
CANA ONLINE – A Região Nordeste se prepara para uma mudança significativa no mercado de biocombustíveis. Com a entrada em operação de novos projetos para produção de etanol de milho, a região contará com uma oferta adicional de 1,3 bilhão de litros, volume que se somará aos 2,3 bilhões de litros anuais produzidos a partir da cana-de-açúcar.
Estas e outras informações foram apresentadas pelo CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, em reunião com representantes de empresas associadas ao Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool), na última semana (18/09). Durante o encontro, ele ressaltou que o avanço do etanol de milho em estados como Maranhão, Bahia, Piauí e Ceará tem potencial para ampliar o consumo do hidratado.
Para Ono, no curto prazo a expansão na produção de etanol de milho promete não apenas reduzir a dependência nordestina das transferências de etanol vindas do Centro-Sul durante a entressafra canavieira, como abre espaço para um aumento no consumo de etanol hidratado em estados com pouca tradição na distribuição e venda do biocombustível.
Segundo o executivo, Maranhão e Bahia são exemplos claros desta maior autossuficiência regional, diminuição de custos logísticos e mais estabilidade no fornecimento de etanol, grãos secos de destilaria (DDGS) para nutrição animal e outros subprodutos do milho.
“A partir de outubro deste ano, graças a uma usina recém-inaugurada no município de Balsas, o Maranhão deverá dobrar sua capacidade de produção, que atualmente é de 450 milhões de litros. Na Bahia, uma fábrica da Inpasa na cidade de Luís Eduardo Magalhães deve acrescentar 400 milhões de litros à oferta”, explica o executivo.
O presidente do Sindálcool, Edmundo Barbosa, destacou o crescimento no consumo de etanol na Paraíba nos últimos anos, comparado com outros estados da região: “O percentual de crescimento na participação do etanol tem sido maior. A apresentação do Martinho, verdadeira tomografia do setor, mostra em números uma métrica positiva, usada e perseguida. Estamos ainda distantes da vigência da alíquota única entre os estados, o que trará maior competitividade para o biocombustível”, completou.
“A expectativa é que o governo ofereça incentivos para estimular a demanda, permitindo que esses mercados alcancem níveis de consumo semelhantes ao desempenho de estados produtores consolidados, como São Paulo e Goiás”, pontua Martinho Ono.
Dados da SCA Brasil indicam que cerca de 80% das vendas do biocombustível hidratado no Brasil estão restritas a apenas seis estados — São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul — responsáveis por 55% da frota flex nacional. Isso revela um contraste: os demais 21 estados e o Distrito Federal, que abrigam 45% dos carros bicombustíveis, respondem por apenas 20% do consumo total.
Mercado interno
No período 2025-2026, o Brasil produzirá cerca de 10 bilhões de litros de etanol de milho. No entanto, projetos em andamento na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e em construção no Nordeste e no Centro-Oeste devem adicionar entre 8 e 10 bilhões de litros nos próximos anos.
Para o CEO da SCA Brasil, caberá ao mercado interno absorver praticamente todo esse volume extra de produção, já que “ainda não há perspectivas concretas de expansão internacional do biocombustível, seja por meio do combustível sustentável de aviação (SAF) ou da ampliação da mistura de etanol anidro na gasolina em outros países”.
Tarifas
Outro ponto abordado por Ono e que tem gerado bastante apreensão entre os produtores de etanol, em especial do Nordeste, é a possibilidade do governo brasileiro rever a atual tarifa de 18% para importação do etanol como forma de negociação com os Estados Unidos (EUA) em consequência do tarifaço de Donald Trump.
A alíquota, em vigor desde 2023 para países fora do Mercosul, tem funcionado como uma barreira de proteção, evitando a entrada do etanol importado no mercado brasileiro nos últimos anos — embora o etanol produzido no Paraguai continue isento. “Caso o governo brasileiro decida retirar essa proteção em uma negociação diplomática, o setor terá de reduzir significativamente os preços do biocombustível no mercado nacional para conseguir absorver a produção local diante da concorrência externa”, conclui Ono.
Foto: Etanol de milho – Crédito: CNA/Divulgação
Fonte: Cana Online