
Por Fernanda Pressinott
O grupo brasileiro Wirstchat, especializado em nutrição vegetal, deu início à sua expansão internacional com a construção de sua primeira fábrica na Europa. A unidade, já em fase de implantação, ficará na cidade de Vendas Novas, na região do Alentejo, em Portugal. A Harvest Agro, marca comercial do grupo, será responsável pela operação da planta, que deverá começar a produzir efetivamente até dezembro de 2026.
Ao todo, o projeto receberá um investimento de 4 milhões de euros, sendo 3 milhões de euros com recursos da própria empresa e 1 milhão de euros com empréstimo de um banco de fomento português. Os recursos portugueses só entrarão depois de um ano da instalação da unidade.
A fábrica terá capacidade produtiva de 300 mil litros por mês, e a expectativa do grupo é de que ela gere receita de 2 milhões de euros (cerca de R$ 15 milhões) já no primeiro ano de funcionamento. A planta vai abastecer o mercado europeu com produtos como fertilizantes especiais, polímeros agrícolas e mitigadores de estresse abiótico (que podem ser fatores como seca, frio ou calor extremos e inundações, por exemplo).
“Portugal tem se mostrado uma porta de entrada estratégica para [acesso à] Europa. Além disso, a língua facilita o intercâmbio tecnológico”, afirmou ao Valor Andreto Ceolin, o CEO do grupo.
A planta na Europa também servirá à empresa como uma ferramenta de proteção contra as oscilações da taxa de câmbio. “O real está muito desvalorizado, e importamos muitos produtos de Europa e Ásia. Assim, uniremos o hedge natural das moedas com a expansão internacional”, disse ele.
A localização de Vendas Novas deverá facilitar a logística da companhia. A cidade fica próxima à rodovia A25/IP5, uma das principais conexões entre Portugal e Espanha, o que dará à empresa acesso ágil a outros mercados europeus. Historicamente, o Alentejo tem sofrido com falta de chuvas, o que levou à construção de uma grande barragem e à criação de políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento industrial da região.
Ceolin conhece bem o mercado de insumos. Ele fundou uma companhia de fertilizantes foliares e tratamento de sementes em 2008 e, sete anos depois, vendeu o negócio para uma multinacional americana. O executivo ficou fora do mercado até 2019 por questões contratuais e voltou ao segmento com a criação da Wirstchat.
Com fábrica em Olímpia (SP) e matriz em Londrina (PR), o Grupo Wirstchat atua com duas frentes principais: a Wirstchat Polímeros, de aditivos para misturadoras dos macronutrientes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), voltada ao mercado de negociações entre empresas (B2B), e a Harvest Agro, responsável pela linha de vendas ao consumidor final (B2C), que inclui adjuvantes, fertilizantes foliares, mitigadores de estresse hídrico e, mais recentemente, defensivos biológicos.
“A empresa não comercializa fertilizantes NPK diretamente, mas fornece polímeros que são incorporados por parceiros como a Fertipar e a Coopavel. O diferencial da Wirstchat está justamente nos polímeros aplicáveis a fósforo e potássio — ainda pouco explorados — além dos tradicionais voltados ao nitrogênio”, disse o executivo.
Na divisão Harvest Agro, o grupo investiu R$ 8 milhões na construção de uma fábrica de defensivos biológicos em Olímpia. A planta aguarda registro no Ministério da Agricultura e deve iniciar a comercialização dos produtos até o fim de 2025, sob a marca Harvest Bio. A nova linha completará o portfólio da Harvest Agro, que já vende seus produtos por meio de revendas e, em alguns casos, diretamente a grandes produtores.
O grupo Wirstchat faturou R$ 80 milhões em 2024 e projeta receita de mais de R$ 100 milhões neste ano. Em Portugal, a empresa já conta com uma distribuidora local, que, hoje, movimenta cerca de 400 mil euros por ano.
De acordo com o executivo, em 2023, fundos e multinacionais o procuraram para propor a criação de joint ventures, mas a companhia optou por seguir de forma independente. “Somos uma empresa sólida, mas enxuta. Falamos a língua do agricultor, não apenas a dos acionistas, e esse é o nosso diferencial”, disse.
Nos Estados Unidos, porém, a visão é diferente: Ceolin afirma estar em busca de sócios para ingressar no país. “O modelo de distribuição americano é bastante fechado, dominado por grandes empresas, como a Nutrien”, relata.
Para apoiar essa nova fase de expansão, a Wirstchat atraiu recentemente um novo sócio: o engenheiro químico Fábio Vidal, ex-ICL, considerado um dos maiores especialistas do Brasil em desenvolvimento de fertilizantes. Ceolin afirma que a entrada do engenheiro reforça a capacidade da empresa de gerar inovações fisiológicas reais nas plantas, voltadas aos mercados interno e externo.
Fonte: Globo Rural