
O governo dos Estados Unidos retirou uma ampla lista de produtos agrícolas — incluindo café, frutas tropicais, cacau, especiarias, carne bovina e segmentos de fertilizantes — do alcance das tarifas recíprocas impostas no início do ano. A medida, assinada pelo presidente Donald J. Trump, foi recebida pelo governo Lula como uma vitória diplomática significativa, após meses de negociações técnicas entre Brasília e Washington.
Embora a nova diretriz não cite países específicos, interlocutores brasileiros afirmam que a decisão atende ao argumento central levado às mesas de negociação: os EUA não produzem esses bens em volume suficiente para abastecer o próprio mercado. Assim, as tarifas acabavam elevando custos para a indústria americana e pressionando a inflação ao consumidor.
O novo Anexo II da Executive Order 14257 suprime tarifas sobre itens estratégicos do agronegócio brasileiro. Entre os produtos contemplados estão café verde e solúvel, sucos cítricos, derivados de cacau, mangas, melões, especiarias, tomate industrializado, carne bovina e fertilizantes específicos.
Washington justificou a revisão citando a escassez doméstica e a forte demanda por bens dependentes de clima tropical. Para Brasília, a medida reconhece o papel do Brasil como fornecedor estrutural de cadeias globais de alimentos e insumos.
Negociadores brasileiros afirmam que a isenção tarifária oferece “escala e previsibilidade” num cenário de acirrada competição internacional por segurança alimentar. Especialistas ouvidos por consultorias de comércio exterior apontam que a mudança “reduz atritos no fluxo bilateral e favorece países com capacidade de entregar produtos essenciais sem alternativa doméstica”. O Planalto avalia ainda que a decisão reforça a renda no campo e consolida o Brasil como fornecedor indispensável ao mercado americano.
A retirada das tarifas sinaliza um ajuste no protecionismo norte-americano: políticas firmes para setores considerados sensíveis à segurança nacional e flexibilização dirigida a insumos tropicais que o país não consegue produzir. Para o Brasil, o timing é considerado decisivo, já que ocorre em um momento de disputa global por fornecedores confiáveis de café, cacau e carne — áreas em que o país mantém liderança em escala e eficiência.
O movimento também se insere em um contexto mais amplo. Nos últimos meses, Washington firmou nove acordos-quadro e dois acordos finais de comércio recíproco com parceiros estratégicos, redesenhando cadeias produtivas nos EUA, Ásia e Europa. Embora o Brasil não integre formalmente esse eixo, o recuo tarifário é visto como sinal de que os Estados Unidos precisam de fornecedores agrícolas robustos para garantir abastecimento e conter pressões inflacionárias.
Exportadores brasileiros estão entre os principais beneficiados. Produtores de café esperam margens maiores em um mercado que consome mais de 1,5 milhão de toneladas por ano. Indústrias de cacau e sucos projetam menor volatilidade e liberação mais ágil nas alfândegas. Pecuaristas veem aumento de competitividade num momento em que o rebanho americano vive baixa histórica. Empresas de fertilizantes também antecipam expansão de mercado, em um setor amplamente dependente de importações.
Do lado americano, o impacto sobre produtores domésticos é limitado, já que a maioria dos itens não é cultivada em escala significativa no país. Indústrias alimentícias, redes de restaurantes e fabricantes de bens embalados devem sentir alívio nos custos de produção — um efeito que pode chegar ao consumidor por meio de preços mais estáveis para produtos tropicais.
Fonte: Brasil 247