
De olho na demanda por novos combustíveis, a Petrobras está em busca de uma aproximação com o agronegócio, em uma estratégia que passa por investimentos em biorrefino e aquisições no setor de etanol e biometano. “Vamos fundir o setor petróleo com o agro brasileiro”, disse nesta terça (2/9) a presidente da estatal, Magda Chambriard, ao defender o retorno da petroleira ao mercado de etanol.
Durante o 12º Fórum do Biogás, em São Paulo (SP), a executiva criticou a saída da empresa do segmento de etanol e lembrou que o plano de negócios 2025-2029 prevê US$ 16,5 bilhões em investimentos em transição energética. “É muito dinheiro, é uma carteira que precisa ser rentável”, apontou a presidente.
Desse montante, US$ 2,2 bilhões já aprovados pelo conselho da empresa são para o retorno ao etanol. Está prevista uma parceria com uma grande empresa do setor — ainda não definida. A atualização do plano está em curso e deve ser divulgada até o fim do ano.
Outra aquisição no radar é para posicionar a petroleira no emergente mercado de biometano. A partir de 2026, a molécula de gás renovável passará a ser obrigatória no gás fóssil comercializado no país e a estatal está atenta a isso. Segundo Chambriard, a Petrobras “está em conversas avançadas com players do setor” para investir em plantas existentes de biometano. “Estamos falando de fusões e aquisições”, disse a executiva.
O objetivo é que a companhia tenha uma participação nas empresas, sem se tornar operadora. A expectativa é que os primeiros anúncios sejam feitos no segundo trimestre de 2026.
Em janeiro, a estatal abriu uma chamada para a aquisição de biometano, com o objetivo de atender ao mandato previsto na lei do Combustível do Futuro. O resultado, no entanto, levantou dúvidas sobre a capacidade do mercado de suprir essa demanda inicial.
Alternativa à eletrificação
Em São Paulo, o biometano entrou na agenda de descarbonização da maior metrópole brasileira, como uma alternativa à eletrificação de ônibus do transporte público e caminhões de coleta de resíduos.
Também nesta terça, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou decreto que institui o programa Bio SP, com regras para aquisição de biometano e sua incorporação progressiva à frota da cidade. A decisão chega em meio a uma crise com a Enel, usada por Nunes como justificativa para o atraso no cumprimento da meta de eletrificação dos ônibus.
De acordo com o Programa de Metas de 2025 a 2028, a capital paulista deve substituir 2,2 mil ônibus movidos a diesel por alternativas mais limpas. É uma revisão para baixo da ambição anterior, que previa a substituição de 20% da frota.
“Temos um problema muito sério, que não tivemos a sorte de uma empresa que fornece a energia para nós, que é a Enel, que pudesse dar a infraestrutura necessária para as garagens abastecerem seus ônibus”, criticou o prefeito nesta terça.
É também uma forma de aproveitar o potencial de biometano de resíduos urbanos da cidade, e do setor sucroenergético do estado. “Aí a gente vem com essa alternativa de uso do gás. Os estudos da SPTrans têm mostrado a viabilidade e as conversas e negociações com a indústria e o setor de produção [também]”, completou Nunes.
Atualmente, o combustível utilizado nos 125 caminhões da coleta é produzido nos próprios aterros municipais. A meta é que mais de 600 caminhões da frota de coleta sejam substituídos até 2027. A ABiogás estima que apenas os resíduos produzidos na cidade de São Paulo poderiam substituir 50% do diesel consumido pelo transporte público municipal.
Por Nayara Machado
Fonte: Eixos