Por Camila Souza Ramos
A produtora de etanol de milho FS Agrisolutions, controlada pelo Summit Agricultural Group, dos Estados Unidos, informou que testes comprovaram a viabilidade geológica de seu projeto de injeção de gás carbônico no solo em Lucas do Rio Verde (MT).
Maior produtora de etanol de milho do Brasil, a empresa aguarda agora a definição regulatória e de mercado para dar início ao primeiro projeto no Brasil de captura e estoque de carbono no solo, considerada uma das soluções para a mitigação do aquecimento global.
“Nas ultimas semanas conseguimos comprovar que há viabilidade geológica para fazer injeção do CO2 no site de Lucas do Rio Verde”, comemora Rafael Abud, CEO da FS.
Os testes mostraram que há viabilidade para a companhia injetar no solo toda a sua emissão atual de carbono na planta, de 423 mil toneladas ao ano, de forma líquida por 30 anos, o que resultaria em uma estocagem de 12 milhões de toneladas de carbono no subsolo no período. Após as três décadas, novos testes serão precisos para verificar a viabilidade de seguir com a atividade.
Os estudos identificaram uma camada de rocha selante com características compatíveis para a manutenção do gás no subsolo, além de uma camada inferior de rocha porosa com características adequadas para armazenar o gás carbono de forma líquida. Também foram verificadas outras características geológicas em conformidade, como relacionada à salinidade do solo.
Com o projeto, a FS conseguiria produzir um etanol que, em todo seu ciclo de vida, mais retira carbono da atmosfera do que emite. Hoje, o etanol de milho da empresa emite 17 gramas de CO2 por megajoule de energia gerada, segundo certificação no programa RenovaBio.
Até agora, a companhia já investiu R$ 100 milhões para os estudos, e prevê aportar mais R$ 350 milhões para construir a planta de captura de carbono.
A FS ainda avalia como pode obter o retorno desse investimento. Uma possibilidade é com o ganho de prêmios sobre a venda de um etanol com emissões líquidas de carbono negativas, o que é valorizado por alguns mercados de biocombustíveis.
Outra opção é com a venda de créditos de remoção de carbono no mercado voluntário de carbono. Nesse mercado, há contratos de longo prazo em que a tonelada do carbono removida é negociada por valores entre US$ 60 e US$ 100. “Nessa faixa de preço, o projeto é bastante viável”, diz Abud.
A certificadora Gold Standard já possui uma metodologia de quantificação de remoção de carbono em projetos de CCS, e a Verra, maior certificadora de créditos de carbono do mundo, tem uma proposta de metodologia em consulta pública.
A atividade ainda não tem previsão legal no Brasil. O projeto de lei Combustível do Futuro, já aprovado na Câmara e em trâmite no Senado, prevê regras para as projetos de captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês). Além da lei, o exercício da atividade dependeria de regras infralegais de órgãos como da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A FS pretende replicar o projeto em suas outras usinas de etanol de milho em Mato Grosso. Das unidades existentes e em construção, avaliações anteriores já identificaram que só não há condições geológicas adequadas em Primavera do Leste (MT), onde a companhia ergueu sua terceira planta.
A iniciativa da FS, que começou a ser planejada há quatro anos, inspirou seu próprio controlador a iniciar um projeto de captura de carbono nos Estados Unidos que se propõe a ser o maior do mundo. A Summit Agricultural Group criou o negócio Summit Carbon Solutions, que pretende operar um duto de captura de carbono que atravessa cinco Estados e uma planta de injeção de carbono na Dakota do Norte. O investimento previsto é de US$ 8,5 bilhões.
Fonte: Globo Rural