Etanol de milho ganha protagonismo na matriz energética e pode responder por metade da produção até 2030

Colheita do milho — Foto: Mauricio Tonetto / SecomRS

O crescimento da produção de etanol de milho e sua relevância estratégica para a matriz energética brasileira foram temas centrais do Fórum Nordeste 2025, promovido pelo Grupo EQM, em Recife. O debate reuniu representantes da indústria, entidades setoriais e executivos para discutir perspectivas de expansão, desafios regulatórios e a consolidação do biocombustível como vetor da transição energética.

No painel “Um overview da produção de etanol de milho no Brasil”, o vice-presidente Comercial da Inpasa Brasil, Gustavo Mariano, destacou que o país já figura entre os líderes globais no setor. Segundo ele, a produção de etanol de milho alcançou 7,6 bilhões de litros em 2024, representando 19% do total nacional, enquanto o etanol de cana respondeu por 29,7 bilhões de litros.

“O Brasil está na vanguarda desse mercado. Além do esforço interno, temos obtido avanços significativos em fóruns internacionais, como na Organização Marítima Internacional (IMO), com apoio decisivo da Marinha do Brasil”, afirmou Mariano.O presidente-executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, que mediou a discussão, reforçou a natureza complementar do setor em relação à cana-de-açúcar. “O milho entrou justamente para suprir períodos de entressafra da cana, garantindo o cumprimento da mistura obrigatória de etanol na gasolina”, explicou.

A expansão também permitiu avanços em políticas públicas, como o programa Combustível do Futuro e o aumento da mistura de etanol de 27% para 30% na gasolina. “Esse suprimento adicional do milho é fundamental para a transição energética”, completou Nolasco.

Mariano ressaltou ainda o potencial do etanol de milho para conquistar novos polos consumidores, em especial em regiões onde a gasolina é predominante. “O objetivo é ampliar a substituição do ciclo Otto pelo etanol hidratado, enriquecendo ainda mais a matriz energética”, disse.

Processo produtivo e eficiência industrial

O etanol de milho segue um processo industrial em quatro etapas: moagem do grão, liberando o amido; hidrólise do amido, na qual enzimas o convertem em açúcares fermentáveis; fermentação do açúcar, transformando-os em etanol bruto pela ação de leveduras e destilação, que separa o etanol dos demais componentes, resultando no produto final.

Esse modelo permite alto aproveitamento energético e geração de coprodutos, como DDG (grãos secos de destilaria), destinados à nutrição animal, fortalecendo o vínculo com a pecuária.

Desafios regulatórios e perspectivas

O presidente do Sindalcool – PB, Edmundo Coelho Barbosa, chamou atenção para a necessidade de educar o consumidor. “Hoje, apenas cerca de 20% da frota utiliza etanol de forma contínua. É preciso conscientizar o público sobre a importância ambiental e econômica dessa opção”, afirmou.

Já Hugo Cagno Filho, presidente da União Nacional da Bioenergia (UDOP), alertou para os riscos de crescimento acelerado. Segundo ele, a produção de etanol de milho pode alcançar, em apenas cinco anos, volumes próximos aos da cana, o que exigirá ajustes na capacidade das usinas. “O cenário é promissor, mas traz desafios sérios de oferta e logística”, disse.

O setor aposta que, mantido o ritmo de expansão, o etanol de milho poderá responder por até metade da produção nacional de etanol até 2050. Para isso, defendem estabilidade regulatória, incentivos fiscais e financiamento competitivo.

“O desafio está em equilibrar competitividade, atrair capital privado e ampliar a penetração no mercado interno e externo. O etanol de milho é peça-chave da neoindustrialização verde do Brasil”, concluiu Nolasco.

Redação com informações da Folha de Pernambuco.

Fonte: CanaOnline