
Agrishow: mais oportunidade de negócios — Foto: Thiago de Jesus
Por Isadora Camargo
Um reduto de mímicas e celulares com tradutores automáticos é o que caracteriza o primeiro pavilhão chinês da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). No local, brasileiros falam mais alto ou pausadamente tentando se fazer entender em encontros com representantes comerciais de 60 empresas chinesas, que participam do evento, a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, para vender itens como peças para colheitadeiras, câmeras de segurança, bags e mangueiras de irrigação.
De outro lado, os sotaques chineses dão o ritmo musical ao espaço. Segundo Neeson Cheng, gerente da Wanfair, empresa que cuida do pavilhão na feira, essa é uma oportunidade de estreitar as relações bilaterais. Para ele, as tarifas globais, em especial as impostas pelo presidente americano Donald Trump, só reforçam os laços entre China e Brasil.
Cheng já esteve na Agrishow há 15 anos, mas de forma tímida, para conhecer o mercado brasileiro. Agora, ele faz a intermediação na relação entre o governo chinês e os expositores, cuidando da recepção das empresas no Brasil. O número de companhias chinesas chama a atenção: são 60 em um universo de 800 expositores na feira.
O interesse de marcas chinesas, afirmou ele á reportagem, aumentou muito nas últimas décadas. “O Brasil é cada vez um dos parceiros mais importantes da China, e estar na feira é poder se apresentar para quem vai importar nossas tecnologias”, disse.
E o pós-venda?
Nos corredores do pavilhão, brasileiros questionam funcionamento e rentabilidade e como fica a assistência técnica no caso de essas máquinas e equipamentos terem alguma falha. Na terça-feira (29/4), um dos brasileiros interessados era Rogério Chiabai, que é engenheiro agrônomo e produtor de café conilon em Nova Venécia (ES). Em busca de mangueiras de irrigação, o cafeicultor disse que ainda não fechará negócios com os chineses por receio de enfrentar dificuldades no pós-venda.
“O medo é comprar um contêiner e dar algum problema. O pós-venda vai ser um desafio. Por isso, vou levar catálogos, pesquisar e entender os negócios”, contou. “Os preços dos chineses são muito mais competitivos”.
O preço baixo também chamou a atenção do holandês Rich Pieterse, que mora em Pilar do Sul (SP) e está na Agrishow com a esposa, Rosângela de Paiva, para buscar maquinário para começar a plantar banana orgânica. “Quero fazer uma agricultura sintrópica, com sistema que reordena o solo com agrofloresta, e para investir nisso, preciso de maquinário barato. Nesse quesito, os chineses dominam”, afirmou.
Com preços competitivos, o pavilhão atrai a atenção de visitantes de outros países. É o caso do argentino Ricardo Marchetti, que está na feira pela segunda vez. Neste ano, ele estava em busca de câmeras para instalar em colheitadeiras. Ele encontrou o que precisava no pavilhão chinês e vai fechar negócio.
Segundo Marchetti, com a aquisição, ele poderá usar uma tecnologia para combater incêndios em lavouras a ser lançada pela indústria da qual é dono, a PR Anso Agrocomercial.
Relacionamentos
Quem caminha entre os estandes das empresas chinesas ouve constantes convites para cafés e até para provar iguarias da China. Jia Luhua, representante da empresa de tratores de Taian, no norte da China, espera ampliar os negócios no Brasil, que hoje representam de 2% a 3% da Tavol, empresa que atua em 24 países. Ele disse à reportagem que não espera aumentar ou fechar negócios na feira, mas iniciar relacionamentos.
Para a empresa de implementos para tratores Luoyang Shengyuan, uma das maiores do segmento no mercado chinês, participar da Agrishow a ajudará a encontrar um distribuidor de confiança no Brasil, onde ela ainda não atua. “Em dois dias de feira, já fizemos muitas reuniões com distribuidores, que vão assegurar a entrada de implementos com os mesmos preços que se pratica na China”, disse Han Yiwei, um dos executivos da empresa.
O pavilhão chinês quer atrair companhias brasileiras para um comércio “B2B”, entre empresas, como representantes de distribuição no Brasil que facilitem as tratativas com os produtores brasileiros, observou Neeson Cheng.
Fonte: Globo Rural