
Por Vera Ondei
A ampliação da utilização do etanol de milho como combustível preferencial nas bombas dos postos está diretamente ligada à estrutura fiscal dos Estados. Essa é a visão de José Odvar Lopes, chamado de “Zé” Lopes no setor do agro,e que é o presidente e fundador da Inpasa a maior produtora de etanol de milho da América Latina, com operações no Brasil e Paraguai. No ano passado, a empresa processou 8,3 milhões de toneladas de milho de segunda safra e produziu 3,7 bilhões de litros de etanol, quase metade do volume brasileiro. Em 2024, o Brasil produziu 7,7 bilhões de etanol a partir do cereal.
Em entrevista exclusiva à Forbes Brasil, Lopes afirma que o avanço da indústria está atrelado à política tributária dos estados para viabilizar o consumo interno e abrir novos mercados. Segundo o executivo, mais do que a cultura do consumidor, é o ambiente fiscal que define o ritmo da expansão.
“O que tem mais a ver é com a parte tributária. O usuário quer usar o produto mais barato. O problema do etanol hoje está na tributação”, disse à Forbes. A companhia também projeta entrar nos segmentos de combustível sustentável para aviação (SAF) e biocombustível marítimo, mas aguarda definições regulatórias.
No ano passado, a empresa registrou uma receita bruta de R$ 14,9 bilhões e destinou R$ 4,9 bilhões em investimentos, principalmente para ampliar sua capacidade produtiva. Segundo o empresário, a Inpasa tem conseguido avançar em estados que oferecem condições fiscais favoráveis. “No Maranhão, por exemplo, o governador foi muito pró-negócio, colaborou com a parte tributária. Todos os estados onde estamos hoje nos receberam com boa política fiscal”, diz ele.
Lopes se refere à unidade de Balsas (MA), um investimento total previsto de R$ 2,5 bilhões. A primeira fase está pronta e será inaugurada em julho, e o anúncio da segunda fase já foi feito, um empreendimento que está gerando 4,5 mil postos de trabalho direto e indireto. Serão processados 2 milhões de toneladas de milho. Os incentivos fiscais vieram por meio de uma lei, a de nº 10.690 de 2017, executada pela Secretaria de Indústria e Comércio (Seinc). A legislaçãodo Maranhão concede crédito presumido de ICMS e diferimento tributário a empreendimentos industriais que se instalam em regiões de baixo desenvolvimento, com contrapartidas sociais obrigatórias.
Segundo Lopes, esse ambiente tributário favorável foi decisivo: “O governador do Maranhão foi muito pró-negócio. Trouxe uma parte tributária muito boa para nós, afirma. “Os estados produtores entendem os benefícios e consomem. Já os importadores muitas vezes preferem a gasolina, que arrecada mais tributo. Isso precisa mudar”, se referindo às ações dos governos estaduais.
Nos investimentos da Inpasa estão incluídas a conclusão das fases três e quatro da unidade de Sinop (MT), hoje considerada a maior usina produtora de etanol do mundo, mas a construção de uma fábrica em Sidrolândia (MS) e o início dos trabalhos da unidade em Luiz Eduardo Magalhães (BA).
Por causa do aumento estimado da produção, embora ainda haja entraves regulatórios, Lopes diz que a Inpasa já projeta atuação em dois segmentos estratégicos: o SAF (Sustainable Aviation Fuel) e os biocombustíveis para transporte marítimo. “O SAF já esteve mais próximo. Hoje, com a política energética dos Estados Unidos mais voltada para o petróleo, houve um distanciamento. Para o SAF avançar, é preciso que os países estabeleçam mandatos de uso. Sem isso, não há escala de consumo”, afirma.
Ele acrescenta que a Inpasa tem capacidade técnica para produzir SAF até em menor escala e mais rapidamente, mas a ausência de políticas públicas específicas adia sua viabilidade comercial. “A partir de 2030, acredito que os mandatos virão. Isso vai abrir um novo mercado.”
Sobre o biocombustível para navegação ele vê um caminho semelhante, atrelado à pressão internacional por combustíveis de menor emissão de carbono. “É um mercado para o futuro, mas com alto potencial de impacto ambiental e logístico. Estamos atentos a isso”.
Fonte: Forbes