridade na bomba.
Com a redução da produção, a disponibilidade de açúcar diminuiu em 700 mil toneladas, passando de 42,4 milhões para 41,6 milhões de toneladas. Consequentemente, as exportações previstas para o Centro-Sul foram ajustadas de 33,4 milhões para 32,7 milhões de toneladas, e o excedente comercial entre o segundo trimestre de 2025 e o terceiro de 2026 caiu de 3,5 para 2,8 milhões de toneladas.
Apesar da perspectiva geral ainda apontar para um cenário de baixa, o saldo mais apertado e os riscos climáticos futuros indicam que os preços do açúcar podem voltar a superar os 16 c/lb, com potencial de recuperação até perto de 17 c/lb. Contudo, fatores como boas perspectivas de safra no Hemisfério Norte (especialmente na Índia, China e Tailândia), o mercado ainda com atividade moderada, o suporte limitado do complexo energético e a política de repasse de custos da Petrobras, além das vendas de última hora que têm pressionado as cotações desde maio, mantêm o mercado sob pressão.
Assim, a combinação de geadas, produtividade abaixo do esperado e atraso no início do mandato do etanol E30 levaram a Hedgepoint a revisar suas estimativas para a safra de açúcar do Centro-Sul, reforçando um cenário de incertezas e desafios para o setor nos próximos meses.
Fonte: Portal do Agronegócio