
Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco.
Um dos maiores especialistas do setor sucroenergético, o presidente e CEO da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, afirmou que o consumo de etanol pode aumentar globalmente 9,2 vezes a partir dos usos projetados para biocombustíveis sustentáveis, como o biobunker – que vai substituir o bunker, um combustível usado por navios -, os bioplásticos e a rota do etanol da qual se pode extrair o hidrogênio. A informação fez parte da palestra “Quo Vadis: Rumos do Setor Sucroenergético do Brasil” apresentada por Plínio Nastari com a mediação do presidente do Grupo EQM e do Movimento Econômico, Eduardo de Queiroz Monteiro.
“Acredito que a rota que está mais pronta para se desenvolver é a substituição do bunker fóssil marítimo por biobunker”, comentou Nastari. Somente para o leitor ter ideia, a produção global, por ano, de etanol é de 89 milhões de toneladas. O bunker significa um mercado de 225 milhões de toneladas.
O executivo cita que “10% desse mercado”, corresponde 22,5 milhões de toneladas, o que vai representar “25% de aumento sobre o mercado que existe hoje. É um mercado enorme”. E as empresas já estão investindo para fazer a fabricação do biobunker. O Porto de Suape vai receber duas fábricas de e-metanol: uma da European Energy e a outra da GoVerde. A primeira vai usar o CO2 biogênico produzido pelo setor sucroenergético como um dos insumos para a produção de emetanol,que vai substituir o óleo bunker fóssil usado nos navios.
E as grandes companhias marítimas estão procurando soluções que contribuam para a descarbonização do setor. “São aplicações que vão ter muita relevância e que vão ser capazes de absorver toda a a incerteza que existe no setor sobre aonde colocar a produção adicional que está vindo por conta da expansão do etanol de milho”, conta Nastari.
O executivo argumenta que o biobunker será o primeiro desses novos produtos que deve se concretizar e talvez seja o que vai se desenvolver de uma forma mais rápida.
O combustível sustentável de aviação, o SAF, tem um potencial de 360 milhões de toneladas de etanol equivalente, segundo Nastari. Uma das rotas de fabricação do SAF usa o etanol. “No caso do SAF, você precisa de investimento bilionário para construir as plantas de SAF. Então, ele vai se desenvolver porque a aviação também precisa descarbonizar, mas é um processo que depende de investimento para que se materialize”, comenta o executivo. Diagnóstico do mercado de etanol e de açúcar
Na sua palestra, Plínio fez um diagnóstico do mercado do setor sucroenergético, mostrando os pontos fortes, os fracos, as oportunidades e os riscos. O consumo mundial de açúcar cresce, em média, 1% ao ano, o que representa um acréscimo de 1,8 milhão de toneladas a 2 milhões de toneladas por ano. E o Brasil é o país que tem menor custo de produção. “Quem terá prioridade para atender esse aumento da demanda é o Nordeste”, explica Plínio, se referindo ao fato de que a região tem como “compensação” uma logística menor, porque as usinas estão mais próximas aos portos.
Segundo Plínio, a expansão do etanol de milho está mudando a escala do etanol no Brasil. Na safra 2025/2026, o país tem 25 plantas de etanol de milho em operação, com capacidade instalada de 11,14 bilhões de litros, além de 18 unidades em construção e 19 projetos, que podem adicionar até 13,5 bilhões de litros ao sistema produtivo nos próximos anos. Quando todos eles estiverem em operação, vão produzir 24,72 bilhões de litros de etanol por ano.
“O déficit histórico de etanol no Norte e Nordeste tende a desaparecer com a nova geografia da produção, mais distribuída territorialmente”, afirmou Nastari. Está havendo uma grande expansão do etanol de milho no Centro-Oeste e também há a previsão de novas plantas na Bahia, além das unidades que já estão em operação no Maranhão e Alagoas.
O Fórum Nordeste 2025 é a 14ª edição do evento que consolidou-se como espaço estratégico para articulação em torno da transição energética. O evento contou com seis painéis com temas relacionados ao setor sucroenergético nesta segunda-feira (1º) no Mirante do Paço, no Bairro do Recife.
Muito prestigiado, reuniu empresários de vários estados, academia, políticos, representantes do setor financeiro e contou com a presença da governadora Raquel Lyra, os três senadores de Pernambuco: Fernando Dueire, Humberto Costa, Teresa Leitão; os ministros Frederico Siqueira (Comunicações), Renan Filho (Transportes), Sílvio Costa Filho (dos Portos e Aeroportos), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), o prefeito do Recife, João Campos, e pelo menos seis deputados federais, além de especialistas nos assuntos abordados.
O Fórum é uma realização do Grupo EQM com o apoio técnico do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) e tem o patrocínio do Banco do Nordeste, Suape, FMC, Sudene, Copergás e Neoenergia, além do apoio do Governo de Pernambuco, Prefeitura do Recife, Fertine e NovaBio.
Por Ângela Fernanda Belfort
Fonte: Movimento Econômico